Um milagre
- Uma esmola pelo amor de Deus!
Era com essa frase comovente que o menino Sebastião de Paula, paralítico das pernas estendia as mãos aos transeuntes, implorando um auxílio para sua manutenção. O pobre paralítico não podia fazer nenhum movimento com as pernas, e só se locomovia quando apoiado às costas de seu irmão. O povo já o conhecia muito e o estimava. Todos se compadeciam de sua triste situação.
Mas a cidade era pequena e o menino não podia colher esmolas suficiente para viver. Foi então que um amigo o aconselhou.
- Aqui não dá nada, Sebastião. Se eu fosse você, eu iria a Queluz. Lá há mais gente e você conseguirá mais dinheiro.
O infeliz aceitou o conselho e arrastou sua desgraça até esse local, onde começou a pedir esmolas.
Numa das ruas da cidade Sebastião prosseguia seu triste trabalho, suplicando sempre:
- Uma esmola pelo amor de Deus.
O bondoso sacerdote deu-lhe uma esmola e parou para conversar.
- Por que você pede esmolas, menino?
- Porque não posso- trabalhar para viver.
- O que é que você tem!
- Eu... eu sou paralítico das pernas. Não posso andar, seu padre.
- Ah! É uma pena. Tão criança... Você não acredita em Nossa Senhora Aparecida!
- Como não, seu padre! Sempre fui bom católico... Graças a Deus.
- Aceite o meu conselho, menino... e procure curar essa moléstia.
- Mas seu padre! O doutor disse que não tem cura. Eu já procurei curar. Não posso mesmo andar.
- Não estou falando de médicos. O que os homens não fazem talvez Deus o faça.
Não custa nada tentar... E por que não tentar... ?
- Se o senhor acha que dá resultado, eu farei.
- Menino, disse o sacerdote. Muita gente tem conseguido verdadeiros milagres com promessas. Por que você não experimenta fazer uma! Não custa nada, meu filho... Nossa Senhora Aparecida é muito milagrosa...
- Está bem, seu padre... Muito obrigado. Deus lhe pague pelo conselho e pela esmola também. Deus lhe pague, seu padre.
O padre se afastou e logo chegou o irmão do menino.
- O que aquele padre estava falando com você!
- Ele me deu uma esmola e me aconselhou a fazer uma promessa à Nossa Senhora Aparecida, para que ela me cure.
- Será que dá resultado? Ela ê muito milagrosa. Mas você já visitou tantos e tantos médicos, não é mesmo!
- Sim. É verdade.
- Mas em todo caso, não custa nada tentar. Dizem que precisa ter fé.
- Eu tenho fé, retrucou Sebastião. Eu sempre tive fé em Nossa Senhora Aparecida.
- Você tem muita vontade de andar, não é Sebastião!
- Se tenho... Você não pode imaginar como é triste ficar encostado num canto vendo tanta gente andar... E eu sempre me arrastando encostado em você... É muito triste, meu irmão... Muito triste mesmo...
Sebastião fez a promessa e intimamente pediu com muito fervor à Nossa Senhora Aparecida, a graça de poder caminhar.
Naquela noite nem teve tempo de contar a quantidade de esmolas conseguidas com sua mendicância. Foi para o leito e pediu ardorosamente à Nossa Senhora Aparecida a graça de poder andar, fazendo uma promessa.
Os dias foram passando, e já no terceiro dia, Sebastião sentiu que podia fazer movimentos com os pés. Nada disse ao irmão, com medo que fosse um falso alarme. No dia seguinte também experimentou, e conseguiu caminhar alguns passos. Quase não cabia em si de contentamento... Experimentou mais algumas vezes e notou deslumbrado que podia andar... Quando seu irmão o viu caminhando, mal pode crer no que seus olhos viam. Sebastião andava. O pobre paralítico estava radicalmente curado.
Fora um grandioso milagre de Nossa Senhora Aparecida, a grande Padroeira do Brasil, mãe de todos os infelizes que dirigem a Ela preces fervorosas.²
.²JORGE, Fred. Aparição e milagres de Nossa Senhora Aparecida. São Paulo. 1954