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São José


São José, Protetor da Santa Igreja
 
AUTOR: PLINIO CORREA DE OLIVEIRA
 
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Modelo de todas as grandes virtudes, São José foi escolhido por Deus para estar à altura d’Aqueles com quem deveria conviver. A Igreja, dotada de sabedoria, proclama-o seu Protetor e Patriarca.

Na festa de São José há várias invocações que nós poderíamos considerar. Creio que dessas invocações, depois das que dizem diretamente respeito a Nosso Senhor Jesus Cristo, nenhuma é mais bonita do que a de Protetor da Santa Igreja Católica.

Silêncio da Tradição e das Escrituras

   Os dados biográficos de São José são muito escassos. Sabemos que ele era da estirpe real de Davi, era virgem, foi casado com Nossa Senhora. Sabemos que eles mantiveram a virgindade depois do casamento e que com ele se deu o famoso episódio da perplexidade. Sabemos também que esteve presente no Santo Natal e uma das glórias dele é a de, em todos os presépios, até o fim do mundo, naturalmente figurar como um dos personagens essenciais. Sabemos que ele levou o Menino Jesus e Nossa Senhora até o Egito e de lá voltou, depois há um silêncio sobre ele.

Se Deus tanto respeitou e venerou
Nossa Senhora, quanto não A terá
venerado ao escolher um esposo
adequado a Ela?
Sonho de São José Pró-Catedral
do Brooklyn, Nova York (EUA)

   Se tomarmos em consideração quem foi São José, não faltam razões para considerá-lo como o maior Santo de todos os tempos. Há razões para supor que o maior Santo tenha sido São João Batista ou, talvez, São João Evangelista. Em todo caso, há razões muito boas para supor que tenha sido ele, e podemos imaginar que os dados biográficos mais emocionantes, empolgantes e edificantes não faltem em sua vida.

   Ora, vemos que em lugar de nos fornecer esses dados e nos revelar algumas das maravilhas deste Santo, que ocupa um papel tão proeminente na piedade católica, as Sagradas Escrituras nos dizem pouco, e muito pouco, a respeito dele, e a Tradição também. Como se explica isso?

   A primeira observação que cumpre fazer é que também a respeito de Nossa Senhora – figura não infinitamente, mas insondavelmente superior a São José – as Sagradas Escrituras dizem muito pouco, talvez até menos que a respeito de São José. Entretanto, sabemos que Ela é a obra-prima da criação e que depois da humanidade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo – ligada à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade por união hipostática e, portanto, acima de qualquer cogitação que o espírito humano possa fazer – não há criatura, e nunca houve ou haverá, que possa sustentar uma pálida comparação com Ela.

   Ora, por que a respeito dessas duas grandes figuras há tal silêncio nas Escrituras?

Nenhum fato concreto pode refletir sua glória

   Além das razões indicadas habitualmente, como, por exemplo, a humildade de Nossa Senhora e de São José, que quiseram ficar apagados em louvor a Nosso Senhor Jesus Cristo e em reparação a todas as provas de orgulho que os homens deveriam dar até o fim do mundo, tenho a impressão de haver uma outra, muito formativa e toda feita para que compreendamos a índole, o espírito da Igreja Católica: por maiores que sejam as maravilhas que Nossa Senhora e São José tenham praticado em vida, o simples fato de uma ter sido a Mãe do Criador e o outro ter sido o pai legal de Nosso Senhor Jesus Cristo e esposo de Nossa Senhora os torna tão grandes que nenhum dos fatos ocorridos ao longo da sua vida dá uma ideia suficiente daquilo que eles foram, porque eles estão acima de qualquer ato concreto.

