André, filho de pais originários de Cartagena, nasceu em 1534, perto de Múrcia.
Batizado na igreja-catedral desta cidade, onde o tio era capelão, o bem-aventurado, todavia, passou a infância em Alcantarilla e a adolescência, com um outro tio, em Valência, cidade que deixou aos vinte anos. Tendo trabalhado com ardor, economizou considerável quantia, que destinara a irmã, para, assim, assegurar-lhe certa posição social.
A caminho, porém, foi assaltado por um bando de ladrões. Despojado do que levava, longe de se abater, conformou-se. O sucedido abria-lhe os olhos. Principiou a meditar em quão frágeis eram os bens da terra, e a alegria que lhe ia na alma, porque pensava na recepção que lhe fariam, ao chegar tão enriquecido, transformou-se em dor, por só pensar em coisas vãs.
André santificava-se.
Resolveu, então, sem mais delongas, consagrar-se ao Senhor. E, torcendo a rota que o levava para Múrcia, dirigiu-se a Cartagena. Ali, aos observantes, pediu-lhes que o admitissem.
Aceito em 1556, André em 63, passou para os descalços da província de São José, onde os observantes eram mais rigorosos. O jovem, desde aquela data, numa pobreza extrema, dado todo à prática da quotidiana penitência, tudo fazia para encaminhar a alma a mais alta perfeição.
Olhando-se como o mais ínfimo dos homens e o mais dos pecadores, desincumbiu-se com humildade dos mais obscuros e aviltantes serviços do convento. A bondade que o caracterizava, um dia, fê-lo sair pelas ruas, a mendigar, a levar nos ombros os fardos que, de ordinário, levam os animais de carga.
E a Deus, quando o povo o olhava com ternura e elogiava, dirigia-se, com imensa tristeza, e dizia:
- Meu Deus, fazei com que eu seja verdadeiramente como eu julgo que o sou.
Austero, jejuando com grande rigor macerando-se sem piedade, toda a vida do bem-aventurado André Hibermon foi um contínuo e incansável subir para o céu. Usando um terrível cilício que ele mesmo fizera com grosseiras lâminas de bruto ferro, disciplinava-se até o sangue. Por espírito de pobreza, propôs-se uma obrigação que devia cumprir sempre e sempre: a de não deixar que nada se perdesse. Assim, quando então se encarregava do refeitório, recolhia, com todo o cuidado, todas as sobras que ficavam sobre a mesa e dispersas pelo chão, mesmo pequeninos grãos e ínfimas migalhas de pão, e misturando-os à água, num caldeirão, com aquilo, no dia seguinte, alimentava-se.
O socorro aos pobres era sistemático. E, quando podia, recomendava-os às pessoas caridosas. André aplicou-se afanosamente ao trabalho de levar pecadores a Deus. E a sua palavra inflamada e o clarão da sua virtude converteram a muitos e empedernidos desviados, mesmo a mouros, então em grande número na Andaluzia.
Como um novo Benedito, ignorante, iluminado pela graça divina, a quantos sábios doutores, vindos de longe, para consultá-lo sobre este ou aquele árduo ponto da Escritura santa, não maravilhou com a singeleza dos esclarecimentos tão concisos quanto sublimes?
Como a presença de Jesus na Eucaristia o punha numa euforia sem par! E o que de mais honroso lhe parecia, era, durante a missa, ajudar o padre no santo sacrifício. Ajudar! Auxiliar! Sempre e sempre alegrar-se com as coisas mais pequenas, ocupar-se com o que o deixasse mais despercebido de todos.
Depois da comunhão, como o fazia São Francisco, o pobrezinho, ficava imóvel, todo, e só, absorvido em Jesus Cristo, alheio a todas as preocupações terrestres, inundado de uma alegria que não tinha limites.
Grande era a devoção do bem-aventurado André por Nossa Senhora. Visitava-lhe constantemente os santuários, recitava-lhe o pequeno ofício, rezava-lhe a coroa das sete alegrias. E os anjos, recompensado-lhe a angélica pureza da alma, visitavam-lhe com muita freqüência a humilde cela quase nua de objetos necessários à mínima comodidade.
Deus concedeu-lhe o dom dos milagres e da profecia. Quatro anos antes da morte, soube do dia e da hora em que deixaria a terra, para ir gozar do céu. E, quando aquele momento chegou, era de ver o júbilo que do bem-aventurado André se apossou. Recebeu os últimos sacramentos com incomensurável satisfação.
Terminada a coroa de Maria, docemente entregou a alma nas mãos do Criador. Estava então no convento de Gandia, era no dia 18 de Abril de 1602 e desaparecia com sessenta e oito anos de idade.
Os milagres que ocorreram foram infindos. Pio VI beatificou-o, solenemente, no dia 22 de Maio de 1791.
(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VII, p. 63 à 66)