São Luís Gonzaga nasceu em 9 de março de 1568, no castelo de Castiglione, Itália. Foi o primeiro filho de Dom Fernando Gonzaga, Marquês de Castiglione e Príncipe do Sacro Império, e de Dona Marta Tana, dama da Rainha Isabel de Valois. Muito agradava à marquesa ver quão bem seu filho assimilava, desde pequeno, suas maternais instruções de piedade. Seu pai, porém, se inquietava, pois temia que a devoção o desviasse da carreira das armas, à qual se destinavam os primogênitos.
Quando Luís tinha cinco anos de idade, o marquês recebeu ordem de partir para Túnis à frente de três mil homens da infantaria italiana e, devendo passar em revista as tropas na cidade de Casalmaior, levou-o consigo para acostumá-lo ao sabor das armas. Passou o menino lá alguns meses e, na convivência com a soldadesca, aprendeu algumas palavras indecorosas, as quais passou a repetir, sem saber seu significado.
De volta a Castiglione, foi repreendido por seu preceptor, e não apenas nunca mais proferiu tais palavras, mas manifestava grande enfado quando ouvia alguém pronunciá-las. Muito se envergonhou por essa falta e, quando já religioso, costumava contá-la para “provar” como fora mau desde criança.
Quando Luís fez nove anos de idade, Dom Fernando o levou, juntamente com seu irmão Rodolfo, para a corte do Grão-duque da Toscana. A Providência Divina utilizou esses dois anos em que ele viveu em Florença para fazê-lo progredir nos caminhos da santidade. A leitura de um livro sobre os mistérios do Rosário fez desabrochar em sua alma a devoção a Maria Santíssima.
Contribuiu também para tal a fervorosa devoção a Nossa Senhora da Anunciata, venerada nessa cidade. Tanto se lhe inflamou o coração pela Virgem que quis oferecer a Ela seu voto de virgindade.
As diversas virtudes já eram robustas em sua alma. Adquirira uma completa guarda dos sentidos, uma obediência total aos superiores, além de um profundo recolhimento de alma e elevação de espírito.
Deus rapidamente construía a bela catedral da alma de Luís, o qual, com a simplicidade de uma criança, deixava-se conduzir pelo Pai celestial. Tendo passado para a corte de Mântua, não só conservou os hábitos de oração, mas sublimou-os pelas práticas de mortificação. Obrigado pelos médicos a seguir uma dieta alimentar, para curar-se de uma enfermidade, tomou tal gosto pela penitência que, ultrapassando as receitas indicadas, entregou-se aos mais rigorosos jejuns. Considerava ter feito uma lauta refeição quando comia um ovo inteiro!
De volta ao solar paterno, foi cumulado de graças místicas extraordinárias. Quando se punha a considerar os atributos divinos, experimentava uma tão grande consolação que derramava lágrimas suficientes para empapar vários lenços. Algumas vezes ficava tão arrebatado que perdia completamente os sentidos exteriores. Sua mente estava toda posta no sobrenatural, e sobre as coisas de Deus versavam todas as suas palavras.
Em 1580, chegou a Castiglione o Cardeal Carlos Borromeu, Visitador Apostólico do Papa Gregório XIII. Muito se admirou o Cardeal por ver como aquele pequeno “anjo” discorria sobre os temas da Religião. No final de duas horas de conversa com ele, decidiu o Cardeal dar-lhe por primeira vez a Sagrada Eucaristia.
Aos treze anos de idade sentiu o chamado religioso. Por ser ainda muito jovem, nada comunicou a seus pais, mas redobrou suas austeridades. Aboliu o uso da lareira em seu quarto; levantava-se de madrugada e, de joelhos, rezava durante longo tempo, mesmo durante os rigores do inverno lombardo.
Cada vez mais inquieto à vista dos progressos do filho na trilha da piedade, o Marquês de Castiglione decidiu, para distraí-lo, dirigir-se com toda a família para Madri e colocá-lo como pajem do filho do rei Felipe II. Luís, entretanto, com a alma ancorada em Deus, permaneceu firme e resoluto em seus propósitos, no meio dos prazeres e honras da corte.
“Para qual ordem religiosa sou chamado?” – perguntava-se o jovem pajem. Optou pela Companhia de Jesus. Além da nobre função do ensino à qual esta se dedicava, motivou essa escolha o fato de os jesuítas serem proibidos, pela regra, de ascender a qualquer cargo, salvo se por ordem direta do Papa. Assim, renunciaria para sempre não só às honras do mundo, mas também às eclesiásticas.
