Não só agradecer sua ação, mas também honrá-la
“Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou descobriu um tesouro.
Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé”,
nos narra o Eclesiastes em seu capítulo 6.
A poesia do Santo salmista toca o coração mais endurecido: quem não quer ter um porto seguro, uma tranquilidade assegurada no mar encapelado da vida?
Porém, muitas vezes nos esquecemos do melhor amigo que Deus nos concedeu: o Anjo da Guarda.
Ouvimos muito falar dele quando somos pequenos, mas a ideia de que o pensamento crítico liberta a mente do ser humano das fragilidades da religião vai borrando a liberdade com que nos deveríamos dirigir ao nosso mais terno protetor.
Não é à toa que a oração do Anjo da Guarda diz:
“Já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa e me ilumina”.
Ou seja, é a ele que devemos entregar cada aspecto de nossa vida, pois o Anjo da Guarda dá conta de nosso cuidado.
No dia 2 de outubro, por isso, a Santa Igreja celebra a festividade do Anjo da Guarda e nos dá a diretriz de que não só devemos agradecer sua ação, mas também honrá-la.
E hoje, neste artigo, veremos um pouco como fica nosso dever de gratidão para com tão excelsa criatura.
Como sabemos que possuímos um Anjo da Guarda?
Em primeiro lugar, temos a Revelação Divina através das Sagradas Escrituras.
Já nos primeiros livros na Bíblia podemos perceber que o Senhor conduz o seu povo sempre lhe avisando da presença dos Anjos:
“Enviarei um Anjo à sua frente para expulsar os cananeus, os amorreus, os hititas, os ferezeus, os heveus e os jebuseus” (Ex 33, 2).
E: “Vou enviar um Anjo que vá à tua frente, que te guarde e conduza. Respeita-o e ouve a sua voz, não seja rebelde” (Ex 23, 20).
Além disso, não só no Antigo Testamento temos afirmações sobre os Anjos da Guarda, mas também no Evangelho. Em São Mateus, lemos:
“Seus Anjos sempre veem a face de meu Pai que está nos Céus” (Mt 18, 10).
E também: “E Ele enviará os seus Anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus” (Mt 24,31).
Temos outras passagens que contam histórias sobre os Anjos e suas funções, desde o anúncio da Encarnação, feito pelo Anjo São Gabriel, até a luta nos Céus contra os demônios e seus anjos, chefiada pelo general das fileiras do bem, São Miguel.
Os Santos também comentam sobre os Anjos da Guarda e a presença angélica.
Como um exemplo fácil, temos São João Bosco, protegido pelo misterioso Grigio, um cão de enormes proporções que lhe foi muito fiel em momentos de muito perigo.
E não só os Santos tinham proteção assegurada contra o mal: conta-se de um médico salvo pela aparição de seu Anjo da Guarda na forma de um homem grande e forte, e que intimidou a ação dos assaltantes quando estes tentaram entrar em sua casa e matá-lo para lhe roubar.
Qual a função do Anjo da Guarda?
Depois de atestarmos sua existência, qual ação lhes cabe?
Deus os deu como nossos protetores, em primeiro lugar para nos ajudar contra a ação maligna do demônio.
O inimigo não pode entrar em nossos pensamentos, mas pode sim externamente influenciá-los; com sua inteligência fora do comum, ele pode enxergar em nossa face microexpressões que dão indicativos do que estamos pensando e sentindo, e nos oferecer uma ou outra tentação mais apropriada.
No deserto, quando Cristo fazia seus 40 dias de jejum antes de começar a vida pública, a passagem bíblica é clara: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se mudem em pão” (Lc 4, 3).
A primeira ação do demônio é procurar atiçar ainda mais a fome que Lhe transparece, pois não Se alimentava há muito tempo.
Conosco também se dá assim: a sugestão sempre visa atiçar uma ou outra tendência que nos está acentuada no momento, seja a ira em uma discussão, a preguiça em um dia frio ou a impureza no momento de cruzar com um cartaz ou publicidade imoral.
O Anjo da Guarda tem a função de nos proteger dessa ação do demônio e mandá-lo para longe; é por isso que, sentindo uma tentação, a nossa primeira atitude deve ser rezar ao Anjo e invocá-lo.
Ele expulsará seu rival e dará forças para que nos sintamos menos aguilhoados pela carne.
Além disso, não só contra o mal, mas a favor do bem, age o Anjo da Guarda.
Se estamos recebendo uma graça, ou algo é ocasião disso, como ir a uma Santa Missa ou comungar, por exemplo, o Anjo também aumenta a sensação de bem-estar de alma pura e consciência tranquila.
Em segundo lugar, ele também evita perigos corporais.
Misteriosamente, ele intervém para que acontecimentos ruins não se realizem, ou, pelo menos, que se minimizem.
Assim, um susto no trânsito poderia significar que algo pior aconteceria, mas o Anjo da Guarda se interpôs e apenas uma fração do desastre ocorreu.
Como honrar nossos protetores celestes
Para responder à dúvida inicial, não são ações complicadas ou tributos especiais que honram o Anjo da Guarda.
De fato, antes de tudo, ele é nosso conselheiro e protetor, querendo nosso bem.
Ouvi-lo e agradecê-lo, portanto, é a melhor forma de honrá-lo.
Quando uma tentação chegar e rezarmos a ele, passando logo em seguida, saibamos lhe ser gratos.
Do mesmo modo, com um perigo evitado: uma oração, uma jaculatória simples como: “Obrigado, meu Santo Anjo!”, já é suficiente para que lhe sejamos gratos.
Porém, ainda podemos fazer mais pelos nossos intercessores celestes: podemos dedicar-lhe nossas orações e Santas Missas assistidas.
Assim, sua glória diante do Altíssimo como que aumenta, pois grandes são os méritos daquele que vê piedosamente o Santo Sacrifício.
E uma última ação que também deve ser muito praticada: colaborar com nosso Anjo da Guarda e os do outro.
Pregar sobre ele, não como um grande discursista, mas sim com palavras doces e afáveis, mesmo que seja em uma conversa informal, é altamente benéfico.
No mundo de hoje, com a realidade opressiva que muitas vezes se estabelece, é fácil se esquecer do que não se vê.
Grato será o seu Anjo e o Anjo do próximo se você souber lembrar aos seus amigos das maravilhas que é possuir um Anjo da Guarda.