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Espiritualidade


Rosa ou tulipa?
 
AUTOR: IR. JOSÉ ANTONIO DOMINGUEZ, EP
 
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Curioso paradoxo do destino... Da renúncia de Bento de Núrsia à civilização de seu tempo, nasceu a mais esplendorosa civilização da História.

Está convidado, leitor! Quando for visitar a nossa igreja, em Roma – San Benedetto in Piscinula – não recuse a oportunidade de tomar, no bar contíguo, um delicioso “cappuccino”, versão italiana e requintada de nosso caseiro café café-decorado.jpgcom leite. Talvez este convite lhe pareça pouco piedoso. Afinal, quem viaja a Roma vai em peregrinação, em espírito de oração, em vez de ir com a atenção posta em assuntos profanos… E é bem difícil ver uma relação, ainda que remota, entre esse simbólico templo e o “cappuccino” primorosamente servido, no estabelecimento vizinho.

Essa histórica igreja de Roma – confiada à solicitude pastoral de seu zeloso reitor, Mons. Angelo di Pasquale – ergue-se no lugar onde São Bento morou, quando era adolescente, para fazer seus estudos. Da casa original, conserva-se ainda uma parede de tijolos carcomidos pelo tempo e gastos pela veneração dos fiéis. Ali, naquele estreito local era o quarto onde dormia o estudante Bento de Núrsia.

Não é fácil imaginar hoje, na civilização da imagem, do computador e da velocidade, o modo de ser de um moço de há 1500 anos. Pois, em nossa época, a infância se prolonga pelos anos afora, adentrando-se, por vezes, até pela idade madura. Mas, naqueles tempos primitivos, a maturidade de espírito não esperava o pleno desenvolvimento físico do adolescente, para se manifestar. Era freqüente ver jovens, de muito pouca idade, desempenharem com desenvoltura funções de adultos, até mesmo no governo das nações. Quantos casos registra a História, de reis que subiram ao trono aos 14 ou 15 anos?

O jovem Bento viveu numa época de grande decadência moral e social, cujas conseqüências ele via com clareza. A corrupção dos costumes de Roma o horrorizava e contribuía para fazer dele um jovem sério, profundamente meditativo. Sem receio de errar, podemos imaginá-lo de temperamento sereno, trato afável e conversa atraentíssima. No entanto, é bem provável que ele não tenha conseguido reunir em torno de si verdadeiros amigos dispostos a segui-lo em seu ideal de santidade. Isso o levou a fugir de Roma, pois, se lá permanecesse, sua perseverança na fé correria sério risco.

Aqueles vetustos tijolos, que até hoje se conservam como relíquia venerável, na pequenina Igreja de San Benedetto in Piscinula, foram certamente testemunhas mudas das longas reflexões desse singular moço. Talvez tenham presenciado momentos de angústia, de incerteza, que precederam sua decisão de abandonar a civilização romana decadente, fazer-se eremita e viver só para Deus.

Curioso paradoxo do destino… Dessa renúncia à civilização de seu tempo, nasceu a mais esplendorosa civilização da História, a Europa cristã, da qual o Continente Americano é herdeiro. Os filhos espirituais de São Bento semearam todo ocafe-xicaras.jpg Ocidente com seus magníficos mosteiros, convertendo, assim, nações inteiras, salvando a cultura antiga, civilizando os bárbaros invasores e transmitindo a toda a sociedade um anseio de perfeição, requinte e beleza que, 1500 anos depois, ainda sobrevive. Até em detalhes tão minúsculos da existência quotidiana, como por exemplo, no modo de servir um delicioso “cappuccino”.

– Deseja uma rosa ou uma tulipa? – pergunta ao freguês o simpático garçom do bar contíguo à Igreja de San Benedetto in Piscinula.

– A rosa tem espinhos… prefiro uma tulipa!

E o garçom vai derramando lentamente o leite na xícara. Quando está quase cheia, ele, num movimento ágil, elegante e firme, desenha com a espuma do leite uma tulipa e apresenta ao cliente aquela singular e volátil obra de arte. É um pequeno detalhe de bom gosto que traduz um amor ao belo e um desejo de perfeição transmitidos por São Bento à Civilização Cristã. Seria capaz de supor, o jovem Bento de Núrsia, quando se refugiou na inóspita gruta de Subiaco, que sua heróica renúncia aos prazeres mundanos ainda produziria frutos 1500 anos depois? (Revista Arautos do Evangelho, Jul/2006, n. 55, p. 45)

 
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