Nas brumas dos tempos, alguns acontecimentos tem uma especial projeção, marcando a História nos tempos futuros. No mês de junho, comemoramos de modo especial a devoção ao Menino Jesus de Praga, uma forma de espiritualidade muito característica e de intensa afloração. Esta consideração do pueril Jesus tem uma combinação do amor ocidental e oriental, tornando-a ainda mais mundial. Vamos ver algumas de suas peculiaridades.
Enquanto arte, podemos ver que a imagem do Menino Jesus de Praga é uma escultura de um menino de cabelos ligeiramente cacheados e o porte régio. Ele segura o globo nas mãos, transmitindo aos fiéis o seu domínio, e com sua outra mão como que traça uma bênção sobre seus súditos.
Suas roupagens são a grande nota tônica: ele está trajado como um portentoso príncipe, como um poderoso rei de um vasto império. Esta túnica, com adereços em ouro e pedrarias brilhantes, desce-lhe até os pés, cobrindo-lhe inteiramente o corpo.
A origem desta devoção remonta de séculos atrás, iniciando-se na atual República Tcheca. O rei, após vencer uma difícil batalha, fez uma promessa a Deus: como agradecimento, fundaria um convento carmelita em suas terras. Este novo convento, após a morte do soberano, começou a passar muitas dificuldades financeiras. Os freis fizeram um apelo à Deus, pedindo com empenho que ele suprisse suas necessidades.
A princesa Polixene, na época, estava doente e sabia ser aqueles seus últimos dias na terra. Como testamento, deixou o que possuía de riquezas e fez uma promessa: os carmelitas ficariam uma imagem que recebera de sua mãe: era o menino Jesus que trajava lindas roupas de Rei. A princesa disse que esta especial devoção a ajudara em muitos impasses, e sabia que tê-la no convento supriria para sempre as necessidades do Carmelo.
A mãe de Polixene era espanhola que se casara com um nobre Tcheco, trazendo esta imagem consigo. Conta-se inclusive, que foi ideia da própria Santa Teresa d’Ávila vestir de príncipe ao Menino Jesus. Então, originando-se do Carmelo, ao Carmelo a imagem voltava.
Em 1630, mais de 60 anos após a imagem do Menino Jesus de Praga ir para o convento, uma guerra assolou a cidade. Os protestantes, aliados ao rei Sueco, invadiram a Tchecoslováquia e saquearam a cidade de Praga, destruindo tudo de católico que encontravam. Com os carmelitas em fuga, os invasores destruíram o altar e tombaram a imagem do Menino Jesus. Todos pensaram que esta havia se esfacelado do outro lado do altar, e abandonaram o local.
Porém, sete anos depois da invasão, com a cidade já retomada e os invasores derrotados, um padre carmelita, que vivia em Praga, ao vasculhar os escombros do Carmelo, ouviu uma voz que lhe dizia: “Tem piedade de mim e eu terei de ti. Restitui-me as minhas mãos e eu vos darei a paz. Quanto mais me honrardes, mais eu vos favorecerei”.
Quando encontrou a imagem do outro lado do altar, este padre, frei Cirilo, percebeu que, milagrosamente, mesmo tendo caído de uma altura considerável, só quebrara as mãozinhas. Assim, em outro dia de profunda oração e súplicas o padre ouviu o Menino Jesus lhe dizer: “Põe-me à entrada da sacristia e alguém terá piedade de mim”. Então um senhor muito rico chegou ali e se ofereceu para restaurar a imagem. Quando ela ficou pronta, foi entronizada na mesma igreja em que estava e o convento passou a ter dias melhores.
Assim, com este feito providencial, a imagem foi objeto de veneração e amor. Todos começaram a pedir sua intercessão e muitos milagres foram sendo realizados pela intercessão do Menino Deus. Assim, a devoção ao Menino Jesus de Praga, como ficou conhecido, atravessou as fronteiras e se estendeu a toda Europa. De lá, viajou até as terras de além-mar, chegando ao Brasil na época do primeiro Reinado.
Os carmelitas, que tinham a autoridade sobre a santa imagem, fizeram uma pequena cópia e a trouxeram ao Rio de Janeiro. Eles difundiram a promessa do Menino Jesus: “quanto mais me honrardes, tanto mais vos favorecerei”. Por causa dessa promessa, a devoção se tornou cada vez mais conhecida em muitos lugares.
Cf. História de Menino Jesus de Praga – Santos e Ícones Católicos – Cruz Terra Santa