Diz uma antiga música natalina de origem germânica que, na noite de Natal, a pequenina e fria gruta transformou-se num imenso e esplendoroso palácio. A própria luz ajoelhou-se perante o recém-nascido, colorindo as paredes com cores festivas, enquanto os Anjos, com sua presença, cintilavam quais cristais de charmosos lustres. Os santos descreveram imaginativas cenas do que se passava ali, reconhecendo, na maioria das vezes, o papel de Nossa Senhora, dos pastores, dos reis e anjos, além do próprio infante. Um, porém, que passa muitas vezes despercebido, é São José. Como terá, o patriarca da Igreja, o Pai adotivo e Virginal de Jesus, se comportado nesta sublime hora? Como passou São José o Natal do Divino Filho de Maria?
São José era alguns bons anos mais velho que sua Santíssima Esposa, pois casou segundo o modelo dos hebreus, onde o esposo era plenamente responsável pelo sustento de sua mulher. Assim, era necessário que o marido já tivesse um emprego estável ao se casar.
Sabemos que São José era filho de Jessé, pela descrição de São Mateus no Evangelho, e descendente direto de Davi, a tal ponto que, se na época do pai de Jesus fosse novamente restaurada a monarquia, ele seria ao menos príncipe.
Por isso, apesar de saber correr em suas veias a linhagem real, sob o qual caiu a unção do Senhor, São José entendia que deveria se esforçar para prover o sustento de sua casa. E, ao conhecer Nossa Senhora e se admirar de sua grandeza e inocência, seu coração sentiu ainda mais o peso da responsabilidade. Mas ele confiava no Deus de seus pais e na Providência que os manteria seguro.
Porém, após receber a mensagem do Anjo, como vimos na reflexão do IV domingo do Advento, e entender que o fruto que sua Esposa carregava no ventre era o Messias, São José também compreendeu sua vocação. Fora chamado para proteger a Mãe e o Filho, e não deixar que nada de mal pudesse acontecer a eles. São José deve ter feitos propósitos lindíssimos de dar sua vida, caso fosse preciso, para mantê-los em segurança, nem que tivesse que lutar contra exércitos inteiros.
Entretanto, não fora contra inúmeros soldados que José teve que combater, mas sim contra o Senhor dos Exércitos. Tal como Jacó em sua luta contra o Anjo, São José também recebeu, nesta ocasião, o título de Israel (forte contra o Senhor), pois deveriam caminhar até a sua região de nascimento, a casa de Davi, Belém.
Que tentações não terão passado na cabeça do santo patriarca? Não poderia Deus suscitar outros pensamentos na cabeça de Herodes? Por que terá o Senhor permitido um tal recenseamento agora? Mas a Bíblia o chama de homem justo, e ele sabia que tudo o que acontecia era por ordem do Divino. Então, antes de qualquer sombra de ressentimento passar em sua virginal alma, seu coração já havia aceitado os desígnios de Deus e ele estava pronto para conduzir sua Esposa a um lugar seguro.
Já em Belém, teve ele que passar mais uma provação: não havia uma casa disposta a hospedar Maria. E muitas fechavam as portas antes mesmos deles pedirem, já que, sabiam ser aquele casal temente a Deus. E, para alguns pecadores, a presença do justo é a mais insuportável das coisas.
Mais uma vez Deus lutava contra José. Não era ele o responsável? O filho real da casa de Davi? Como não havia lugar para este repousar a cabeça? São perguntas que certamente foram feitas para afligir o Patriarca. Mas, novamente, com o olhar posto no Céu, São José não se ressentiu; ele havia feito tudo o que podia. Se, mesmo assim, não havia conseguido, era preciso a resignação.
O que foi São Francisco Xavier morrendo, olhando a China que queria conquistar, perante São José deixando a parte mais povoada de Belém e se dirigindo com sua grávida esposa a uma gruta que brincava na infância?
E quando, já na gruta, viu seu Divino Filho aparecendo milagrosamente nos braços de sua esposa, pois não fendeu a sua Virgindade Perpétua, São José não descansou. No presépio sempre o vemos de pé, com o bastão cravado no chão, e ele se apoiando com firmeza. Nem dias de caminhada e sol ardente fizeram são José desarmar sua ponderada vigilância.
Mas esta não atrapalha seu espírito de oração. Certamente, depois de um colóquio de olhares entre a Mãe o Menino, Jesus olhou para seu Pai Adotivo. A cena que se seguiu ali por si deveria fazer o mais duro dos homens chorar: provavelmente, com seus bracinhos de recém-nascido, Cristo deve ter pedido colo. São José se aproxima, toma o Menino com tanto carinho, e seu Filho lhe dá um sorriso. Neste, está subentendido o prêmio para todo o esforço e vigilância que São José praticara.
E ali, antes de todos os outros chegarem, só estando aqueles que sabiam do Divino Mistério por revelação, Cristo não precisava esconder o seu olhar que tudo vê. Sendo a Sabedoria Encarnada, olhando com todo o amor do mundo a São José por não achar uma mancha de pecado em sua alma, de seus lábios brotou uma palavra que perdurara por toda a vida do Patriarca: “Papai”.
Este foi o primeiro de muitos chamados carinhosos de Jesus. São José pôde acompanhá-lo crescendo, depois de tantos e tantos males surgirem contra o Menino: É Herodes que quer matá-lo, obrigando-os a fugir para o Egito, a infância pobre em Nazaré, a perda e o reencontro de Cristo no templo, entre tantas outras que não conhecemos.
Apesar disso, o olhar de confiança em Deus nunca desapareceu na fisionomia de São José. E sua última prova foi no leito de morte: sabendo da missão de seu Filho, entendendo por todos os sofrimentos que Ele e sua Santa Esposa teriam que passar, Ele viu que não estaria mais na terra para defendê-los. Nesta hora, até o mais correto dos homens estremeceria perante a vontade do Legislador. Mas não São José: ele renovou mais uma vez sua confiança na Providência. Entregou sua alma nas mãos de Deus, que, por sinal, estava ao seu lado, fisicamente falando.
Que hoje, neste dia tão próximo do Natal, tenhamos um olhar mais confiante para Deus, como foi São José. Apesar de todos os pesares, ele triunfou em todas as provações. Peçamos a ele esta confiança a toda prova, inclusive na hora de nossa morte.
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