Existe, na criação, uma série gradativa de seres, que vai desde os simples minerais até às substâncias puramente espirituais. Destes últimos não poderíamos saber a existência por nossa razão apenas, mas a conhecemos pela Revelação. São os Anjos.
A Bíblia está cheia da existência dos Anjos, os quais aparecem desde o princípio (ver cap. 3 do Gn). No Antigo Testamento eles aparecem impedindo que Abraão sacrifique Isaac, consolando Agar no deserto (ver caps. 16 e.22 do Gn), alimentando Elias (1 Rs 19), protegendo os 3 meninos na fornalha (Dn 3). E em muitas outras passagens. O Novo Testamento se abre com a presença do Anjo Gabriel anunciando a Zacarias o nascimento de João Batista, e a Nossa Senhora a Encarnação do Verbo (ver Lc 1). E enchem os Evangelhos até à Ascensão de Cristo. Nos Atos dos Apóstolos há várias aparições de Anjos (ver nos Evangelhos e nos Atos as aparições dos Anjos).
Os Anjos são puros espíritos. São substâncias puramente espirituais. Foram criados por Deus para existirem sem corpo. São as criaturas mais perfeitas, porque têm uma natureza mais semelhante à de Deus (puro espírito). São, portanto, superiores ao homem, o qual é composto de espírito e matéria (alma e corpo).
Não é só por isto que os Anjos são superiores ao homem. São superiores pela inteligência. Eles conhecem a Deus, os outros Anjos e homens, de modo intuitivo, sem precisar raciocinar, como nós precisamos. Conhecem os futuros necessários, efeitos que estão contidos necessariamente nas suas causas, mas não conhecem os futuros livres, que dependem da nossa vontade. Também não conhecem os segredos do nosso coração, salvo se dermos deles qualquer demonstração.
São superiores também pela liberdade e pelo poder. S. Pedro diz que “os Anjos são maiores pela sua força e seu poder” (2 Pd 2, 11). Os fatos o mostram. Um anjo matou de uma vez 185 mil soldados dos Assírios (Is 37, 36); outro arrebatou Habacuc pelos cabelos e o levou para Babilônia (Dn 1;4, 35).
Um Anjo não está em todo lugar, como Deus. Mas pode agir em vários lugares ao mesmo tempo, dentro da esfera do seu poder, assim como um homem pode tocar ao mesmo tempo em vários objetos ao alcance de suas mãos.
O que dizemos aqui dos Anjos, também se entende dos demônios.
SAIBA MAIS Meu Anjo da guarda, meu melhor amigo |
É grande o número dos Anjos. A Sagrada Escritura fala sempre do exército dos Anjos. Na sua prisão, nosso Senhor disse que podia pedir ao Pai e ele mandaria mais de 12 legiões de anjos em sua defesa (Mt 26, 53). O profeta Daniel, descrevendo o trono de Deus, diz que um milhão de anjos o serviam, e mil milhões o assistiam (Dn 7, 10).
Os Anjos estão divididos em 3 hierarquias, e cada uma delas em 3 coros. A primeira hierarquia é a dos que contemplam a Deus: Serafins, Querubins e Tronos. A segunda hierarquia se ocupa do governo do mundo: Dominações, Virtudes e Potestades. A terceira é encarregada de executar as ordens divinas: Principados, Arcanjos e Anjos (veja os “prefácios” das Missas).
Antes de confirmar os Anjos na graça, Deus os submeteu a uma prova. Quis o Senhor que eles tivessem mérito na felicidade que lhes reservava. Nem todos foram fiéis a esta prova. Alguns caíram, e foram imediatamente castigados por Deus, sendo precipitados no inferno. São por isso chamados anjos maus ou demônios.
Qual foi o pecado dos anjos maus? Parece ter sido a soberba, porque a Bíblia diz que “nela teve princípio toda perdição” (Tb 4, 14). O nome de são Miguel, que quer dizer “Quem como Deus?”, parece também indicar que os anjos rebeldes quiseram ser iguais a Deus.
São João descreve, no Apocalipse, a grande batalha, em que são Miguel e os seus anjos venceram a Lúcifer com os dele, tendo estes sido precipitados do céu, onde não há mais lugares para eles (ver Apoc 12, 7-12).
