Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Artigos


Voz dos Papas


Jesus, Maria e a pureza de coração
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
1
0
 

Mês de Junho, mês do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria. Tão unidos estão o Divino Salvador e sua Santíssima Mãe que São João Eudes fala de ambos como se fossem um só: o Sagrado Coração de Jesus e Maria. As belíssimas palavras de S. S. João Paulo II que reproduzimos em seguida são de uma homilia pronunciada pelo Santo Padre em Sandomierz, Polônia, em 12 de Junho de 1999. Ele fala da pureza que devemos cultivar nos nossos próprios corações, para caminharmos ao encontro de Maria e de Jesus.

1. “Sua Mãe disse-Lhe: ‘Meu filho, porque fizeste isto conosco? Olha que Teu pai e eu andávamos angustiados, à Tua procura'” (Lc 2, 48).

Hoje a Liturgia da Igreja recorda o Coração Imaculado da Bem-aventurada Virgem Maria. Dirigimos o nosso olhar para Maria que, cheia de solicitude e de preocupação, procura Jesus perdido durante a peregrinação a Jerusalém. Como devotos israelitas, Maria e José iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando Jesus tinha doze anos foi com eles pela primeira vez. Foi nessa ocasião que se verificou o acontecimento que contemplamos no quinto mistério gozoso do Santo Rosário, o mistério do encontro. São Lucas descreve-o de modo muito comovedor com base nas notícias, como se pode imaginar, recebidas da Mãe de Jesus: “Meu filho, porque fizeste isto conosco? (…) andávamos angustiados, à Tua procura”. Maria, que tinha trazido Jesus sob o seu coração e o tinha protegido contra Herodes fugindo para o Egito, confessa humanamente a sua grande angústia pelo Filho. Sabe que deve estar presente no seu caminho.
Sabe que mediante o amor e o sacrifício colaborará com Ele na obra da Redenção. Desta forma, entramos no mistério do grande amor de Maria para com Jesus, do amor que abraça com o seu Coração Imaculado o Amor inefável, o Verbo do eterno Pai.

(…)

2. No percurso da minha peregrinação através da Polônia acompanha-me o Evangelho das oito bem-aventuranças

Menino Jesus entre os doutores da Lei...............jpg
O mistério da perda e encontro do Menino
Jesus ilumina a grande procura de cada
homem por Deus
Igreja Sagrado Coração de Jesus, São Paulo

pronunciadas por Cristo no sermão da montanha. Aqui em Sandomierz Cristo dirige-se a nós: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8). Estas palavras introduzem-nos no profundo da verdade evangélica sobre o homem. Encontram Jesus aqueles que o procuram, como o procuravam Maria e José. Este acontecimento ilumina aquela grande tensão presente na vida de cada homem, que é a busca de Deus. Sim, o homem procura deveras Deus, procura-o com a sua mente, com o seu coração e com todo o seu ser. Diz Santo Agostinho: “inquieto é o coração nosso enquanto não repousa em Deus” (cf. Confissões, I). Esta inquietude é criativa. O homem procura Deus porque n’Ele, só n’Ele, pode encontrar o próprio cumprimento, o cumprimento das próprias aspirações à verdade, ao bem e ao belo. “Tu não me procurarias se já não me tivesses encontrado”, escreve Blaise Pascal acerca de Deus e do homem (Pensamentos, sec VII, n.555). Isto significa que o próprio Deus participa nesta busca, quer que o homem o procura e cria nele as condições necessárias, para que ele o possa encontrar. De resto, o próprio Deus aproxima-se do homem, fala-lhe de si, permite-lhe conhecer-se. A Sagrada Escritura é uma grande lição sobre o tema desta procura e deste encontro de Deus. Apresenta-nos numerosas e magníficas figuras daqueles que procuram e que encontram Deus. Ao mesmo tempo, ensina como o homem deveria aproximar-se de Deus, que condições deveria satisfazer para encontrar este Deus, para o conhecer e unir-se a Ele.

Uma destas condições é a pureza do coração. De que se trata? A este ponto tocamos a própria essência do homem o qual, em virtude da graça da redenção realizada por Cristo, readquiriu a harmonia no paraíso por causa do pecado. Ter um coração puro significa ser um homem novo, restituído à vida em comunhão com Deus e com toda a criação pelo amor redentor de Cristo, reconduzido à comunhão que é o seu destino originário.

A pureza do coração é, antes de mais, um dom de Deus. Cristo, ao doar-se ao homem nos sacramentos da Igreja, insere-se no seu coração e ilumina-o com o “esplendor da verdade“. Só a verdade, que é Jesus Cristo é capaz de iluminar a razão, de purificar o coração e de formar a liberdade humana. Sem a compreensão e a aceitação a fé extingue-se. O homem perde a visão do sentido das coisas e dos acontecimentos, e o seu coração procura a satisfação onde não a pode encontrar. Por isso, a pureza do coração é, em primeiro lugar, a pureza da fé.

Com efeito, a pureza do coração prepara para a visão de Deus face a face nas dimensões da felicidade eterna. Acontece isto, porque já na vida temporal os puros de coração são capazes de entrever em toda a criação o que é de Deus. São capazes, num certo sentido, de revelar o valor divino, a dimensão divina, a beleza divina de toda a criação. A bem-aventurança do Sermão da Montanha, duma certa forma, indica-nos toda a riqueza e beleza da criação e exorta-nos a saber descobrir em cada coisa o que provém de Deus e o que conduz a Ele. Por conseguinte, o homem carnal e sensual deve ceder, deve deixar o lugar ao homem espiritual, espiritualizado. É um processo profundo, em união com o esforço interior. Ele, apoiado pela graça de Deus, dá frutos maravilhosos.