   Tomemos dois exemplos notá- veis. Primeiro, a perplexidade de São José, a confiança que conservou durante esse momento, a delicadeza com que resolveu a situação, a prova em que a Providência o colocou no momento em que ele estava chamado a receber a honra excelsa de ser o pai legal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois, na vida de Nossa Senhora, um fato eminente: as bodas em Caná, na qual Ela obteve, pelas orações d’Ela, a antecipação das manifestações da vida pú- blica de Nosso Senhor e fez com que Ele praticasse um prodígio tão extraordinário como a transmutação da água em vinho. Era um milagre direto e imediato, feito para uma família que passava naquela ocasião por uma prova.

   Nossa Senhora praticou ali um ato insigne, mas por maior que ele tenha sido, não nos dá uma ideia suficiente d’Ela. Sendo Mãe de Deus, Ela é tão superior a isso! E o mesmo acontece com São José: o que nós conhecemos dele, por mais eminente que seja, não chega à altura de quem ele é.

Um esposo à altura de Maria Santíssima

   Como terá sido o homem que Deus destinou a ser o pai legal de Nosso Senhor? Porque São José, como esposo de Maria Virgem, tinha verdadeiro direito sobre o fruto das entranhas d’Ela, embora não tivesse concorrido na geração do Menino Jesus. Então, como deve ter sido esse varão, como Deus deve ter adornado essa alma, como deve ter constituído esse corpo, como deve ter enchido de graça essa pessoa, para que ela estivesse à altura desse papel?

   Ora, se Deus tanto respeitou e venerou Nossa Senhora, quanto não A terá venerado ao escolher um esposo adequado a Ela? Porque Ele deve ter feito desse casal o casal perfeito, no qual o esposo fosse o mais proporcionado possível à esposa.

   O que deve ter um homem para estar na proporção de ser esposo de Nossa Senhora? É algo verdadeiramente insondável. E qualquer coisa que ele tenha dito ou feito não nos dá ideia de quem ele foi, como nos dá esta simples afirmação: pai do Menino Jesus e esposo de Nossa Senhora!

Mais do que governar todos os reinos e impérios

   Ser o pai do Filho de Deus é a mais alta honra que uma criatura humana possa alcançar, depois da de ser a Mãe do Filho de Deus, que é, evidentemente, uma honra maior. Quer dizer, São José não só foi nobre porque se casou com Nossa Senhora, mas porque Nosso Senhor o investiu na mais alta função de governo que possa haver na terra, abaixo de Nossa Senhora.

   Exercer uma alta função de governo, de acordo com os conceitos da sociedade tradicional daquele tempo, nobilitava, conferia nobreza. Ora, ser o pai do Menino Jesus, governar o Menino Jesus e Nossa Senhora é mais do que governar todos os reis e impérios do mundo, e isso não lhe veio só do casamento. Deus o escolheu para isso. Compreendemos então a nobreza excelsa que daí advinha, acima de todo elogio e de todo feito.

   Aqui entra o aspecto mais belo: vemos que, a respeito de Nossa Senhora e São José, a Providência quis constituir os fundamentos de culto com base num raciocínio teológico que delineia o perfil moral destas pessoas excelsas.

Nossa Senhora praticou ali um ato
insigne, mas por maior que ele
tenha sido, não nos dá uma
ideia suficiente d’Ela
Bodas de Caná Mosteiro de
Montserrat, Barcelona (Espanha)

A honra de ser Protetor da Igreja Católica

   Imaginemos, agora, o que é ser o Santo Padroeiro e Protetor da Igreja Católica.

   O protetor de algo é, de algum modo, um símbolo daquilo que ele protege. Considerem, por exemplo, o guarda de uma rainha. Ele precisa tomar em si algo da realeza de sua senhora, e por isso escolhem-se para essa função os indivíduos mais capazes, os que demonstram maior coragem, os que nas guerras provaram maior dedicação à coroa.

   Se é uma honra ser guarda da rainha, se é uma honra ser guarda do Papa – a ponto de ele ter uma guarda nobre especialmente constituída de fidalgos romanos para custodiá-lo –, que honra é ser guarda da Santa Igreja Católica!

