No primeiro episódio do podcast dos Arautos do Evangelho – Salve Maria! O seu podcast católico – o Pe. Ricardo Basso, E.P., catequista e apresentador, traz um convidado para inaugurar a gravação: Pe. Alex Brito, E.P., doutor em teologia e direito canônico. Neste, dado a proximidade com a festa de Nossa Senhora de Lourdes, o Pe. Alex comenta que Lourdes fala à Igreja de um retorno às origens. Hoje, neste artigo, vamos contemplar um pouco mais como este maternal chamado da Senhora de Lourdes é feito a nós, pessoas do século XXI.
Ouça aqui o podcast: Salve Maria! O seu podcast católico.
Para não perdemos o momento, antes de falarmos das promessas de Lourdes, é necessário contar como foi sua aparição. Santa Bernadette, menina franzina e doente, com apenas 11 anos, depara-se, numa gruta barrenta, com uma Senhora que se trajava de branco, e possuía a cintura cingida por uma faixa azul.
Alguns milagres aconteceram para que esta visão fosse possível: em primeiro lugar, a saúde de Bernadette era precária, e ela não teria sobrevivido aos frios da França, no inverno, ao ir à gruta de Massabielle, local da aparição, sem um especial suporte de Deus. Aliás, no podcast, o Pe. Alex comenta que, ao atravessar o pequeno riacho que permitia ir à gruta, Santa Bernadette sente as águas quentes, no inverno, e sob a sombra de uma floresta densa.
Outro milagre é o fato de só Bernadette ter as visões, enquanto o povo se reunia e a via rezar. Num certo dia, o público viu atônito que a menina se dirigia a um lugar da gruta e começava a cavar um buraquinho com suas próprias mãos. Sem entender o porquê de tal ação, os que a assistiam não perderam, entretanto, a fé, e esperaram; alguns minutos depois um filetinho de água inundou o barro revirado, transformando-o numa poça. Ali começava a origem da fonte milagrosa de Lourdes.
Nossa Senhora, aparecendo sem grandes solavancos na vida da pequena, puxa seu rosário e espera Bernadette imitá-la. Passando as contas devagarinho, vai a jovem rezando as Ave-Marias e Pai-Nossos, com fé e tranquilidade. Depois de umas tantas aparições, Santa Bernadette, um dia, a pedido do bispo para que Nossa Senhora se identificasse, recebe da Virgem estas palavras, em seu dialeto regional: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
Tão sublime era sua mensagem que a própria portadora não entendeu do que se tratava. Quando repetiu estas palavras ao bispo, humildemente perguntou: “o que é imaculada conceição?” Esta ingenuidade seria a grande prova para que o prelado acreditasse nela; de fato, em 1854, quatro anos antes da primeira aparição, o Papa havia aprovado o dogma da Imaculada Conceição, que dizia Nossa Senhora ser preservada do pecado original no momento de sua concepção.
Mas nem Bernadette nem ninguém de sua pequena aldeia original sabiam o que era, pois, sem mídia massiva, os jornais noticiaram nas grandes capitais, mas não chegaram nas pequenas vilas.
Após estes acontecimentos, foi dado a autorização para a construção de uma pequena capelinha no local. Depois, com o passar dos tempos, a igreja foi reconstruída, agora maior. Por fim, uma enorme basílica foi edificada e hoje são milhares de peregrinos que a visitam todos os meses, em espírito de oração e procurando suas curas pessoais.
A fonte de Lourdes continua jorrando esperança e milagres em profusão, mesmo atualmente. O viajante pode se banhar em suas águas, pedindo com fé o que lhe é inspirado. O Pe. Alex, no podcast, nos conta que, em apenas uma visita a Lourdes, ele teve a oportunidade de tomar dois banhos, testemunhando que, de algum modo, as águas estavam agradáveis, mesmo num clima frio de outono europeu. Sua fé lhe diz que esta é mais uma das delicadezas de Maria a seus filhos.
O século XIX teve grandes aparições marianas. Há 18 anos de Lourdes dava-se a visita de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, trazendo a poderosa medalha milagrosa. De fato, na peste que se seguiu às aparições, aqueles que já portavam a medalha em seu pescoço mantinham sua saúde assegurada.
