Nasceu Pedro Damião em Ravena em 1007. Era ainda pequenino quando perdeu o pai e mãe. Um dos irmãos, casado, incumbiu-se de educá-lo; mas tanto ele como sua esposa era avarentos, duros, e tratavam o menino como se fosse um escravo. Só o olhavam de soslaio, davam-lhe a pior alimentação, deixavam-no descalço e mal vestido, cobriam-no de pancadas.
Finalmente, quando Pedro cresceu mais um pouco, mandaram que guardasse os porcos. Naquele estado achou, um dia, uma moeda de prata e julgando-se rico, ficou sem saber o que compraria que mais lhe causasse prazer. Finalmente, murmurou entre si: "Esse prazer passará imediatamente: é melhor dar o dinheiro a um sacerdote, para que ofereça o santo sacrifício a meu pai." Bem o disse, logo o fez.
Outro de seus irmãos, chamado Damião, tirou-o da miséria, abrigou-o em sua casa e tratou-o com ternura e afetos paternais. Esse Damião foi arcipreste de Ravena e em seguida monge, e ao que se crê foi dele que Pedro tomou o apelido que o distingue.
Pelos cuidados do irmão, Pedro estudou primeiramente em Faiença, depois em Parma, onde teve por mestre a Yves; e foi tão grande o seu progresso nas letras humanas, que não tardou em ser capaz de ensiná-las, atraindo-lhe a reputação, e de todos os lados, grande número de discípulos.
Vendo-se rico e honrado no vigor da mocidade, não sucumbiu absolutamente às tentações da vaidade e do prazer; pelo contrário fez salutares reflexões: "irei apegar-me a esses bens que devem perecer? E se a eles devo renunciar por outros maiores, não será mais agradável a Deus fazê-lo eu desde agora?"
Começou, pois, a usar um cilício debaixo de hábitos de fino estofo , a dedicar-se aos jejuns, às vigílias e às preces. De noite, se experimentava excessivos impulsos de sensualidade, levantava-se e mergulhava no rio: depois, visitava as igrejas e recitava o saltério antes do ofício. Dava muitas esmolas, nutria frequentemente os pobres e servia-os com as suas próprias mãos.
Resolveu, finalmente, abandonar de vez o mundo e abraçar a vida monástica, mas fora da sua terra, de medo de que tal ideia tratassem de afastá-lo parentes e amigos. Estava pensando nisso, quando encontrou dois ermitãos do deserto de Fonte Avellana, dos quais ouvira falar; abrindo-se com eles, fortificaram-no ambos no plano, e, dando o jovem sinais de pretender retirar-se com eles, prometeram-lhe que o abade o acolheria.
Pedro ofereceu-lhes um vaso de prata para que o levassem ao abade, mas os dois responderam que era demasiadamente grande e que os embaraçaria no caminho... Pedro admirou-se do desapego daqueles homens. Para submeter-se a uma prova, passou quarenta dias numa cela semelhante à dos ermitãos.
Depois, tendo resolvido, fugiu dos seus e rumou para Fonte Avellana, onde, segundo o uso, o confiaram a um dos irmãos, incumbido de o instruir. Este irmão, depois de o conduzir à cela, mandou que despisse a roupa, revestiu-o de um cilício e tornou a levá-lo à presença do abade, o qual imediatamente mandou o revestissem de uma cógula.
Admirou-se Pedro de lhe darem sem perda de tempo o hábito, independentemente de qualquer prova; mas submeteu-se à vontade do superior, embora, naquele tempo, não estivesse separado da profissão o recebimento do hábito.
O deserto de Fonte Avellana, dedicado à Santa Cruz, encontrava-se na Úmbria, na diocese de Eugubio, e nele passara algum tempo São Romualdo. Os ermitãos que o habitavam viviam aos pares em celas separadas, constantemente entretidos na salmodia, na oração e na leitura.
Viviam de pão e água em quatro dias da semana; nas terças e quintas, comiam um pouco de legumes por eles próprios cozidos nas celas. Nos dias de jejum, recebiam a ração de pão e, só tinham vinho para o santo sacrifício, ou para os doentes.
Caminhavam sempre descalços, submetiam-se à disciplina, faziam genuflexões, batiam o peito, ficavam de braços estendidos cada um segundo as suas forças e devoção. Depois do ofício da noite, recitavam todo saltério antes do amanhecer.
