- Ah, meu caro Sr. Augusto, hoje recebi uma má notícia! Nosso principal benfeitor escreveu-me anunciando que não poderá colaborar com a soma prometida!
- Não é possível, Pe. Silvio! Isso complica muitíssimo a finalização das obras do novo templo! Como faremos para arrecadar a quantia necessária?
- Só vejo uma solução: percorrer as aldeias vizinhas pedindo aos nossos paroquianos doação de tudo o que precisamos: pedras, tinta, dinheiro para pagar os vitrais...
- Sim, Pe. Silvio. Conheço esta boa gente e não duvido de que darão tudo quanto puderem, de acordo com suas possibilidades.
- O que mais sinto, porém, é a demora em oferecer um templo digno para Deus!
Sentada num canto do escritório de seu pai, a pequena Gabriela ocupava-se em recortar bonecas de papel, sem prestar muita atenção na conversa que ele mantinha com o pároco. Entretanto, quando começou a entender do que se tratava, soltou logo a tesoura que segurava nas mãos permanecendo imóvel e pensativa... Um templo digno para Deus!
Gabriela tinha apenas sete anos. Estava se preparando para a Primeira Comunhão e sonhava com receber Jesus no novo templo que estava sendo construído para substituir a antiga matriz, já quase reduzida a ruínas.
No dia seguinte, sua governanta levou-a a passear pelos campos vizinhos, como fazia todas as tardes. E, enquanto brincava perto do rio, a menina descobriu em um recanto certas pedras de um tom róseo muito bonito. Logo que as viu, lembrou-se do Pe. Silvio. Não tinha dito o bondoso sacerdote que precisava de pedras para a nova igreja? E aquelas eram tão lindas que certamente seriam do agrado de Jesus!
Decidiu, então, levá-las uma a uma para casa. E assim o fez durante vários dias, embora lhe custasse bastante ter de carregar aquele peso considerável para suas forças infantis.
A governanta estranhava aquela atitude e lhe perguntava por que fazia isso. Gabriela, contudo, respondia:
- É um segredo!
Algumas semanas depois, a menina viu o Pe. Silvio visitar seu pai mais uma vez. Ouviu-o, então, contar-lhe que já lograra juntar quase tudo o que faltava para finalizar a igreja. O bom pároco só se lamentava de não ter conseguido ainda o suficiente para pagar o tabernáculo. Havia pedido ao Dr. Gilberto e este lhe dissera não ser possível arcar com a despesa no momento.
Gabriela ficou de boca aberta! Como era possível que a seu padrinho, o homem mais rico da cidade, lhe faltasse dinheiro para algo tão importante? Talvez estivesse passando por uma situação difícil e não queria contar a ninguém...
Correu até o quarto, quebrou seu cofrinho e veio depositar nas mãos do sacerdote todas as moedas que tinha. Em seguida, tomando um ar solene, proclamou:
- Pe. Silvio, isto é para ajudar a construir o sacrário. E tenho algo ainda melhor...
Sem dar tempo para qualquer resposta, saiu correndo de novo e logo voltou cambaleante, carregando uma bela pedra rósea nas mãos. Ainda ofegando pelo esforço, exclamou:
- Tenho mais onze, cada qual mais bonita. Creio que elas vão agradar muito a Jesus!
O Pe. Silvio ficou comovido e, ao despedir-se da família, pensava na melhor forma de usar as doze peças de quartzo rosa encontradas pela menina. Não eram pedras preciosas, mas, bem trabalhadas e polidas, poderiam compor uma estupenda moldura para o sacrário. Sr. Augusto saiu para acompanhá-lo até a casa paroquial e Gabriela ficou sozinha em casa com sua governanta.
Minutos depois tocou a campainha. Era o Dr. Gilberto que decidiu entrar brevemente para cumprimentar a afilhada.
- Boa tarde, Gabriela! Vejo-te encantadora e bem comportada, como sempre. Conta-me o que tens feito nestes dias, minha pequena.
- Estou juntando pedras para a construção da igreja! Venha vê-las. São bem grandes e de uma cor especial!
Tomando-o pela mão, a menina conduziu o padrinho até o local onde as guardava com todo cuidado.
- São muito lindas! Como fizeste para consegui-las?
- Achei-as junto ao rio. Em segredo fui trazendo uma de cada vez ao voltar do passeio. E também estou colaborando na coleta que o Pe. Silvio está fazendo para terminar o sacrário. Quero que ele esteja belo e reluzente no dia da minha Primeira Comunhão!
Dr. Gilberto permaneceu alguns instantes em silêncio, lembrando-se de sua negativa ao Pe. Silvio. Dissera-lhe não dispor de dinheiro por ora, mas a realidade não era essa... Acostumado a mandar, ficara muito ofendido pelo fato não lhe terem consultado sobre o desenho do sacrário. Com o fino bom gosto que possuía e que todos elogiavam, teria sugerido adorná-lo com uma orla de belas pedras... como aquelas, por exemplo!
- Queres vender-me tuas pedras, Gabriela?
A pequena fitou o padrinho e, com os olhos brilhantes de entusiasmo, respondeu-lhe:
- Jamais! Já as ofereci ao padre. E como o senhor está passando por dificuldades, dei a ele também todas as moedas do meu cofrinho.
Corado de vergonha, o Dr. Gilberto abriu sua carteira, assinou um cheque, sem preencher a quantia, e colocou-o nas mãozinhas de Gabriela, dizendo-lhe:
- Guarda isto com muito cuidado e entrega-o nas mãos do pároco. Diz-lhe que é para fazer um sacrário maravilhoso para acolher Jesus no dia de tua Primeira Comunhão.
E para não ser traído pela emoção, despediu-se rapidamente, deixando a menina com o cheque nas mãos. Ela ficou sem saber muito bem o que tinha acontecido, mas disposta a encaminhar com todo cuidado aquele valioso presente.
Passados poucos meses, a paróquia se encontra em festa: os sinos repicam e a multidão se comprime para assistir à solene dedicação da nova igreja. O povo se extasia ante os sólidos muros de pedra, a imponência das torres e a fulgurante policromia dos vitrais. Bem no centro do altar-mor, inspirando a piedade e o fervor dos fiéis, reluz um tabernáculo de ouro emoldurado por magníficas pedras róseas, no qual, ao término da cerimônia, o Bispo depositará pela primeira vez as Sagradas Espécies.
No primeiro banco, sentada ao lado de seu padrinho, destaca-se Gabriela, toda vestida de branco e radiante de alegria, pois, naquele mesmo dia, seu Jesus adorado penetrará por primeira vez em seu coração. Com o mesmo ardor com que colaborou de modo tão eficaz na consecução do rico sacrário, também se esmerou ela, ao longo deste tempo, em santificar sua alma, a fim de agradar a Nosso Senhor. Não será, portanto, apenas num inerte tabernáculo de metal que Jesus Eucarístico estabelecerá sua morada, mas, sobretudo, em sua alma inocente e generosa, um verdadeiro templo digno para Deus!(Revista Arautos do Evangelho, Março/2013, n. 135, p. 46-47)