Servos e mensageiros do Altíssimo

329. Santo Agostinho diz a respeito deles:

Angelus […] officii nomen est, non naturæ. Quæris nomen naturæ, spiritus est; quæris officium, angelus est: ex eo quod est, spiritus est: ex eo quod agit, angelusAnjo é nome de ofício, não de natureza. Desejas saber o nome da natureza? Espírito. Desejas saber o do ofício? Anjo. Pelo que é, é espírito: pelo que faz, é Anjo (Anjo = mensageiro).

Com todo o seu ser, os Anjos são servos e mensageiros de Deus.

“Pelo fato de contemplarem continuamente o rosto do meu Pai que está nos Céus” (Mt 18, 10), eles são “os poderosos executores das suas ordens, sempre atentos à sua palavra” (Sl 103, 20).

Dotados de inteligência e vontade

330. Enquanto criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e vontade: são criaturas pessoais e imortais.

Excedem em perfeição todas as criaturas visíveis. O esplendor da sua glória assim o atesta.

Pertencentes a Cristo

331. Cristo é o centro do mundo angélico. Eles Lhe pertencem: “Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os [seus] Anjos…” (Mt 25, 31).

Pertencem-Lhe, porque criados por e para Ele:

Em vista d’Ele é que foram criados todos os seres, que há nos céus e na terra, os seres visíveis e os invisíveis, os Anjos que são os Tronos, Potestades, Principados e Dominações.

Tudo foi criado por seu intermédio e para Ele (Cl 1, 16).

E são d’Ele mais ainda, porque Ele os fez mensageiros do seu plano salvador: “Não são eles todos os espíritos ao serviço de Deus, enviados a fim de exercerem um ministério a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” (Hb 1, 14)

Postos ao serviço do plano divino

332. Ei-los, desde a criação e ao longo de toda a História da salvação, anunciando de longe ou de perto esta mesma salvação, e postos ao serviço do plano divino da sua realização.

Eles fecham o Paraíso Terrestre, protegem Lot, salvam Agar e seu filho, detêm a mão de Abraão, pelo seu ministério é comunicada a Lei, são eles que conduzem o povo de Deus, anunciam nascimentos e vocações, assistem os profetas – para não citar senão alguns exemplos.

Finalmente, é o Anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e o do próprio Jesus.

“Adorem-No todos os Anjos de Deus”

333. Da Encarnação à Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é rodeada da adoração e serviço dos Anjos.

Quando Deus “introduziu no mundo o seu Primogênito, disse: ‘Adorem-No todos os Anjos de Deus’” (Hb 1, 6).

O seu cântico de louvor, na altura do nascimento de Cristo, nunca deixou de se ouvir no louvor da Igreja: “Glória a Deus…” (Lc 2, 14)

Eles protegem a infância de Jesus, servem-No no deserto e confortam-No na agonia, no momento em que por eles poderia ter sido salvo das mãos dos inimigos, como outrora Israel.

São ainda os Anjos que “evangelizam”, anunciando a Boa-Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. E estarão presentes quando da segunda vinda de Cristo, que anunciam, ao serviço do seu Juízo.

Os Anjos na vida da Igreja

334. Daqui resulta que toda a vida da Igreja se beneficia da ajuda misteriosa e poderosa dos Anjos.

335. Na sua Liturgia, a Igreja associa-se aos Anjos para adorar a Deus três vezes Santo; invoca a sua assistência como na oração “In Paradisum deducant te Angeli – conduzam-te os Anjos ao Paraíso” da Liturgia dos defuntos, ou ainda no hino querubínico da Liturgia bizantina, e festeja de modo mais particular a memória de certos Anjos (São Miguel, São Gabriel, São Rafael e os Anjos da Guarda).

336. Desde o seu começo até a morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão. “Cada fiel tem ao seu lado um Anjo como protetor e pastor para o guiar na vida”.

Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos Anjos e dos homens, unidos em Deus.

O mundo visível

337. Foi o próprio Deus que criou o mundo visível, com toda a sua riqueza, a sua diversidade e a sua ordem.

A Sagrada Escritura apresenta a obra do Criador, simbolicamente, como uma sequência de seis dias de “trabalho” divino, que terminam no “repouso” do sétimo dia.

O texto sagrado ensina, a respeito da criação, verdades reveladas por Deus para a nossa salvação (203), as quais permitem “conhecer a natureza última e o valor de todas as criaturas e a sua ordenação para a glória de Deus”.

338. Nada existe que não deva a sua existência a Deus Criador.

O mundo começou quando foi tirado do nada pela Palavra de Deus: todos os seres existentes, toda a natureza, toda a história humana radicam neste acontecimento primordial: é a própria gênese, pela qual o mundo foi constituído e o tempo começado.

339. Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias.