Gritos de cólera e ameaças de açoites foi a resposta do marquês ao pedido de seu filho para entregar-se a Deus, na Ordem fundada por Santo Inácio. Usou de sua influência para conseguir que algumas altas dignidades eclesiásticas tentassem dissuadi-lo de sua vocação, ou ao menos fazê-lo entrar por um caminho que conduzisse às possíveis honras do cardinalato. Não tiveram sucesso maior que o das ondas furiosas do mar sobre a rocha. Pediu-lhe o pai, então, que esperasse a volta à Itália para decidir. Não podia se conformar em perder aquele filho tão dotado, no qual pusera toda a esperança da principesca casa dos Gonzaga.
Começou, então, um período de dois árduos anos de luta para conquistar a permissão paterna de abandonar tudo e seguir a Cristo. Foi a mais dura – e talvez a mais gloriosa – fase de sua vida. Essa luta encerrou-se com um episódio comovedor: certo dia o marquês, olhando pelo buraco da fechadura do quarto de seu filho, viu-o ajoelhado e se flagelando. Só então dobrou-se e lhe deu a tão almejada autorização.
“Que alegria quando me vieram dizer: vamos subir à casa do Senhor!” (Sl 121, 1). Chancelada pelo imperador a renúncia pública a seus direitos de filho primogênito, entrou Luís Gonzaga no noviciado da Companhia de Jesus, em Roma. Em todos os lugares por onde passou, o nobre religioso deixou atrás de si o suave aroma de suas virtudes. Despojou-se de tudo quanto podia lembrar sua antiga condição, buscando para si as humilhações e o último lugar. Chegava a enrubescer de vergonha ao ouvir elogios à nobreza de sua família.
Os noviços disputavam lugar a seu lado nas horas de recreação, pelo prazer de participar de suas elevadas conversas. E consideravam seus objetos pessoais como verdadeiras relíquias. No estudo de Filosofia e Teologia, mostrou-se tão sábio que defendeu, com aplausos, uma tese diante de três Cardeais e outras autoridades. Vendo seus superiores o valor da joia que tinham em mãos e, ao mesmo tempo, a fragilidade de sua saúde, multiplicaram os desvelos por ele. Recorreram em vão a uma mudança de ares, na esperança de que lhe faria bem. À vista do insucesso dessa terapêutica, o Padre Reitor deu-lhe ordem de, por um determinado período, não se deter em pensamentos elevados, pois talvez estes o estivessem prejudicando…
Permitiu a Providência esse equívoco para fazer brilhar mais ainda as qualidades de alma daquele “anjo”. Dessa vez a obediência, por ele tão amada, custou-lhe grandes esforços: sair de seu constante estado de oração – confessou a um de seus companheiros – era um enorme tormento, pois, mal se distraía, seu pensamento voava para a consideração dos mistérios divinos.
Em 1591, sua caridade para com o próximo encontrou uma ótima ocasião para expandir-se até o heroísmo: atender as pobres vítimas da peste que assolava a Cidade Eterna. Não tardou, porém, em ser ele próprio contagiado. Mas Deus, que decidira colher tão cedo este viçoso lírio, não quis levá-lo antes de ele espargir seus últimos perfumes. Três meses de uma febre ardente, aceita com total abnegação, encerraram os 23 anos de sua permanência na Terra.
Seu confessor, São Roberto Belarmino, afirmou que São Luís tinha levado uma vida perfeita e fora confirmado em graça. Mais tarde, declararia Santa Madalena de Pazzi, a propósito de uma visão que tivera da glória imensa da qual gozava no Céu este filho de Santo Inácio de Loyola: “Enquanto viveu, Luís manteve seu olhar sempre atento em direção ao Verbo, e é por isso que ele é tão grande. […] Oh! Quanto ele amou na terra! É por isso que hoje no Céu possui Deus numa soberana plenitude de amor”. Luís Gonzaga foi beatificado por Paulo V, em 1605, e canonizado a 13 de dezembro de 1726, por Bento XIII, quem o declarou padroeiro da juventude.
“No entardecer de nossa vida, seremos julgados segundo o amor”. É para esse amor, em uma entrega total, que Deus nos chama desde a juventude, tal qual o fez ao moço rico do Evangelho: “Vem e segue-Me!” (Mt 19, 21). Que a juventude atual – tão carente de modelos a seguir e tão confundida acerca do amor – não tome a atitude do moço rico, entristecendo-se por ter de desapegar-se das coisas do mundo, mas reencontre o exemplo de seu patrono, São Luís Gonzaga.
A isso a incentivou o saudoso Papa João Paulo II, dirigindo-se aos jovens de Mântua: “São Luís Gonzaga é sem dúvida um santo a ser redescoberto em sua alta estatura cristã. É um modelo indicado também à juventude de nosso tempo, um mestre de perfeição e um experimentado guia no caminho da santidade. ‘O Deus que me chama é Amor, como posso circunscrever este amor, quando para isto seria pequeno demais o mundo inteiro?’- lê-se em uma de suas anotações”.
Revista Arautos do Evangelho, Junho/2010, n. 102, p. 34 à 37.