No Evangelho escrito por São Marcos nos deparamos com o seguinte trecho: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8, 34).
À primeira vista, poderíamos ter um sobressalto com essa afirmação. De fato, absolutamente falando, abraçar o sofrimento e suportar as adversidades e provações não é fácil para ninguém. Há muitos cristãos que se transviam do caminho da virtude e desanimam… Entretanto, se confiassem no poder e na misericórdia infinitos do Sagrado Coração de Cristo Jesus, que possui tesouros incomensuráveis para distribuir a todos os homens, a prática da virtude seria mais estável e sólida. “Se a cruz de todos os dias lhes parece pesada, esquecem-se de que Jesus carregou primeiro a d’Ele, sem recuar, sem desfalecer, sem a largar à beira do caminho, mesmo quando caiu sob o peso dela…”1 Lemos ainda: “então O levaram para crucificá-lo [a Jesus Cristo]. Os soldados obrigaram alguém que lá passava voltando do campo, Simão de Cirene, […] a carregar a cruz” (Mc 15, 20-21).
Ora, “Jesus teve um Cireneu, que O ajudou a levar a cruz. Não nos esqueçamos de que nós temos um Divino Cireneu, que está disposto a todo o momento a nos ajudar a carregar a cruz: basta que lhe peçamos auxílio; basta ter confiança n’Ele”.2
Deste modo, exprimiu-se João Paulo II à humanidade, fazendo referência ao Sagrado Coração de Jesus: “Em seu Coração encontrará paz e descanso; ali, sua dúvida se transformará em certeza; a ânsia, em quietude; a tristeza, em alegria; a perturbação, em serenidade”.3 E prosseguiu: “Ali encontrará alívio para a dor, força para superar o medo, generosidade para não render-se ao envilecimento e para retomar o caminho da esperança”.4
Em uma das aparições a Santa Faustina Kowalska, Nosso Senhor lhe disse: “Fica sabendo, minha filha, que o meu Coração é a própria Misericórdia. Desse mar de misericórdia, derramam-se graças pelo mundo todo. Nenhuma alma que de Mim se tenha aproximado, saiu sem consolo”.5 E, em várias outras ocasiões, Jesus lhe transmitia palavras inundadas de amor: “Meu Coração está repleto de grande misericórdia para com as almas, e especialmente para com os pobres pecadores”.6 Também lhe demonstrava um de seus atributos, a paternalidade: “Oh! Se pudessem compreender que Eu sou para eles o melhor Pai, que por eles jorrou do meu Coração o Sangue e a Água como de uma fonte transbordante de misericórdia”.7
A muitas outras almas o Divino Coração de Jesus se revelou, entre elas à Soror Josefa Menéndez 8: “Pouco Me importam misérias, o que quero é o amor. Pouco Me importam fraquezas, o que quero é confiança”.9 Certa vez, manifestou a esta freira que não é o pecado que mais fere seu adorável Coração, por incrível que pareça; “o que O despedaça é não quererem as almas refugiar-se em Mim depois de o terem cometido”.10
Não há, pois, motivo para os homens ficarem desanimados e caírem no desespero. Nosso Senhor já conhece todas as nossas misérias e debilidades, e, mesmo assim, nunca diminuiu seu amor por ninguém, apesar das inúmeras ocasiões que Lhe dão motivo para isso.11 Bem afirmou Mons. João em certa ocasião:
Nós devemos ter em relação ao Sagrado Coração de Jesus uma inteira, completa e absoluta confiança, porque Ele nos ama com um amor insuperável! Ele nos ama com um amor que é divino e humano ao mesmo tempo. E, portanto, Ele se derrete de querer fazer bem a nós. E daí o fato de que, quando nós recorremos a Ele, e recorremos com confiança, é certo, certíssimo que Ele nos atende.12
1 MARTINS TERRA, João Evangelista apud CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Sagrado Coração de Jesus: tesouro de bondade e de amor. São Paulo: Parma, 2002, p. 4.
2 JOÃO EVANGELISTA MARTINS TERRA apud CLÁ DIAS, João S. Sagrado Coração de Jesus: tesouro de bondade e de amor. São Paulo: Parma, 2002, p. 4.
3 JOÃO PAULO II apud DUFOUR, GÉRARD. Na escola do Coração de Jesus com João Paulo II. [s.l.]: Loyola, 1990, p. 110.
4 Loc. cit.
5 KOWALSKA, Maria Faustina. Diário: a Misericórdia Divina na minha alma. Trad. Mariano Kawka. 41. ed. Curitiba: Apostolado da Divina Misericórdia, 2015, p. 428.
6 Ibid., p. 127.
7 Loc. cit.
8 Soror Josefa Menéndez foi uma religiosa espanhola do século XIX que recebeu várias aparições do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora, dizendo-lhe de modo especial sobre a misericórdia. Ela as escreveu em um livro, chamado “Apelo ao Amor”.
9 MENÉNDEZ, Josefa. Apelo ao Amor. 3 ed. Rio de Janeiro: Rio-S. Paulo, [1952], p. 293.
10 Ibid., p. 291.
11 Cf. CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Manancial inesgotável de bondade. In: O inédito sobre os Evangelhos. Comentários aos Evangelhos dominicais — Ano C — Domingos do Advento, Natal, Quaresma e Páscoa. Città Del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Lumen Sapientiae, 2012, v. V, p. 440.
12 Id. O amor do Sagrado Coração de Jesus: Conversa. São Paulo, 18 jun 2009. (Arquivo IFTE)