Pedro velava muito antes que fossem tocadas as matinas, e não deixava de velar ainda, depois como os outros persuadido de que as devoções particulares dever ser praticadas sem prejuízo da observância geral. Aqueles vigílias excessivas lhe causaram uma insônia da qual se curou a muito custo: depois, todavia, passou a comportar-se com mais sensatez.
Concedendo considerável tempo ao estudo, tornou-se tão sábio nas Sagradas Escrituras como o fora nos livros profanos. Começou, portanto, por ordem do superior, a dirigir exortações aos confrades; alastrando-se-lhe a reputação, o santo abade Guido de Pomposa, perto de Ferrara, rogou ao abade de Fonte de Avellana que lhe enviasse para ensinar durante algum tempo na sua comunidade que se constituía de cem monges.
Pedro Damião lá ficou dois anos, pregando com excelentes frutos; tendo-o chamado de volta o seu abade, não tardou a ser enviado para a mesma função ao mosteiro de São Vicente, perto de Pedro Pertusa, também bastante numeroso.
Finalmente o abade de Avellana o declarou seu sucessor, com o consentimento dos irmãos, porém contra a vontade de Pedro; depois da morte desse abade, não somente governou Pedro, e aumentou a comunidade, como também fundou mais cinco semelhantes.
Assim era Pedro Damião. Quando soube em 1045 da ascensão do Papa Gregório VI, deu mostras de grande júbilo nas suas cartas. Rejubilava-se pela restauração dos costumes e da disciplina eclesiástica, e iria ajudar poderosamente os sucessores do pontífice no grande empreendimento, sobretudo São Leão IX e o seu arquidiácono Hildebrando, o qual, mais tarde, se tornou Gregório VII.
Para tanto compôs vários escritos. Entre outros, escreveu a vida de São Rodolfo, bispo de Eugubio; a vida e as terríveis penitências de São Domingos, o Escudado, que ainda vivia.
Conhecendo o Papa Estevão IX, antes cardeal Frederico da Lorena, o mérito de São Pedro Damião, tirou-o da solidão e fê-lo bispo de Óstia e primeiro dos cardeais, como digníssimo do episcopado e necessaríssimo aos assuntos da Igreja.
O Papa, os Bispos e todos os que amavam a Igreja assim acreditavam; mas Pedro não conseguia resolver-se a abandonar o retiro e resistia com todas as forças de que dispunha. Foi preciso ameaçá-lo de excomunhão, no caso de continuar a se obstinar, e o Papa, pegando-lhe a mão, lhe deu o anel e o bordão pastoral para significar que desposava a igreja de Óstia. Contudo, Pedro queixou-se sempre da violência de que fora vítima, fazendo tudo para desincumbir-se do bispado.
O santo Cardeal-Bispo de Óstia aspirava sempre a voltar à solidão. Um santo amigo, o cardeal Hildebrando, que mais tarde foi o Papa Gregório VII a tal se opunha, julgando-o mais útil e necessário no governo da Igreja. Daí amigáveis queixas de Pedro.
Incorrera a cidade de Ravena na excomunhão por ter aderido ao cisma do último anti papa com o seu arcebispo. Tende esse arcebispo morrido no primeiro dia de janeiro de 1070, enviou o Papa Alexandre II, algum tempo depois, Pedro Damião a Ravena, com o poder de retirar a excomunhão que ainda pesava sobre o povo, certo de que ninguém estava mais indicado do que Pedro para aquela função, tanto pela autoridade de que desfrutava por si mesmo, como por ser filho daquela Igreja.
Regressando a Roma, instalou-se o santo ancião, no primeiro dia de viagem, em Faiença, no mosteiro de Nossa Senhora, fora da porta. Lá o acometeu a febre que foi crescendo cada vez mais.
Pela meia-noite do oitavo dia, mandou o santo que os monges acompanhantes recitassem, em volta do leito, as noturnas e as matinas ou louvores do Trono de São Pedro.
Pouco depois de haverem os monges terminado, o santo entregou o espírito em 22 de Fevereiro de 1072. Honrado, desde então, como santo da igreja de Faiença, estendeu-se-lhe o culto nos nossos dias à Igreja universal como doutor.