Em 1859 haverá a aparição aos pastorinhos de La Sallete. Nesta comunicação, contam-nos os meninos que Nossa Senhora chorava muito, tal a quantidade de pecados que eram cometidos e machucavam seu Querido Filho. Ela pedia reparação, penitência e inclusive nos avisava de um castigo que viria, caso a humanidade não melhorasse.
Neste contexto mariano é que se encaixa a aparição em Lourdes. O Pe. Alex, mais uma vez testemunhado sabedoria e fé, afirma que a aparição se deu numa gruta barrenta para significar que até lá, no mais fundo do poço, vai nos buscar Nossa Senhora. Lourdes é um atestado de que não importe nossa situação: se confiarmos n’Ela, a Virgem Maria nos salva do pecado.
Mas se tão longe vai Nossa Senhora para nos salvar, simbolizada pelas aparições de Lourdes, é preciso um movimento de alma nosso. Como explica também o Pe. Alex comentando o Evangelho, na parábola do Filho Pródigo notamos sua decadência: de rico e prazenteiro, torna-se ele aquele que rouba a comida dos porcos, tal sua fome. E ainda mais é repreendido por essa sua atitude desesperada.
Mas, para alguém cheio de ilusões, é só quando elas se esvaziam que se olha a verdadeira face da frustação. Neste momento, o Filho Pródigo cai em si, e faz o firme propósito de voltar à casa do Pai: “Quantos empregados tem pão garantido na casa de meu Pai, e eu, comendo as bolotas dadas aos porcos?” (Lc 15, 17).
Lourdes quer de nós este mesmo movimento. É preciso que olhemos para a lama que estamos enterrados, para a fragilidade de situação que nos encontramos, e, com lágrimas nos olhos, nos dirijamos para Nossa Senhora: “Santa Maria, rogai por mim!”
São Bernardo, em sua oração “Lembrai-vos”, comenta: “não há um que clamasse à Maria e não fosse atendido. Bem, eu não serei o primeiro!” Esta verdade precisa nos acompanhar na festa da celebração de Lourdes, no dia 11 de fevereiro.
Dr. Plinio, em uma oração que compôs diante de um grande auditório, confidencia aos ouvintes, dirigindo-se a Nossa Senhora: “Há momentos, minha Mãe, em que minha alma se sente, no que tem de mais fundo, tocada por uma saudade indizível”.
Saudades… palavra iminentemente brasileira. Apesar de em outros vocábulos ela ser exprimida como nostalgia, o termo “saudades” contém em si mesmo uma tristeza e uma alegria. É um sentimento único, que contempla o desejo de um retorno às origens onde ainda havia uma certa felicidade.
“Tenho saudades de Vós, Senhora, e do paraíso que punha em mim a grande comunicação que tinha convosco. Não tendes também Vós, Senhora, saudades desse tempo? Não tendes saudades da bondade que havia naquele filho que fui?” Nossa Senhora também tem saudades de nós. Saudade de quando corríamos para Ela, e não fugíamos de seu abraço; numa época em que rezar para nós era fácil, era uma experiência boa; Ela sente tantas saudades que nos vem alertar, que nos vem visitar.
“Vinde, pois, ó melhor de todas as mães, e por amor ao que desabrochava em mim, restaurai-me!” Assim, para a comemoração de Nossa Senhora de Lourdes, no dia 11 de fevereiro, para que haja um retorno às origens, precisamos pedir que Ela nos restaure, que Ela nos dê “um coração arrependido e humilhado, e faça luzir novamente aos meus olhos aquilo que, pelo esplendor de vossa graça, eu começara a amar tanto e tanto!…”
Que neste dia especial para a piedade da Igreja, para a piedade mariana, para o bem de cada um dos Filhos de Maria, possamos receber de volta este novo coração, arrependimento e humilde. Dr. Plinio termina sua prece com uma comparação: “Lembrai-Vos, Senhora, deste David e de toda a doçura que nele púnheis. Assim seja!” Que sejamos novos Davis, que nossa queda sirva para que entendamos que longe de Deus, longe de Nossa Senhora, não há felicidade.