Leia com atenção essa bela história, sobre um mistério numa praia deserta!
Eu caminhava pela praia sempre vazia, sobre uma areia branca e fina que contrastava com o mar: ora azul, ora verde como as asas de algumas borboletas tropicais. As águas estavam calmas e morriam nas margens, sem gemer, sem lamento, dir-se-ia docemente.
As sombras das casuarinas acariciavam o solo. Essas árvores às vezes davam a paisagem um sabor irreal. Parecem espadas que se lançam ao ar. Outras machucadas pelo homem ou pela natureza se espraiam seus galhos, semelhantes às galinhas que colhem seus pintainhos.
Foi debaixo de uma delas que sentei-me, para contemplar o panorama. Um silêncio envolvia-me. Só rompido por alguns pescadores que passavam levando às suas redes. Também eles pareciam-me silhuetas vivas desenhadas por hábil artista.
Sentia-me envolvido numa paz, numa alegria interior que harmonizava com o panorama. A satisfação de ser amado por Deus.
E perceber através das criaturas criadas por Ele, o mesmo bem estar.
Assim absorto, não percebi quando aquele grande navio aportou junto da margem. Era algo impossível de se dar. Não havia, lá, nenhum porto. Como poderia ter chegado essa misteriosa nau, junto da praia? Não pude pensar na resposta, pois também de imediato foram aparecendo figuras de homens e mulheres, jovens e velhos, moços e crianças. Todos faziam uma grande fila, tão grande que não parecia ter fim. Não paravam de chegar. Ordenados, sem bagagens, sem bens, de mãos vazias. Eles caminhavam, sem resistência, para a entrada do grande barco. Subiam um por um, em hora determinada, minutos e segundos determinados.
Eram muitos! Milhares, milhões: santos e pecadores, bons e maus, vítimas e réus, governantes e governados. E sem barulho, parecendo um rio caudaloso que corre lentamente, apresentavam-se junto daquele navio, que tinha em sua parte mais alta a inscrição: Eternidade! Uma viagem sem volta, em que não é necessário: passaportes, malas ou dinheiro. Do outro lado apenas o grande Tribunal da Justiça e da Misericórdia, onde nada passará despercebido do eterno Juiz…
A brisa da tarde apagou a visão misteriosa. Apenas as sombras das casuarinas continuavam a brincar com as águas do mar, onde há pouco parecia-me refletida aquela cena. Permaneceu em mim, uma ideia que encheu-me de gáudio: Há uma justiça eterna, de um Deus, que a seu tempo tudo, absolutamente tudo julgará e separará o bem do mal…
Por Lucas Miguel Lihue