   O Anjo da Guarda da Igreja Católica por certo é o maior Anjo que existe no Céu, porque nenhuma das criaturas de Deus tem a dignidade da Igreja. Com exceção de Nossa Senhora, que é a Rainha da Igreja, ninguém pode se comparar à Igreja Católica. Nem qualquer Anjo, ou todos os Santos considerados cada um separadamente, tem a dignidade da Igreja Católica, porque ela envolve todos os Santos e é a fonte da santidade desses Santos. Portanto, um Santo nunca terá uma dignidade igual à da Igreja.

   São José tem de ser, em consequência, alguém tão alto, tão excelso que, por assim dizer, seja o reflexo da instituição que ele guarda para estar proporcionado a ela. Podemos então considerar que o thau1 de São José, enquanto coidêntico com o espírito da Igreja, enquanto exemplar prototípico e magnífico da mentalidade, doutrinas e espírito da Igreja, só se pode medir por este outro critério: o fato de ser esposo de Nossa Senhora e pai adotivo do Menino Jesus e, portanto, estar proporcionado a Eles.

A fisionomia moral de São José

   Se nós quisermos ter uma ideia de como eram a alma e o espírito de São José, acho que não encontraremos uma pintura ou uma escultura que o represente adequadamente. Eu, ao menos, não a encontrei na minha vida inteira.

   Para compormos a fisionomia moral de São José, seria preciso juntar tudo quanto pensamos da Igreja Católica, toda a dignidade, toda a afabilidade, toda a sabedoria, toda a imensidade, tudo quanto se pudesse dizer da Igreja, e imaginá-lo realizado num homem. Só então teríamos a verdadeira fisionomia de São José. E eu quisera ver quem seria o artista capaz de representá-la…

   Devemos imaginar pelo menos o perfil moral desse Santo: sua castidade, sua pureza ilibadíssima, e nos aproximarmos dele com respeito, com veneração, para pedir que nos conceda aquilo que nós tanto desejamos receber. Cada um pergunte a si próprio, num exame de consciência de um minuto, qual é a graça que quer pedir-lhe.

Graças a implorar

   A primeira das graças a pedir seria a da devoção a Nossa Senhora. Outra é a de refletir tão bem o espírito da Igreja Católica quanto esteja nos desígnios da Providência ao nos ter criado e nos ter conferido o Santo Batismo. Outra graça que poderíamos pedir é a de sermos filhos da Igreja Católica, enquanto vivendo numa unidade viva da Igreja onde esse espírito se refrata de um modo particular. Podemos pedir também a pureza, a despretensão…

   Podemos escolher uma dessas coisas ou pedir todas elas no seu conjunto. Às vezes é bom pedirmos uma coisa só, e a graça nos convida a isso; às vezes é bom pedirmos tudo, porque em certos momentos ela nos leva a sermos audaciosos e a pedir muita coisa ao mesmo tempo.

   Então, na festa de São José, conforme o movimento da graça interior em cada um de nós, devemos pedir algo a ele. E se não soubermos bem o que pedir, dizer a São José: “Meu bom São José, vede que eu sou meio palerma, dai-me vós aquilo que eu preciso, uma vez que sequer sei o que me convém!” Eu acredito que do mais alto dos Céus ele sorrirá e dará com bondade alguma graça muito bem escolhida. (Revista Arautos do Evangelho, Março/2018, n. 195, pp. 26 à 29)

Reproduzido, com pequenas adaptações, da revista “Dr. Plinio”. Ano XX. N.228 (Mar., 2017); p.14-18

1 Letra de um antigo alfabeto hebraico, cuja forma se assemelhava a uma cruz. Evocando uma passagem de Ezequiel em que o thau aparece como sinal de eleição (cf. Ez 9, 4), Dr. Plinio empregava esse termo para indicar a presença numa pessoa de um especial chamado de Deus (nota do editor).

 
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