O apóstolo São João havia, anunciado que o império romano, o império de ferro, acabaria fraccionando-se em umas dezenas de reinos. Os francos formaram um. Vieram do lado de lá do Reno para as Gálias, pelo fim do séculoquinto, e ali se estabeleceram no começo do século sexto. Mesclando-se com os gauleses, antigos habitantes do país, e formando um só povo com a mesma língua, chamaram-se franceses e o país se designou com o nome de França.
O mais ilustre de seus primeiros rei foi Clóvis. Era ainda idólatra, bem como o seu exército, mas tratava com bondade os cristãos, sobretudo os bispos; poupava as igrejas, testemunhando estima pelas pessoas recomendáveis por suas virtudes. Honrava principalmente São Remígio. Mandou restituir à igreja de Reims os vasos sagrados que um soldado havia furtado; e, como o soldado relutasse em obedecer-lhe, puniu-o, matando-o com suas próprias mãos.
Em 493 desposou uma mulher católica, Santa Clotilde, da família real dos Burgundos. Após as exortações desta e uma vitória miraculosa que Deus lhe concedeu nas planícies de Tolbiac, em 496, converteu-se, e foi instruído em viagem por São Vaast, sacerdote de Toul, na Lorena, depois por São Remígio, das mãos do qual recebeu o
batismo, na noite de Natal do mesmo ano, com três mil dos principais francos. Foi assim que Deus, na sua misericórdia, colocou o reino da França no seio da Igreja.
Clóvis era, então, o único rei católico. O imperador romano havia tombado no Ocidente sob os golpes dos hérulos e dos lombardos. Os reis dos godos na Itália, na Espanha, bem como os dos vândalos na África, eram arianos. Os imperadores de Constantinopla estavam quase sempre contaminados com alguma heresia. A conversão de Clóvis espalhou a alegria em toda a Igreja. E essa alegria dura ainda. Jamais um príncipe herético subiu ao trono de França; jamais o reino da França se separou da Igreja Romana; pelo contrário, ofereceu mais de uma vez asilo aos sucessores de São Pedro perseguidos na Itália. Em nossos dias, a França, mesmo em revolução, defendeu Pio IX contra uma seita de ímpios revolucionários, e o reintronizou em Roma.
Em recompensa, quantos favores deus lhe concedeu! Quantos santos nasceram no solo da França! Mais de uma vez, Ele a castigou, mas sempre em sua misericórdia, jamais a deixou cair na heresia e na infidelidade, como tantos outros países; hoje ainda ali ilumina o espírito da fé e da piedade. Abençoemos a Deus por suas graças.
Após nossa pátria celestial e a Igreja Católica que ali nos conduz, o que devemos amar mais acendradamente é a pátria na terra. Jesus Cristo disso nos deu um exemplo eloqüente: chorou a sua. Choremos também, mas sobretudo oremos pela nossa, a fim de que a conserve para sempre e lhe prodigalize suas misericórdias de quinze, ou melhor, de dezoito séculos; que aqui faça florir para sempre a pureza da fé, a união com a Igreja Romana e o zelo pela conversão dos infiéis. (Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume IX, p. 430 à 433)