Já mencionei anteriormente as belas palavras com as quais o bem-aventurado mártir São Metódio exalta nossa amável Maria: “Salve, amoris Dei Patris thesaure – Salve, tesouro do amor de Deus Pai”. Parecem-me elas, entretanto, tão suaves e encantadoras para quem as pronuncia, e tão elogiosas à divina Virgem Maria, que eu gostaria de saudá-La incessantemente assim. E para excitar o mundo inteiro a homenageá-La da mesma forma, quereria percorrer toda a Terra proclamando e pregando que Maria, filha de Joaquim e de Ana, é o tesouro do amor do Eterno Pai.
Se alguém me perguntar que quer dizer isto, responderei que de quatro maneiras Maria é o tesouro do amor do Pai de misericórdia.
Imagem infinita da divina Bondade
Primeira: Maria é um tesouro que, conforme a opinião comum dos Santos Doutores, contém em si tudo quanto há de mais rico, mais belo, mais extraordinário, mais precioso e mais desejável, no Céu e na Terra, no tempo e na eternidade, na natureza, na graça, na glória e em todas as puras criaturas; e este tesouro, escondido desde sempre no amor e no Coração do Pai celestial e revelado por Ele aos homens apenas um pouco na plenitude dos tempos, é ainda agora e será eternamente mantido em segredo nesse mesmo Coração, muito mais oculto do que manifestado. Pois, sendo Mãe de Deus o significado de Maria – segundo a interpretação de Santo Ambrósio -, encontram-se tantas riquezas e tamanhas maravilhas nesse imenso tesouro da Maternidade Divina, que tudo quanto os espíritos humanos e angélicos dele conhecem pouco é em comparação com o que ignoram.
Não ouvis, porventura, Santo Agostinho exclamar que não existe coração capaz de concebê-las, nem língua capaz de exprimi-las? E Santo André de Creta, a dizer-nos que, a não ser Deus, não há quem possa louvar dignamente os milagres n’Ela operados por Ele próprio? Escutai São Bernardino de Sena, o qual nos anuncia que “da mesma forma como as perfeições da divindade são incompreensíveis a qualquer entendimento, assim as excelências e as graças que acompanham essa Divina Maternidade são tão eminentes que somente o espírito de Deus, e do Homem-Deus, e da Mãe de Deus, as pode compreender; e que, para predispô-La a esta alta dignidade, foi necessário elevá-La, por assim dizer, a uma certa igualdade com Deus, por uma certa infinitude de graças e de perfeições”.
Não é isto mesmo o que nos quer dar a entender Santo André de Creta, quando diz que “esta Virgem admirável é uma declaração, ou seja, uma expressão e uma imagem dos mistérios escondidos da divina Incompreensibilidade”? Não é também o que quer dizer São Tomás ao nos declarar que é “uma imagem infinita da divina Bondade”, ou seja, que representa infinitamente bem, com infinita perfeição, a imensa grandeza da divina Bondade? Não é, ainda, o que São Pedro Crisólogo pretende dar-nos a conhecer, quando diz que “a grandeza de Maria é de algum modo a medida da grandeza da imensidade de Deus, e que quem não conhece bem aquela não pode conhecer esta”? E pode-se com certeza dizer que a Maternidade Divina é a justa medida da onipotência divina, pois muito verdadeiro é que Deus – o qual bem pode fazer um mundo maior que este, um céu mais vasto, um Sol mais brilhante – não pode fazer uma mãe mais digna e mais nobre que a Mãe de um Deus.
Vedes, assim, como nossa divina Maria é um tesouro oculto no espírito e no Coração do Eterno Pai, pois somente Ele conhece seu preço e seu valor. Eis a primeira maneira pela qual a preciosíssima Virgem é o tesouro do amor do Pai sempiterno.
Maria é um tesouro que contém todos os amores do Eterno Pai
Para compreender bem a segunda, observai que no adorável Coração desse Divino Pai há três amores, os quais, contudo, não são senão um único amor: o primeiro é o amor infinito que Ele tem a seu Filho Jesus; o segundo é o incomensurável amor que Ele tem a seu Santo Espírito; o terceiro é seu ardentíssimo amor a todos os seus Anjos, todos os seus Santos e todas as suas criaturas.
