Era grego, nascido na Ática, numa vila perto de Sterion, mosteiro famoso de São Lucas, o jovem. Seus pais eram pobres, e ele não aprendeu nem as letras nem qualquer ofício; com a idade de oito anos, a mãe o mandou guardar ovelhas. Desde então, pôs-se a cantar bem alto: Senhor tende piedade de nós, em grego, Kyrie eleison, o que fazia noite e dia; e essa devoção durou toda a vida. A mãe, não podendo dela afastá-lo, creu que estivesse possuído pelo demônio, e o levou aos monges de Sterion, que o encerraram e maltrataram, sem poderem faze-lo parar com o canto. Sofria tudo com paciência, mas recomeçava sempre Kyrie eleison. Voltando a casa, junto de sua mãe, tomou de um machado e uma faca, e, subindo à montanha, cortava madeira de cedro e delas fazia cruzes, que plantava nos caminhos e nos lugares inacessíveis, louvando a Deus continuamente.
Construiu para si, sobre a montanha, uma pequena choupana de madeira, e ali viveu algum tempo sozinho, trabalhando sem cessar. Em seguida, foi a Neupato, ou Lepanto, onde um monge, de nome Bartolomeu, se uniu a ele e não mais o largou. Embarcaram para Otranto, na Itália, e de lá foram a diversos lugares, ora como insensato. Jejuava todos os dias até à tarde, não consistindo o seu alimento senão em pão e água; todavia, ele não era magro. Passava a maior parte das noites rezando, de pé. Vestia-se somente com uma túnica que lhe caía até os joelhos, conservando as pernas, os pés e a cabeça nus. Levava nas mãos uma leve cruz de madeira, e um gibão na cintura, onde colocava as esmolas que recebia e que empregava sobretudo para comprar frutas, para dá-las às crianças que atraía ao redor de si, a fim de cantar com eles Kyrie elesion.
Foi na Itália que o chamaram peregrino, vale dizer, estrangeiro, e foi na Itália que fez muitos milagres, continuando sempre o canto e exortando todos a fazerem penitência. Mas seus hábitos extraordinários fizeram com que o maltratassem, algumas vezes por ordem dos bispos. Dirigiu-se para Tarento, depois para Trani. Nessa última cidade, reuniu um grupo numeroso de crianças, com as quais passava nas ruas cantando Kyrie eleison. O arcebispo de Bizâncio, que não era mediocremente instruído, perguntou o que se passava. Responderam-lhe que era um jovem grego, que acabava de chegar, e que nada mais sabia do que exclamar Kyrie eleison. O arcebispo mandou chamá-lo e perguntou o porque daquela atitude. Nicolau respondeu tranquilamente:
Senhor, como preceito algum do Evangelho vos é desconhecido, não ignorareis que o Senhor ordenou: Aquele que quiser ser perfeito, tome a sua cruz e siga-me. Sabeis que disse aos discípulos que, se não concertassem e se tornassem como crianças, não entrariam no reino dos céus. Tendo compreendido essas coisas, não me pejei de carregar interior e exteriormente o sinal da cruz e de andar como criança, e não evitei as zombarias dos homens. Se devo continuar ou abandonar esta vida, deixo a vosso critério; porque minha intenção é permanecer junto de vós, se isto não vos desagradar; caso contrário irei para alhures. Ouvindo-o raciocinar com tanto bom-senso, o arcebispo reconheceu que era um servo de Deus, de grande mérito e lhe disse:
- Vejo, pela vossa explicação, que é para obedecer a Deus que tendes comportamento desse gênero; por que haveria eu, pois, de afastar-vos desse caminho? Prefiro que permaneçais aqui até a festa dos santos apóstolos Pedro e Paulo, cantando vossas preces como costumais; cuidarei de vossa subsistência.
O arcebispo queria ainda acrescentar várias outras coisas, quando o bom homem, havendo-o saudado, retirou-se imediatamente para reunir-se às crianças, que o esperavam com impaciência, sobretudo devido às maçãs. Percorreu alegremente com elas, durante três dias, as ruas da cidade, implorando a misericórdia de Deus. Mas no quarto dia, caiu enfermo, e morreu no dia 2 de Junho de 1094, ainda muito jovem. Uma verdadeira multidão desfilou diante de seu leito de enfermo, para pedir-lhe a benção; as crianças, sobretudo, estavam inconsoláveis: o afluxo foi ainda maior nos funerais. Foi enterrado na igreja catedral com grande solenidade, e na sua sepultura se operou grande número de milagres, relatados por testemunhas oculares. Sua canonização foi proposta ao Papa Urbano II, que encarregou o arcebispo de Trani do processo. Era invocado sobretudo pelos náufragos, como São Nicolau de Mira.
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(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume IX, p. 422 à 424)