Sentada às margens do Lago de Genesaré, uma jovem chamada Isabel trabalhava com afinco na confecção de redes de pesca. Embora conhecesse a arte tão bem ou melhor do que as outras meninas, encontrava um grande obstáculo para desempenhar seus afazeres: desde pequena padecia de paralisia na mão direita. Por causa disso, no povoado tinham-lhe posto como alcunha “mão seca”. E, mais do que a deficiência, doíam-lhe a rejeição e o desprezo que sofria, inclusive por parte de alguns familiares. 

Certa manhã, o silêncio da região, apenas quebrado pelo leve balouçar das ondas do lago, foi interrompido bruscamente por gritos vindos de longe. Assustada, Isabel reconheceu a voz de sua amiga, Miriam, que dela se aproximava com muita pressa:

— Isabel, Isabel! Você não imagina! Não vai acreditar!

— O que aconteceu, Miriam?

Ansiosa, deixou cair a linha e a agulha no chão, enquanto a amiga, ofegante, tentava terminar de falar:

— Fui buscar água no poço e dos lábios de todos que encontrei pelo caminho ouvi a mesma coisa: há um profeta em Israel! Ele tem feito milagres grandiosos! Dizem que cura toda espécie de doenças…

Isabel estremeceu interiormente: “Então há esperança para a minha enfermidade! Como será esse profeta tão poderoso, ao qual até as doenças obedecem?” Miriam, impaciente por ver sua amiga tão pensativa, insistiu:

— Vamos, Isabel! O que estamos fazendo ainda aqui? Não quero perder esta oportunidade que só pode ter vindo do Céu!

As duas jovens saíram pelas ruas e praças em busca daquele Rabi. Andaram, andaram e andaram, perguntado por Ele, até que no fim do dia, já exaustas, se encontraram com uma multidão sentada sobre a relva. Estavam comendo pães e peixes.

Aproximando-se de uma mulher, Isabel disse timidamente:

— Senhora, permita-me perguntar… O que está acontecendo?

— Ó menina, você é a única que não sabe? Jesus pediu a seus discípulos para nos dar de comer. Eles tinham apenas cinco pães e dois peixes, mas o Mestre mandou que os distribuíssem… e não só deu para todos nós, como sobrou! Veja, peguei inclusive para minhas crianças que estão resfriadas e não puderam vir!

“Nossa! Que milagre! Jesus não pode ser uma pessoa comum! Como eu gostaria de servir com todo o meu ser a esse enviado de Deus!”, pensava Isabel, admirada. No entanto, a menina abaixou tristemente a cabeça, imaginando que, tendo a “mão seca”, aquele Varão tão grandioso não gostaria dela.

Com os olhos cheios de lágrimas, Isabel viu aproximar-se um jovem discípulo, cujo olhar transmitia a pureza de sua alma e o amor que lhe abrasava o coração: era João, o Apóstolo. Pegando um dos pães que trazia, estendeu-o na direção da mão paralisada da menina. 

Constrangida, tentou pegá-lo com a mão esquerda, mas João retirou-o e meneou a cabeça. Muito desconcertada e sem nada compreender, ela fez um grande esforço para, amparando-se com o outro braço, levar a mão direita até o pão e – oh, prodígio! –, quando o tocou, ficou inteiramente curada!

— Que milagre impressionante! – exclamou Isabel – Nem sei o que dizer! Agora, sim, poderei tecer redes sem dificuldade nenhuma e, muito mais do que isso, poderei me oferecer para servir o Mestre, sem medo a ser rejeitada! Com que palavras, ó discípulo, poderei agradecer-lhe?

— Não agradeça a mim – respondeu o Apóstolo –, mas a Jesus. Fui apenas seu instrumento.

“Nossa! Se assim é o discípulo, como será o Mestre?”, pensou Isabel. E saiu correndo ao encontro de Jesus.

[caption id="attachment_267342" align="alignright" width="372"] Constrangida, tentou pegá-lo com a mão esquerda, mas João retirou-o e meneou a cabeça...[/caption]

Logo, porém, se viu impedida de continuar: uma aglomeração de gente disputava um lugar, tornando totalmente impossível d’Ele aproximar-se. Miriam, menos arrebatada e agindo como porta-voz da sensatez, disse:

— Isabel, eu sei que o seu maior desejo é ficar junto de Jesus… Hoje, infelizmente, você não conseguirá fazê-lo. É melhor voltarmos amanhã. E Jesus também precisa descansar…

O argumento a convenceu. No dia seguinte, levantou-se bem cedo e partiu para o ansiado encontro com o Mestre. Estando já perto, contudo, deparou-se com uma turba de descontentes. Uns choravam, outros gritavam, muitos reclamavam:

— É hora de acabar com essa farsa!

— Grandes milagres, grandes homens, sempre acabam numa grande decepção! É bom desconfiar…

— Mandar comer carne humana, isto é intolerável!!!!

— Beber seu Sangue, comer sua Carne?!… Coitado, ficou louco!

— Na verdade, eu só tinha vindo por causa do pão que Ele deu ontem. Estava uma delícia…

— E os milagres que Ele faz? Não serão coisas do demônio?

Cada palavra era uma punhalada no coração de Isabel. Quem era, de fato, seu já tão amado Jesus? Sentada numa pedra, a menina ficou paralisada e perplexa.

Enquanto aquele vozerio ainda ressoava em seus ouvidos, a jovem olhava para sua mão curada, sem saber que rumo tomar. Muitas daquelas pessoas eram vizinhos e conhecidos, gente na qual seus pais e familiares confiavam. Seria realmente um falsário o Doce Mestre a quem desejava servir? E aquele discípulo tão bondoso teria recorrido aos poderes do maligno para curá-la?

Inclinando-se, começou a chorar. De repente sentiu uma mão suave como seda pousar sobre seu ombro. Com o coração tomado pela dúvida e pela incerteza, virou-se para trás, inquieta, deparando-se com um olhar sereno, afetuoso, repleto de doçura, que a fitava com indizível carinho. Era uma bela e distinta Senhora.

— Isabel, minha filha… Surpresa e encantada, a jovem perguntou:

— A Senhora conhece o meu nome?!

— Não apenas teu nome, como também a grande dúvida que te assola. Filhinha, dou-te um conselho: não deixes que as vozes do mundo abalem as convicções que Deus colocou em tua alma. Jamais confies naqueles que gritam como energúmenos contra Jesus. A graça nunca mente! E não te esqueças: se queres seguir com fidelidade meu Divino Filho, deves preparar-te para enfrentar contrariedades e desmentidos.

Aquela nobre Senhora tomou- -a pela mão e conduziu-a até Jesus. Isabel, de joelhos, agradeceu ao Bom Mestre por ter curado sua mão, por meio de João, mas, sobretudo, por ter curado a sua alma tão fraca, por meio de Maria! (Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2019, n. 213, p. 46-47)