Ora, a amabilíssima Maria é um tesouro que contém todos esses amores. Em primeiro lugar porque este Pai santo, olhando-A como Mãe de seu Filho – e como Aquela que, em consequência, não é senão uma mesma coisa, por assim dizer, com seu Filho, tendo ambos a mesma carne, o mesmo sangue, a mesma natureza, o mesmo espírito, o mesmo coração, a mesma vontade -, Ele A ama com o mesmo amor com que ama seu Filho. Não escutais este mesmo Filho que, falando de seus membros, isto é, de todos os fiéis, diz a seu Pai: “Vós os amastes, como amastes a Mim” (Jo 17, 23)? Se este Divino Pai ama de tal modo os servidores de seu Filho, quanto mais amará sua Mãe!
Em segundo lugar, considerando Maria como Aquela que, sendo Esposa de seu Santo Espírito, é consequentemente, de alguma forma, uma mesma pessoa com Ele, o Pai A ama com o mesmo amor com que ama este Divino Espírito, o qual é seu coração e seu amor.
Em terceiro lugar, o Pai A ama não só com o mesmo amor com o qual ama todos os seus Anjos, todos os seus Santos e todas as suas criaturas, mas, como Ela sozinha tem-Lhe mais amor que todos os Anjos e Santos juntos, também Ele tem por Ela incomparavelmente mais amor do que por todas as coisas que Ele fez. Assim, contém Ela em Si todos os amores do adorável Coração desse Divino Pai.
Em Maria o Pai depositou seu mais precioso tesouro: seu Filho bem-amado
Qual é a terceira maneira pela qual esta Virgem toda amável é o tesouro do amor do Eterno Pai? Ei-la. Deve-se considerá-La na qualidade que Lhe dá o Espírito Santo pela boca da Igreja e dos Santos Padres, chamando-A de “vaso de honra e de glória, vaso trabalhado pelas mãos da Sabedoria, vaso eleito de Deus, vaso de graça e devoção, vaso puríssimo e preciosíssimo, vaso de vida e de salvação, vaso de santificação, numa só palavra, vaso admirável”.
Ora, é neste vaso que o Eterno Pai depositou seu mais precioso tesouro, que é seu Filho bem-amado e o principal objeto de seu amor. Ele O colocou em seu seio virginal e em seu Coração maternal. Este tesouro infinitamente precioso permaneceu oculto durante nove meses nas sagradas entranhas de Maria, e esteve sempre e estará eternamente encerrado em seu maternal Coração. Reconhecei, pois, que Ela é o tesouro do amor do Eterno Pai.
“Meu Pai vos ama, porque vós Me amastes”
Quereis saber agora a quarta maneira pela qual a sacrossanta Maria é o tesouro do amor deste todo amável Pai? Lembrai-vos do que foi dito, que este Pai das misericórdias ajuntou e concentrou n’Ela todos os efeitos de bondade e de amor que saíram e sairão de seu paterno Coração, isto é, que Ele A encheu e cumulou de todos os dons, graças, favores, poderes, privilégios, perfeições, glórias e felicidades que Ele distribuiu a todos os seus Anjos e a todos os seus Santos. Motivo pelo qual Ela é chamada por São Pedro Damião de “tesouro de todas as graças de Deus”, e por Santo André de Creta de “santíssimo tesouro de toda santidade”.
Mais ainda, Ela possui todos os dons e graças de Deus não só para Si mesma, mas possui e dispõe de todos os tesouros e todas as riquezas da Santíssima Trindade para distribuí-los àqueles que a Ela recorrem para obter algum favor. Por este motivo, o Bem-aventurado Raimundo Jourdain A intitula “tesoureira das graças de Deus”; e São Boaventura diz ser Ela “uma riquíssima Mãe que tem a chave de todos os tesouros da Trindade Santíssima”.
É dessas quatro maneiras que nossa amabilíssima Virgem é o tesouro do amor do Eterno Pai. Sendo isto assim, quereis encontrar o tesouro dos tesouros, que é o Coração infinitamente amável desse Pai de amor? Recordai-vos destas palavras de seu Filho: “Onde estiver vosso tesouro, ali estará também vosso coração” (Lc 12, 34).
