Ana Maria Taigi santificou-se nos humildes, ásperos e contínuos trabalhos domésticos, a educar sete filhos, casada com um homem teimoso, rude e impaciente. Nascida em Siena, no dia 29 de Maio de 1769, era filha de um escrupuloso farmacêutico, mas péssimo comerciante. Em 1775, estavam de mudança para Roma, buscando melhor vida. Ali, empregou-se a jovem na casa de uma rica senhora. Casada com Domingos Taigi, ou Taeggi, logo-lhe descobriu o gênio impaciente. Honesto, mas ríspido e malcontente com a vida, trabalhava no palácio Chigi.
Ana Maria submeteu-se docilmente ao esposo. Possuidora de grande fortaleza de espírito, encheu o lar com a doce presença, deu-lhe mesmo certa prosperidade e bem-estar.
Na casa dos Taigi havia um pequeno santuário: um crucifixo, uma imagem de Nossa Senhora, outra de Santa Filomena; perto da porta, uma piazinha de água benta.
Muito devota de Maria Santíssima, Ana habitualmente saudava a todos com o "Louvados sejam Jesus e Maria", que, de resto, nada mais era do que uma variante da fórmula dos italianos de hoje - "Louvado seja Jesus Cristo".
Ana Maria desprezava o dinheiro. De uma rica senhora, que curaram, rejeitou grande soma, dizendo:
- A Deus não sirvo por interesse. Agradece a Santa Virgem, não a mim.
A Rainha da Etrúria, desejando-a como conselheira, propôs-lhe que Domingos seria seu despenseiro. Ficariam alojados no palácio real, com a subsistência "largamente assegurada". Ana Maria respondeu:
- Rogo a Vossa Majestade deixar-nos na nossa mediocridade, quer-nos o Senhor no estado em que estamos. O necessário, sempre haveremos de tê-lo.
Domingos, que se abrandara com o correr dos tempos, admirava-a e amava. No processo canônico sobre as virtudes da esposa, declarou: "Ela obtinha um contínuo milagre, provendo a todas as necessidades de uma família tão numerosa. Que podia eu fazer com seis escudos por mês? Eu a deixava agir, porque notara que quando orava ou praticava uma boa obra, a Providência vinha em nosso socorro".
Um dia, a rainha estendeu à modestíssima amiga uma caixa repleta de ouro, dizendo-lhe:
- Toma para ti aquilo que quiseres.
Ana Maria Taigi sorriu:
- Como tu és ingênua, minha pobre dama! Eu sirvo a um Senhor bem mais rico do que tu és. Confio-me a Ele, que me provê as necessidades. Poderia eu deixá-lo para agarrar-me as infantilidades?
Por vinte anos, Ana Maria sentiu-se privada de consolações espirituais. Era como se fora relegada ao inferno. Sofria terribilíssimas dores de cabeça, dores que, às sextas-feiras, quase experimentou a cegueira. Na boca, um gosto atroz de fel acompanhou-a sem se arredar um minuto sequer. E a ideia do pecado obcecava-a sem descanso. Ademais, martirizavam-na a gota, o reumatismo, a rudeza da asma, os incômodos de uma hérnia e a supuração de uma chaga, que lhe surgira depois do nascimento da última filha, em 1810.
Ana Maria, apesar de tudo, continuava trabalhando e sempre trazia um sorriso nos lábios descorados. Suando, ao redor do fogão, às vezes cambaleante e cheia de febre, consolava-se, pensando no fogo do purgatório, que "era mais doloroso".
À noite, recolhida, com as crianças a dormir, com Domingos ainda fora, a trabalhar, amedrontadores demônios surgiram-lhe, perseguiam-na e maltratavam, pondo-lhe diante dos olhos ignóbeis imagens prenhes de voluptuosidade.
A tudo porém, a mãe de família venceu. E conheceu, no fim da vida, doces consolações, êxtases sem par. A 26 de Outubro de 1836, caiu de cama pra não mais se levantar. Mesmo assim, do leito, dirigia a casa.
Morta a 9 de Junho do ano seguinte, 183, com sessenta e oito anos, todos a tiveram como santa, levados a isto pelos milagres sem conta que por aquela humilde dona-de-casa Deus operara.
Depois de oito anos, abriram-lhe o caixão. Ana Maria ali permanecia como se fora enterrada na véspera.
No dia 8 de Agosto de 1865, transferiram-lhe o esquife para a igreja dos Trinitários, em São Crisógono. Três meses depois, abriram-no de novo, encontrando o corpo perfeitamente intacto.
Pio IX, em 1863, introduziu lhe a causa de beatificação. A 4 de março de 1906, Pio X proclamou a heroicidade das virtudes da piedosa mãe de família. Bem-aventurada, proclamou-a o Papa Bento XV, em 1920, a 30 de Maio.
Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume X, p. 176 à 179