Basílio era padre na Igreja de Ancira, quando do bispo Marcelo. Ensinando as verdades cristãs, combatendo erros e mentiras, tudo fazia para levar a Deus as almas todas.
Um dia, reuniram-se em Constantinopla (360) os bispos arianos que acordaram em proibi-lo de pregar coisas que lhes não agradavam. Ora, na Palestina, duzentos e trinta bispos, num concílio, ao contrário, resolveram encorajá-lo a levar avante a obra a que se dera de corpo e alma. A Igreja, naqueles idos, passava por uma grande agitação, e Basílio, intimado a comparecer diante do imperador, foi por este interrogado.
O futuro mártir soube, maravilhosamente, defender-se, mas, com o advento de Julião, o Apóstata, não teve igual sorte.
Foi Constantino quem mais incentivo prestou à convocação de Nicéia facilitando-a (325). No primeiro concílio ecumênico, definiu-se o credo cristão contra as primeiras heresias, das quais a mais famosa dói o arianismo, de Arius, presbítero, a qual negava a igualdade de Deus Filho com Deus Pai.
Meio século depois do imperador Constantino lançar o edito, o imperador Julião, seu sobrinho, repudiou a fé cristã, procurando restabelecer o paganismo. Diante do procôncul Saturnino, Basílio foi acusado de provocar tumultos, falando desrespeitosamente do imperador, dizendo que, impunemente, violava as leis. Foi, pois, estirado ao cavalete, e atormentado.
Dizia, então, o Santo, dirigindo-se a Deus:
- Senhor, Deus de todos os séculos, eu te rendo graças por me achares digno de caminhar pela sendo do sofrimento,. Perseverando, estarei perto da vida, e me encontrarei na companhia daqueles que tu fizeste herdeiros de tuas promessas, e que delas já estão a gozar.
Saturnino, violentamente, procurava induzir Basílio a sacrificar aos ídolos, mas o que ouvia, em resposta, era só negativas e negativas. Julião, informado daquela resistência, exasperou-se. Na expedição contra os persas, passava por Ancira, e ordenou que lhe trouxessem o renitente.
Basílio, aberta e corajosamente, disse-lhe que era cristão, e que nada o demoveria, levando-o a sacrificar. E acrescentou:
- Fica sabendo que, como quiseste perder a lembrança dos benefícios que recebeste de Deus, Ele também há de se esquecer da bondade, quando chegar a hora da tua punição. Tu não tens qualquer respeito pelos altares, profanando-os, atirando-os por terra. A ti também te atirará, arrancando-te do trono. Tu tens prazer em violar a lei do Senhor. Pois teu corpo ficará sem sepultura, e será calcado por pés sem conta, depois que tua alma já tenha partido sobre o efeito das mais violentas dores.
Disse o apóstata:
- Meu desejo era salvar-te, mas já que desrespeitaste minha posição, falando-me com insolência, devo vingar a majestade do império horrivelmente ultrajada em minha pessoa. Quero que todos os dias te arranquem do corpo sete tiras de carne.
A execução ficou a cargo do conde Fromentino e Basílio, com infinitos de paciência, suportou a tortura.
Disse o santo, um dia, ao carrasco:
- Quero falar ao imperador.
Com alegria o conde ouviu aquelas palavras: Basílio, pensava, ia ceder, sacrificar aos deuses para livrar-se do tormento. Quem não o faria?
Fromentino abalou a falar com o imperador. Disse-lhe:
- Basílio cedeu. Deseja falar a Vossa Majestade.
Julião deixou o palácio a prelibar a vitória, dirigindo-se ao templo dedicado a Esculápio, onde o heróico supliciado jazia.
Diante do apóstata, Basílio perguntou:
- Onde estão teus sacrificadores e teus adivinhos? Disseram-te eles que eu te pedi audiência?
- Eu pensei, respondeu Julião, que estavas prestes a reconhecer os deuses e pronto para unires a mim no sacrifício que lhes ofereço...
- Nada estã tão distante de mim, tornou Basílio.
E, tomando o santo uma longa tira de carne que lhe pendia do corpo, arrancou-a, atirando-a ao rosto do imperador, exclamando:
- Toma, Julião, e come este pedaço, já que o amas tanto!
E acrescentou:
- Declaro-te que, para mim, a morte é um ganho: é por Jesus Cristo que eu sofro, Ele, meu refúgio, meu amparo e minha vida.
Fromentino empalidecera, temendo pela própria vida. Gulião esse, estava branco de ódio. E, gritando para que a Basílio torturassem redobradamente, fazendo-lhe incisões mais profundas, que lhe chegassem até as entranhas ouviu-o no suplício orar:
- Deus infinitamente bom, todo misericordioso, que sofres comigo, que sofres por nós, abaixa teus olhos para teu servidor. Concede-me a graça de acabar felizmente a vida, de perseverar na fé que meus pais me transmitiram, de merecer o teu reino.
Julião, no dia seguinte, deixava Ancira, demandava Antioquia. E Basílio, à noite, na prisão, miraculosamente curado por Deus, encolerizando Fromentino, foi condenado a ter o corpo perfurado por ferros incandescentes. E à medida que executavam tão bárbara sentença, Basílio ia pronunciando devotamente:
- Jesus, minha luz, Jesus minha esperança eu te rendo graças, deus de meus pais, que me retiras a alma desta morada de morte. Não permitas que eu profane o sagrado nome que levo: é o vosso, Senhor, conserva-o em mim, puro e sem mancha. Recebe o espírito de teu servidor, que morre confessando que és o único e verdadeiro Deus.
Assim, dizendo, Basílio expirou. Era a 28 de Junho de 362 e o santo mártir recebia a gloriosa palma do martírio diante dos carrascos estupefatos. (Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume V, p. 222 à 226)