Como percebessem os religiosos passionistas estar próxima a morte de seu pai espiritual, São Paulo da Cruz, foram então ao Papa a gravidade de seu estado de saúde, já pensando em organizar um funeral à altura de tão grande fundador. Ao saber da notícia, entretanto, o Pontífice deu ao moribundo uma obediência: deveria permanecer mais um tempo nesta Terra!
Embora desejoso de partir para o Céu, São Paulo da Cruz, que estivera 18 meses em cama, submeteu-se à ordem do Vigário de Cristo e, contra todas as expectativas, recobrou a saúde para ainda realizar os últimos projetos de sua obra.
Para levar adiante sua obra era mister sentir em sua alma o abandono de Cristo na Cruz São Paulo da Cruz – Galeria dos fundadores na Basílica de São Pedro |
Na pequena Ovada, Itália, a 3 de janeiro de 1694 nascia Paulo Francisco, primogênito da família Danei. Todavia, desde tenra infância desabrochou em sua alma uma forte inclinação à piedade, incentivada pela formação católica recebida no lar. “Se me salvar, como espero, devo-o em grande parte à educação que recebi de minha mãe”, comentaria ele mais tarde.
Brincava de construir altares a Nossa Senhora, com seu irmão João Batista. Às vezes, com o intuito de fazer penitência, passavam as noites no paiol, dormindo em tábuas ou no chão. Assim transcorreu a infância dos dois irmãos, que Deus preparava carinhosamente para uma altíssima missão.
Contudo, aos 19 anos, ao ouvir um sermão do pároco, deu-se o que ele chamaria de sua “conversão”. Profundamente comovido, pediu ao sacerdote que o atendesse em Confissão geral e, a partir de então, começou uma vida de sacrifícios e rompeu com o mundo, num desejo ardente de entregar-se só a Deus.
Assim, afastados de todos, os dois irmãos dedicam-se com mais afã à penitência e à meditação das coisas santas, plasmando em si mesmos a Paixão do Salvador. Dormem poucas horas à noite, levantando-se várias vezes para rezar. Vivendo de esmolas, tomam apenas uma refeição por dia, alimentando-se das ervas e raízes colhidas na região.
Começa, ao mesmo tempo, sua vida missionária. O Bispo da diocese, Dom Fúlvio Salvi, crê não ser a vocação dos irmãos estritamente solitária, e os envia para instruir os fiéis na catedral, visitar as famílias e preparar os agonizantes para a morte. Ademais, Paulo resolve disputas entre inimigos e, muitas vezes, por sua influência, verdadeiros bandidos se emendam.
Esta frutuosa ação missionária provinha de uma intensa contemplação e piedade. Com efeito, passavam longas horas de joelhos adorando o Santíssimo Sacramento, sendo sempre os primeiros a entrar na igreja e os últimos a sair.
Sem desistir de seu propósito, a meados de agosto de 1726 decidiram transladar-se a Roma, para tornar a servir no hospital e, ademais, preparar-se para o sacerdócio.
Dessa forma em poucos meses receberam as ordens menores, e a 7 de junho de 1727 foram ordenados presbíteros pelo próprio Bento XIII. Ao concluir a cerimônia, deixou ele escapar a expressão “Deo gratias”, que não faz parte do ritual, “como premonição do bem que a Igreja receberia dos dois neossacerdotes”.8
No ano seguinte, obtiveram a permissão do Papa para retirar-se novamente à solidão do Monte Argentário e, em pouco tempo, reuniram os primeiros companheiros, entre eles Antônio Danei, outro de seus irmãos. Era, afinal, o início da congregação cenobítica dedicada à contemplação da Paixão do Salvador, os Pobres de Jesus. Estava definida a vontade de Deus.
Aproximando-se por fim a hora do seu encontro com o Senhor, Paulo visitou todos os retiros pela última vez, para dar aos seus as derradeiras instruções e exortá-los a cumprir fielmente a regra.
Em maio de 1775 presidiu seu último Capítulo Geral da ordem, no qual o santo fundador pediu perdão por todas as deficiências de seu governo e suplicou a caridade de morrer na congregação, sendo reeleito superior-geral, por determinação papal.
Em finais de junho piorou sua saúde. Seus sofrimentos eram atrozes e não conseguia ingerir alimento sólido algum. Todavia, sua serenidade de alma era inteira.
Ao receber o Viático, outra vez pediu perdão pelo que a seus olhos constituíam faltas, e deu uma bênção a todos os passionistas. A gravidade de seu estado perdurou por algumas semanas.
Entrando em agonia, com os olhos fitos em Jesus Crucificado e Mater Dolorosa, os viu entrar em seu quarto, acompanhados por um cortejo de Santos, dentre os quais seu irmão João Batista e outros passionistas falecidos, “vindos para testemunhar sua feliz passagem e conduzi-lo ao Céu”. Aos 81 anos, no dia 18 de outubro de 1775, São Paulo da Cruz entrou para a glória, na eternidade. (Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2016, n. 178, pp. 32 à 35)