No dia 06 de janeiro, a Igreja Católica celebra a Epifania do Senhor, que quer dizer, do grego, manifestação. Neste mistério não está apenas sendo celebrado a chegada dos Reis Magos no presépio, mas também, de forma atemporal, o batismo de Jesus e a transformação da água em vinho. No Brasil, porém, por determinação da CNBB, a solenidade é transferida para o domingo entre o dia 02 e o dia 08, acontecendo, em 2022, no dia 08 de janeiro. Assim, ainda é oportuna uma consideração sobre o dia da Epifania. Caminhe conosco por este mistério triplo e desvende o porquê dele ser o início e a conclusão de tudo.
Epifania quer dizer manifestação, como acima afirmamos. Esta manifestação está garantida na apresentação de Cristo aos povos estrangeiros, nas pessoas dos Três Reis, que vinham de nações diferentes. Mas também está explícita no Batismo de Jesus e na transformação da água em vinho nas bodas de Caná, pois é nestes dois acontecimentos que Jesus sai da vida privada e começa sua caminhada pública, os seus três anos de pregação pela Judeia e região.
Assim, a epifania marca o início da História da Salvação. A visita dos Reis é um preâmbulo, um prefácio do que um dia aconteceria: os grandes se ajoelhariam diante do verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, e viriam a reconhecer sua realeza. Quando Jesus está diante de Herodes, este pergunta: “És Rei?” Ao que Jesus responde: “Tu o dizes. Sim, eu sou Rei”.
O batismo marca o início de nossa salvação, como o primeiro sacramento que o cristão recebe. Ali, nas águas purificadoras, nossa alma torna-se filha de Deus e coerdeira do Céu. É também na pia batismal que passamos a clamar, com São Paulo, “Abba, ó Pai!”, que, adaptado para o português atual, seria: “ó paizinho!”. Tal carinho evidencia como, de fato, nos tornamos filhos de Deus.
Já a transformação da água em vinho simboliza o maior dos sacramentos, e o mais excelente: a Eucaristia. Mostrando todo seu poder sobre a matéria, Jesus prova aos mais exigentes que, se Ele é capaz de fazer da água vinho, por que não pode fazer de si mesmo pão?
Além da epifania representar o início de nossa salvação, também simboliza o fim dela. Primeiro, a epifania finaliza o tempo do Natal. É a hora de guardar a árvore, o presépio e os demais enfeites. Logo depois da festa do Batismo do Senhor, que em 2022 será no dia 09 de janeiro, na segunda-feira, já começa o tempo comum, que traz a cor verde, trocando o branco do Natal.
A epifania também marca o fim da vida privada de Cristo, a conclusão de uma preparação que levou 30 anos. E se em 3 anos Jesus fez tanto, imagina o que não representaram estes trinta escondido? Foi um retiro intenso, onde Nossa Senhora foi sua principal concentração, onde teve que velar São José, e onde se comunicou com seu Pai Celestial através de sua natureza humana.
Mas é a epifania também conclusão para nós, seres humanos. Nos presentes dos Reis, vemos o nosso destino descrito: o ouro simboliza nossa realeza. Somos reis da criação, ela está disposta à nossa ordenação. E aqui cabe uma ligeira reflexão: como nos comportamentos perante as coisas criadas? Tiramos dela o nosso sustento com ordenação e modéstia, ou somos esbanjadores? É importante lembrar que seremos cobrados, em nosso juízo, de nossos apegos para com as criaturas de Deus, e a verdadeira conta que fizemos delas.
Em segundo lugar, o incenso significa nossa divindade. Não apenas a do batizado, em seu sentido específico, mas no geral, a nossa espiritualidade e religiosidade. O ser humano é um ser com muitas dimensões, e a mais importante delas é a alma, o espírito e a mente. Em nossa caminhada terrena, somos constantemente bombardeados de mensagens materialistas, e perdemos, com grade pesar, a paz de coração. O que temos feito para sermos mais virtuosos, mais santos? E como temos ministrado esta verdade a nossos filhos, amigos e parceiros? Ensino aos outros que o mais importante é a relação com Deus ou com os homens, com os seus negócios e suas carreiras?
Por fim, epifania também é morte. Manifestada na Mirra de Baltasar, o pó que embalsama corpos, a morte é a única certeza que temos quando nascemos. Para os mais ricos aos mais pobres, dos mais desconhecidos aos mais famosos, a morte vem, e vem em um momento desconhecido, citado por Jesus “como um ladrão”. Como temos vivido face à nossa morte? Temos dado significado à nossa vida, como Deus o quer? A quantos anos não fazemos uma boa confissão, nos preparando para morte que pode vir de repente? O cristão carrega a marca da morte, e só quando a aceitamos é que alcançamos paz.