O Papa São Símaco morrera a 19 de Julho de 514; deram-lhe por sucessor, a 26 do mesmo mês, o diácono Hormisda, filho de Justo, nascido em Frusione, na Campânia, que ocupou a Santa Sé, por nove anos.
Apenas a eleição do novo Papa foi conhecida em Constantinopla, o imperador Anastácio implorou seu socorro para acalmar a tempestade que tinha suscitado, por sua imprudência. À sua coroação, tinha prometido, com juramento e por escrito, conservar intacta a fé católica e manter a autoridade do concílio de Calcedônia. Ora, a grande dificuldade de seu reino foi faltar ao juramento, subverter o concílio de Calcedônia e perseguir os católicos, exilar-lhes bispos, corromper-lhes a fé. Por seus enganos, perjúrios, caprichos tirânicos, conseguiu introduzir a perturbação por toda parte, excitar colisões, muitas vezes sangrentas, em Constantinopla, Antioquia, Jerusalém, Alexandria e por fim levantar contra ele as populações da Trácia e das províncias vizinhas, que não podiam mais suportar seu governo de perseguição.
O Papa Santo Hormisda mandou duas legações a Constantinopla restaurar a paz da Igreja e no império. Mas o imperador Anastácio, que só queria ganhar tempo, para zombar de todos, despediu essas legações sem resultado algum. Todavia, quarenta bispos da Ilíria e da Grécia, tendo-se reunido, escreveram a Roma, para abraçar a comunhão do Papa. (...)
O Papa respondeu a João de Nicópolis e a seu concílio com grande afeto. Mostra-se perfeitamente satisfeito com a profissão de fé de João, mas, como os outros bispos tinham esquecido em sua carta a condenação expressa dos hereges, lhes recomenda que o façam por escrito, segundo o formulário que lhes enviava por meio de Pollion, subdiácono da igreja romana, ao qual deu também esta instrução: Quando chegardes a Nicópolis e o bispo receber as vossas cartas, fazei que reúna os bispos de sua província e os faça assinar o formulário, junto a estas cartas. Se disser que é difícil reuni-los, que mande convosco pessoas a cada bispo a fim de que assinem em vossa presença. Deveis fazer ler publicamente nossas cartas, ou se os bispos não o ousarem fazer, que as leiam pelo menos ao clero. Deixai-lhes a escolha e trazei-nos suas assinaturas com a de João, seu metropolita, sem vos deterdes nos lugares, por causa dos artifícios dos inimigos. Essas cartas ao bispo do Epiro são do mês de Novembro de 516.
O santo Papa recebeu ainda do extremo Oriente, um pedido assinado por ais de duzentas pessoas. (...)
O Papa respondeu-lhes por uma carta de 10 de Fevereiro de 518. Ela é dirigida não somente aos padres, aos diáconos e aos arquimandritas da segunda Síria, mas geral ente ainda a todos os ortodoxos do Oriente. Ele os encoraja à perseverança, em vista das recompensas eternas, pelo exemplo de Jesus Cristo, que, ainda, os sustenta com sua graça; pelo exemplo dos macabeus. Se sofreram tanto, por uma sombra da verdade, que não devemos sofrer nós pela verdade mesma? Os orientais devem mostrar-se tanto mais firmes quanto eles mais tarde tinham chegado à unidade. Era-lhes preciso para isso evitar todo contato com o erro, ater-se fielmente aos decretos de Calcedônia e às cartas de São Leão, condenar não somente os inventores das heresias mas também os que as abraçaram. Ele disse, fazendo alusão ao imperador Anastácio: é o poder dos homens, outro o ministério dos pontífices. O temerário que trouxe um fogo estranho ao santuário irritou antes o Senhor, que não o aplacou. Ozias teria conservado a administração do reino se se, tivesse aproveitado desse exemplo; mas, tendo querido, apesar das advertências dos ministros do templo, unir o sacerdócio à realeza, ele perdeu ao mesmo tempo um e outra, ferido que foi pela lepra. Por nosso lado, de nada nos descuidamos. Em duas embaixadas, empregamos tudo o que há de humilde na oração, de razoável nas alegações, de salutar nas ordens. Será preciso descuidar-se a via da justiça? A obstinação não deve ser confundida com a fraqueza. Pereçam, sem nos contaminar, os que não renunciam às suas impiedades, mesmo depois de, por isso, terem sido repreendidos.
No mesmo ano de 518 morreu o imperador Anastácio, Na noite de 1 de Julho ele teve em redor de seu palácio, trovões e relâmpagos, que muito o assustaram; fugindo de um lugar para outro, ele foi por fim morto subitamente num pequeno quarto, e julga-se que ele tenha sido ferido pelo raio. Teve por sucessor o imperador Justino que era de um espírito reto, de coração generoso e sinceramente católico. Também, a 1 de Agosto, escreve ele ao Papa Santo Hormisda, para lhe comunicar sua elevação ao império e recomendar-se às suas orações. (...)
O santo Papa Hormisda morreu a 6 de Agosto de 523. No mesmo ano de sua morte, teve ainda a consolação de ver cessar a perseguição das Igrejas da África e os bispos africanos, relegados à Sardenha, voltarem livremente às suas dioceses sob o novo rei Hilderico.
Fotos: santiebeati.it
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XIV, p. 171 à 173; 176-177 e 186)