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Jesus Cristo


As Cinco Chagas do Senhor
 
AUTOR: IR. EURICO MONTEIRO, EP
 
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O primeiro ato de adoração às Santas Chagas foi realizado por Maria Santíssima, quando desceram Jesus da Cruz. De São Tomé até nossos dias, muitos foram os devotos e propagadores desta belíssima devoção.

Jesus é descido da Cruz. Cuidadosamente, Nicodemos, José de Arimatéia e São João O conduzem até Maria Santíssima e O depositam em seu virginalíssimo regaço. Sentada, Ela O acolhe transida de dor e O adora. Enquanto as Santas Mulheres preparam os bálsamos com que em breve irão ungi-Lo, para ser depositado no sepulcro, Ela oscula, uma a uma, suas Chagas: a do peito rasgado, as dos divinos pés e mãos. Realiza- se ali o primeiro ato de devoção e adoração às Chagas do Redentor, que iria perpetuar-se por todas as gerações. A Bem-Aventurada por excelência rende o mais perfeito culto de latria às fontes sagradas de onde jorrou o Sangue que redimiu total e superabundantemente todo o gênero humano.

As cinco fontes de graças infinitas

Por causa daquelas Santíssimas Chagas, Ela fora preservada do pecado original e aos homens de boa vontade abriram-se as portas do Céu. Cinco fontes de graças infinitas, plenas de formosura, saciando a santidade das almas contemplativas, missionárias e apostólicas, selando a coroa de glória dos mártires e as vitórias de todos os tempos. Eis o manancial que nos purifica no Batismo, nos revivifica na Eucaristia e dá fecundidade a toda a Santa Igreja, nos seus sacramentos. Eis a santa argamassa que, ligada aos sacrifícios dos homens, erguerá os mais belos monumentos e poemas da Civilização Cristã.

“Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Aproxima a tua mão e mete-a no meu lado”. Poucos dias após a ressurreição, é o próprio Redentor que convida o incrédulo Tomé a ter devoção às suas Santas Chagas. Já deslumbrado, ele respondeu-Lhe: “Meu Senhor e meu Deus!” As tíbias almas que dificilmente se deixam convencer, a progênie dos cépticos, a própria incredulidade, quase se diria, sucumbiram no instante mesmo em que aquele feliz e invejado Apóstolo introduziu seu dedo no lado de Jesus.

São Francisco de Assis, Santa Gemma Galgani, São Pio de Pietrelcina – enfim, uma legião de santos e almas virtuosas – foram galardoados com os estigmas da Paixão de Cristo. É um modo maravilhoso de Ele condecorar alguns daqueles a quem mais ama, na face da terra. É seu invisível e puro amor tornado visível em seus prediletos, para perpetuar na memória dos homens a bem-aventurança daqueles que acreditam sem terem visto e tocado as Chagas do Senhor, como Tomé.

A devoção às Santas Chagas é muito antiga

A devoção às Santas Chagas não é privilégio apenas de algumas almas, mas o é também de nações. Em Portugal, por exemplo, ela é muito antiga e marcou profundamente a piedade dos fiéis, quase desde os alvores da nacionalidade. Camões, em seu imortal poema, “Os Lusíadas”, na dedicatória ao rei Dom Sebastião, registra em versos essa antiga e piedosa tradição, gravada também na bandeira nacional e no escudo heráldico da Casa Real:

Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele para si na Cruz tomou.

A devoção às Chagas de Jesus Cristo, sinais amorosos de seu martírio e, posteriormente, de sua glorificação, aperfeiçoam em nós a gratidão, que leva a pagar amor com amor, até o holocausto total, por Deus e pelos irmãos. Adoremo-las profunda e devotamente nesta Semana Santa.

Hino às Santas Chagas do Senhor

Cinco fontes de graças infinitas,
Ó Chagas, cheias de alta formosura,
Aceitai a tensão humilde e pura
Das palavras que digo e tenho ditas.

E quantas na minha alma têm escritas
Mil culpas feias, com mão feia e dura,
Curai com vossa graça e com brandura,
Ó Chagas d’meu Senhor, Chagas benditas.

No sacro Sangue que de Vós correu
Se cure; e lave e gaste e purifique
As nódoas que com dor nelas estou vendo.

Por vós, que belas sois, formosa fique,
Por vós resplandecente entre no Céu,
Onde vos veja estar resplandecendo.

(Liturgia das Horas, festa das Cinco Chagas: Hino do Ofício das Leituras) (Revista Arautos do Evangelho, Abril/2007, n. 64, p. 32-33)

 
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