Imaculado Corao de Maria...........jpg
A pureza de coração é um dom de
Deus e nos prepara  para vê-Lo
face a face  na  felicidade eterna

A pureza do coração é, portanto, dada ao homem como tarefa. Ele deve constantemente assumir a fadiga de se opor às forças do mal, às que pressionam do exterior e às que agem do interior, que o querem afastar de Deus. E, desta forma, no coração do homem combate-se uma luta incessante pela verdade e pela felicidade. Para vencer esta luta, o homem deve dirigir-se a Cristo. Só será capaz de vencer se estiver corroborado pela Sua força, pela força da sua Cruz e da sua ressurreição. “Ó Deus, cria em mim um coração puro” (Sl 50 [51], 12), exclama o Salmista, consciente da debilidade humana, porque sabe que para ser justo perante Deus, só o esforço humano não é suficiente.

3. Queridos Irmãos e Irmãs, esta mensagem sobre a pureza do coração torna-se hoje muito atual. A civilização da morte quer destruir a pureza do coração. Um dos seus métodos de agir é por intencionalmente em dúvida o valor da atitude do homem, que definimos como virtude da castidade. É um fenômeno de modo particular perigoso quando o objetivo são as consciências sensíveis das crianças e dos jovens. Uma civilização que, agindo desta forma, fere ou até aniquila uma relação correta entre os homens, é uma civilização da morte, porque o homem não pode viver sem o verdadeiro amor.

Dirijo estas palavras a todos vós que participais do hodierno Sacrifício eucarístico, mas dirijo-as, de maneira especial, aos numerosos jovens aqui presentes, aos soldados da tropa e as escoteiros. Anunciai ao mundo a “Boa Nova” da pureza do coração e, com o exemplo da vossa vida, transmiti a mensagem da civilização do amor. Conheço a vossa sensibilidade à verdade e à beleza. Hoje, a civilização da morte propõe-vos, entre outras coisas, o chamado “amor livre”. Neste gênero de deformação do amor chegamos à profanação dum dos valores mais queridos e sagrados, porque a libertinagem não é amor nem liberdade. “Não vos amoldeis às estruturas deste mundo, mas transformai-vos pela remoção da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, p que é perfeito” (Rm 12, 2), admoesta-nos S. Paulo.

Não tenhais medo de viver contra as opiniões da moda e as propostas em contraste com a lei de Deus. A coragem da fé tem um preço muito elevado, mas vós não podeis perder o amor! Não permitais que alguém vos torne escravos! Não vos deixeis seduzir pelas ilusões da felicidade, pelas quais deveríeis pagar um preço demasiado elevado, o preço de feridas por vezes incuráveis ou até duma vida despedaçada, da própria e do próximo!

Quero repetir a vós o que já disse, noutra ocasião, aos jovens noutro continente: “Só um coração puro pode amar plenamente a Deus! Só um coração puro pode levar plenamente a cabo a grande empresa do amor que é o matrimônio!

SAGRADO CORAAO JESUS_b............jpg
Anunciai ao mundo a “Boa Nova”
da pureza do coração; transmiti a
mensagem da civilização do amor”

Só um coração puro pode servir plenamente os demais (…) Não deixeis que destruam o vosso futuro, não deixeis que vos arrebatem a riqueza do amor! Assegurai a vossa felicidade, a das vossas famílias, que haveis de formar no amor de Cristo” (L’Ossertore Romano, Ed. Port. De 19/6/1988, pág. 14, n. 5).

Dirijo-me também às nossas famílias polonesas, a vós pais e mães. É preciso que a família assuma uma firme posição em defesa da salvaguarda as entradas da própria casa, em defesa da dignidade de cada pessoa. Preservai as vossas famílias da pornografia, que hoje invade sob várias formas a consciência do homem, especialmente das crianças e dos jovens. Defendei a pureza dos costumes nos vossos lares domésticos e na sociedade. Educar para a pureza é uma das grandes tarefas da evangelização que agora se nos apresenta. Quanto mais pura for a família, mas sadia será a nação. E nós queremos permanecer uma nação digna do próprio nome e da própria vocação cristã; “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8).

4. Fixemos o olhar na Virgem Imaculada de Nazaré, Mãe do Belo Amor, que acompanha os homens de todos os tempos, em particular dos nossos tempos, na “peregrinação de fé” rumo à casa do Pai. Ela é-nos recordada não só pela memória litúrgica de hoje, mas também pela magnífica Basílica-Catedral que domina esta cidade. Tem o seu nome: é uma coincidência eloqüente do lugar e do momento. Até a Mãe de Jesus, à qual foi revelado de maneira mais plena o mistério da filiação divina de Cristo, teve que aprender longamente o mistério da Cruz: “Meu filho, porque fizeste isto conosco? – recorda-nos o Evangelho de hoje – Olha que Teu pai e eu andávamos angustiados, à Tua procura’. Jesus respondeu: ‘Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devo estar na casa de Meu Pai?‘ Mas eles não compreenderam o que o Menino acabava de lhes dizer (Lc 2, 48-50). De fato, Jesus falava-lhes da sua obra messiânica.

5. Antes de compreender isto, o homem aprende “com o sofrimento do coração” o Amor crucificado. Mas se, como Maria, “medita tudo fielmente no seu coração” (cf. Lc 2, 51) tudo o que Cristo diz, se é fiel à chamada divina, compreenderá aos pés da Cruz, a coisa mais importante, ou seja, que é unicamente verdadeiro o amor em união com Deus, que é Amor.

(Revista Arautos do Evangelho, Junho/2002, n. 6, p. 18 à 21)

 
Comentários