Procurai, portanto, em Maria esse Coração paternal, e n’Ela o encontrareis, pois Maria é o seu tesouro. Amai, servi e honrai Maria com todo o vosso coração, e ganhareis e possuireis inteiramente o Coração do Eterno Pai. Ele vos amará e abençoará de todas as formas, e Ela vos dirá, depois de seu Filho Jesus: “Meu Pai vos ama, porque vós Me amastes” (Jo 16, 27).
Todos devem exaltar a graça, a glória e o poder do nome de Maria
“Ó grande, ó generosa, ó laudabilíssima Maria”, exclama São Bernardo, “vosso santo nome não pode passar pelos lábios sem abrasar o coração. Aqueles que Vos amam não conseguem pensar em Vós sem sentir especial alegria e consolação. Vós nunca entrais sem doçura na memória daqueles que Vos exaltam”.
Coisa admirável! Segundo Santo Anselmo, acontece por vezes de alguém obter a salvação mais pela invocação do nome de Maria do que pela do nome de Jesus. Qual a causa disso? Será porventura Maria maior e mais poderosa que seu Filho Divino? Não, pois Ele não recebeu de Maria sua grandeza e seu poder; ao contrário, Ela é que os recebeu de Jesus. O motivo é que o Filho de Deus, sendo o Senhor e soberano Juiz, deve tratar a cada um de acordo com seus méritos e segundo as regras da justiça, a qual exige que as preces de um criminoso não sejam atendidas; quando, porém, este invoca o nome da Mãe, ainda que seus pecados o tornem indigno de toda graça, sua súplica é favoravelmente acolhida.
Ó Maria, afirma o abade Raimundo Jourdain, a Santíssima Trindade deu-Vos um nome que está acima de todos os nomes, exceto apenas o de vosso Filho. Nome a cuja pronunciação devem dobrar os joelhos todas as criaturas que estão no Céu, na Terra e no inferno. E todas as línguas devem proclamar e exaltar a graça, a glória e o poder do santo nome de Maria. Pois, depois do nome de vosso Filho, não há outro que seja tão poderoso para nos assistir em nossas necessidades, nem do qual devemos mais esperar os socorros necessários à nossa salvação. Mais do que todos os nomes dos Santos, vosso nome tem poder para confortar os fracos, curar os doentes, dar luz aos cegos, abrandar os corações endurecidos, encorajar aqueles que estão fatigados e desanimados, fortificar os combatentes, abater a tirania dos demônios.
Oh! Quem me dera poder gravar em todos os corações estas belas e santas palavras do venerável Tomás de Kempis: “O que faz tremer todo o inferno é o augusto nome da Rainha do Céu. Este venerável nome é o terror de todos os espíritos malignos. Estes o temem e dele fogem como de um fogo devorador; não ousam aparecer nos lugares onde refulge a luz deste belo nome, pois ele é um sol que expulsa todas as trevas infernais. Quereis derrotar e pôr em debandada todas as tropas diabólicas? Basta-vos pronunciar com devoção o terrível nome de Maria. Ele é um raio aterrorizante que as prostra, que num átimo as precipita nos abismos, que desfaz todas as tramas de sua malícia, reduz a nada todas as suas ciladas e dissipa todos os seus embustes. Quanto mais pronunciardes e invocardes afetuosamente este amável nome, com maior rapidez expulsareis para longe de vós esses cruéis inimigos de vossa salvação”.
Diz ainda o mesmo santo autor: “É este o motivo pelo qual o glorioso nome de Maria deve ser objeto da especial veneração de todos os fiéis. Depois de Deus, deve ele ser o primeiro e contínuo objetivo de seu amor e devoção. Devem amá-lo com ardor e ternura todos os religiosos e religiosas. Devemos recomendá-lo com insistência aos leigos. Devemos fazê-lo ressoar incessantemente aos ouvidos das pessoas aflitas. Enfim, é preciso invocá-lo em todos os perigos dos quais está repleta esta desditosa vida”. (Excertos da obra L’enfance admirable de la Très Sainte Mère de Dieu. Paris: René Guignard, 1676) – Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2016, n. 177, pp. 32 a 35)