1) Tentação. Os demônios procuram, de muitos modos, levar-nos ao pecado, por meio da tentação. Foi o que aconteceu com os nossos primeiros pais, com Judas e com Ananias (ver Jo 13, 2, 27 e At 5, 3). Ao próprio Jesus o demônio tentou (Mt 4, 3-10). E são Pedro nos adverte de que ele vive “em torno de nós, como um leão que ruge, buscando a quem devorar” (1 Pd 5, 8).
O demônio nenhum poder tem sobre a inteligência e a vontade do homem. Ele pode nos incitar ao pecado, mas não nos faz pecar: só pecamos se queremos. Mas ele pode agir diretamente sobre a nossa memória, imaginação e sobre os sentidos. Assim, mesmo contra a nossa vontade, podemos ter recordações e imagens más, e maus movimentos. E’ claro que não pecamos se não queremos estas coisas. Deus nos dá sempre a força necessária para nos conservarmos.
2) Obsessão. O demônio pode também atacar os homens corporalmente, ao mesmo tempo, em que os atormenta com graves tentações, na medida em que Deus permite. É o que se chama obsessão. Nestes casos, ele age sempre de fora (ver, sobre isto, o Livro de Jó).
3) Possessão. Mas, na possessão, o demônio entra para o corpo da pessoa, e se apodera dele, e aí fica usando dos seus sentidos e membros, produzindo atos insólitos e maravilhosos. O Ritual Romano, dando as orações próprias para o exorcismo do demônio nestes casos, dá os sinais da possessão: “falar língua desconhecida, revelar coisas ocultas e distantes, mostrar força superior à idade e condição”, etc.
Os Evangelhos dão vários casos de possessão, em que o demônio maltrata os sujeitos, seja tirando-lhes a vista, a audição e a fala, seja os submetendo a tormentos corporais (ver os casos de possessão nos Evangelhos).
4) Astúcias. Inimigo da felicidade do homem, o demônio tem feito tudo para nos privar do bem. Um olhar pela história mostra os seus esforços para destruir a religião, a verdadeira liberdade, a civilização cristã, a paz, a moral, etc. Apodera-se dos grandes inventos (imprensa, cinema, rádio, aeroplano, etc.) para transformá-los em instrumentos do mal. Uma das maiores astúcias do demônio é apresentar o mal com um aspecto agradável, dando-lhe nomes atraentes como civilização, progresso, evolução dos tempos, e outras e fazer tudo isto de maneira a não se descobrir que é ele que está agindo.
Para nos defender de todos os males do corpo e da alma, principalmente das tentações e perigos do demônio, Deus nos confiou a um Anjo, que costumamos chamar o Anjo da Guarda. A Bíblia mostra muitas vezes os Anjos protegendo e defendendo os homens. E Jesus disse, falando das crianças: “Os seus Anjos veem sempre a face do Pai (Mt 18, 20) (ver o Livro de Tobias, todo ele cheio da assistência do Anjo são Rafael ao moço). […] É ensino comum que também as comunidades têm os seus Anjos da Guarda. […] Também as nações, as dioceses, as comunidades religiosas e outras instituições de muito vulto terão os seus Anjos da Guarda.
O meu destino é o mesmo dos Anjos: amar e louvar a Deus, eternamente, no céu. Para isto, tenho de viver uma vida igual à dos Anjos: amar e servir a Deus. Ser santo é meu dever.
Para isto sou ajudado constantemente pelo meu Anjo da Guarda. Não desprezarei este auxilio. Atenderei às boas sugestões, para segui-las; encomendar-me-ei aos seus favores junto de Deus; lembrar-me-ei sempre da sua presença, para não fazer nada que lhe desagrade.
Nas tentações não me esquecerei de pedir-lhe que venha em meu auxílio: ele ajudou a vencer o anjo rebelde que me tenta. Mas também não facilitarei com o demônio, a quem procurarei vencer pela vigilância e pela oração: “Vigiai e orai”…
No meu batismo renunciei a Satanás e a tudo o que lhe pertence, para me consagrar a Jesus Cristo. Agora, Satanás não descansa: quer reconquistar a minha alma, destruindo a vida sobrenatural, o estado de graça. Para não recair no poder do demônio, me confessarei amiúde, serei assíduo à oração e à mortificação, e, principalmente, comungarei frequentemente. A Comunhão é o “pão’ dos Anjos”. Pela comunhão serei como os Anjos.
FONTE: A Doutrina Viva para o curso secundário, Pe. Álvaro Negromonte (Vozes, 2 ed, 1941), com adequação redacional e ortográfica.
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