Acerca de cada uma das obras dos seis dias está escrito: “E Deus viu que era bom”.

“Foi em virtude da própria criação que todas as coisas foram estabelecidas segundo a sua consistência, a sua verdade, a sua excelência própria, com o seu ordenamento e leis específicas”.

As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, refletem, cada qual a seu modo, uma centelha da sabedoria e da bondade infinitas de Deus.

É por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura, para evitar o uso desordenado das coisas, que despreza o Criador e traz consigo consequências nefastas para os homens e para o seu meio ambiente.

340. A interdependência das criaturas é querida por Deus.

O Sol e a Lua, o cedro e a florzinha, a águia e o pardal: o espetáculo das suas incontáveis diversidades e desigualdades significa que nenhuma criatura se basta a si mesma. Elas só existem na dependência uma das outras, para se completarem mutuamente, no serviço uma das outras.

341. A beleza do universo: a ordem e a harmonia do mundo criado resultam da diversidade dos seres e das relações existentes entre si.

O homem descobre-as progressivamente como leis da natureza. Elas suscitam a admiração dos sábios.

A beleza da criação reflete a beleza infinita do Criador, a qual deve inspirar o respeito e a submissão da inteligência e da vontade humana.

Deus ama todas as suas criaturas e cuida de cada uma

342. A hierarquia das criaturas é expressa pela ordem dos “seis dias”, partindo do menos perfeito para o mais perfeito.

Deus ama todas as suas criaturas e cuida de cada uma, até dos passarinhos. No entanto, Jesus diz: “[Vós] valeis mais do que muitos passarinhos” (Lc 12, 7), e ainda: “Um homem vale muito mais que uma ovelha” (Mt 12, 12).

343. O homem é o ponto culminante da obra da criação. A narrativa inspirada exprime essa realidade, fazendo nítida distinção entre a criação do homem e a das outras criaturas…

344. Existe uma solidariedade entre todas as criaturas pelo fato de todas terem o mesmo Criador e todas serem ordenadas para a sua glória:

Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o meu senhor irmão Sol, o qual faz o dia e por ele nos alumia. E ele é belo e radiante com grande esplendor: de Ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem […].

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é tão útil e humilde, preciosa e casta […].

Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa, e produz variados frutos, com flores coloridas, e verduras […].

Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças e servi-O com grande humildade (219).

A criação foi feita em vista do culto e da adoração de Deus

345. O sábado, fim da obra dos seis dias.

O texto sagrado diz que “Deus concluiu, no sétimo dia, a obra que fizera” e que assim “se completaram o céu e a terra”; e no sétimo dia Deus descansou e santificou e abençoou este dia (Gn 2, 1-3).

Estas palavras inspiradas são ricas de salutares ensinamentos:

346. Na criação, Deus estabeleceu uma base e leis que permanecem estáveis sobre as quais o crente pode apoiar-se com confiança, e que serão para ele sinal e garantia da fidelidade inquebrantável da Aliança divina.

Por seu lado, o homem deve manter-se fiel a esta base e respeitar as leis que o Criador nela inscreveu.

347. A criação foi feita em vista do sábado e, portanto, do culto e da adoração de Deus.

O culto está inscrito na ordem da criação – Operi Dei nihil preponatur — Nada se anteponha à obra de Deus (ao culto divino)” – diz a Regra de São Bento, indicando assim a justa ordem das preocupações humanas.

348. O sábado está no coração da Lei de Israel. Guardar os Mandamentos é corresponder à sabedoria e à vontade de Deus, expressas na sua obra da criação.

A obra da criação culmina na obra maior da Redenção

349. O oitavo dia. Mas para nós, um dia novo surgiu: o dia da Ressurreição de Cristo.

O sétimo dia termina a primeira criação. O oitavo dia começa a nova criação. A obra da criação culmina, assim, na obra maior da Redenção.

A primeira criação encontrou o seu sentido e culminaria na nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira.

Resumindo

350. Os Anjos são criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e servem os seus planos salvíficos em relação às outras criaturas: Ad omnia bona nostra cooperantur Angeli – Os Anjos prestam a sua cooperação a tudo quanto diz respeito ao nosso bem”.

351. Os Anjos assistem a Cristo, seu Senhor. Servem-No de modo particular no cumprimento da sua missão salvífica em relação aos homens.

352. A Igreja venera os Anjos, que a ajudam na sua peregrinação terrestre e protegem todo o gênero humano.

353. Deus quis a diversidade das suas criaturas e a sua bondade própria, a sua interdependência e a sua ordem.

Destinou todas as criaturas materiais para o bem do gênero humano. O homem, e através dele toda a criação, tem como destino a glória de Deus.

354. Respeitar as leis inscritas na criação e as relações derivantes da natureza das coisas é princípio de sabedoria e fundamento da moral.