A figura de São João de Capistrano é sem dúvida admirável. Ele representa de fato a imagem do asceta franciscano.
Vejamos alguns dados a seu respeito:
Pelo fervor de suas pregações, São João de Capistrano podia ser comparado a um leão que ruge.
Com efeito, seus exemplos confirmavam suas palavras. Viajava sempre a pé, carregando aos ombros os livros que utilizava.
Ademais, após longos e veementes discursos, exausto de fadiga, acreditava nada ter feito. Tomava logo seu alforje e ia mendigar seu pão de porta em porta. Enfim, suas mortificações eram extremas: alimentava-se apenas uma vez ao dia.
Em compensação, Deus fazia acompanhar a palavra de seu servo por milagres extraordinários. Assim, aonde chegava, auditórios imensos de até 150 mil pessoas se reuniam para ouvi-lo.
Desse modo, os frutos de seu apostolado foram incalculáveis: restabelecia a paz em cidades divididas e convertia os pecadores irredutíveis.
Contudo, São João de Capistrano viveu numa época em que os efeitos do Concílio de Trento ainda não se tinham feito sentir. O amor exagerado ao luxo tinha invadido os ambientes eclesiásticos. Isso foi aproveitado como pretexto pelos pseudo-reformadores do protestantismo.
Os sacerdotes daquele tempo davam-se com o que era antigamente a classe dominante, a nobreza; por isso, tanto quanto podiam, aspiravam levar uma vida de luxo e de pompa, imitando os grandes senhores feudais.
Por outro lado, muitos ingressavam no estado religioso sem possuir vocação autêntica e, com isso, degradavam o estado sacerdotal.
Contra essa forma de Revolução, os religiosos capuchinhos e franciscanos aparecem como contra-revolucionários por excelência.
Então, por onde passava, São João de Capistrano aparecia como a personificação da austeridade.
Isso constituía um tremendo contraste com toda aquela moleza.
Quando esses franciscanos ocupavam o púlpito faziam sermões tremendos. Eles diziam as verdades a todo mundo, increpando a moleza de vida e a luxúria em que estavam se afundando.
Vemos na história de São João de Capistrano auditórios de até 150 mil pessoas ouvindo-o.
Ele falava contra o luxo das mulheres, contra os vícios do povo. Era dito tudo e o povo acorria em grande quantidade para ouvir. Naturalmente, isso causava impressão. Mas entre causar impressão e causar conversão, a distância é grande. E São João de Capistrano muitas vezes não conseguia o resultado visado.
Porém, esta era ainda uma época onde os milagres se multiplicavam. Então, quando ele falava, os ratos vinham roer as plantas; a terra que tremia; endemoninhados repetiam aquilo que ele exigia. Portanto, ele alcança enormes resultados no púlpito.
Só de imaginar a oração de São João de Capistrano, um calor sobrenatural nos enche a alma.
A santidade torna o homem capaz de multiplicar-se por si mesmo e exceder os limites de suas possibilidades naturais
Vemos, em São João de Capistrano, como Deus é admirável nos seus santos! Nele vemos bem o que é a santidade.
Trata-se de uma graça excelente que toca a alma no que ela tem de mais profundo, proporcionando-lhe dons magníficos que excedem a simples natureza.
A graça a completa de tal maneira que o homem, como que, multiplica-se por si mesmo e fica muito superior a uma pessoa comum. Assim torna-se quase um Anjo; mas não somente um Anjo, ele fica uma figura do próprio Deus.
Christianus alter Christus. É Nosso Senhor Jesus Cristo dizendo as verdades, sacrificando-se, fazendo penitência, orando continuamente, visitando os pobres e produzindo milagres.
Temos, portanto, a figura de um grande contra-revolucionário em função dos aspectos da Revolução naquele tempo. Sua biografia nos enche a alma. Que São João de Capistrano reze por nós. (Plinio Correa de Oliveira – Conferência de 27/3/1967).