O mais ilustre santo que a ordem dos eremitas de Santo Agostinho produziu no décimo-terceiro século foi São Nicolau de Tolentino, assim chamado por ter passado a maior parte da vida na cidade de Tolentino, na qual faleceu. Nasceu cerca do ano 1246, em Santo Ângelo. Seus pais eram pouco favorecidos em relação a bens de fortuna; mas eram ricos em virtudes. Consideraram aquele filho como fruto de uma peregrinação que haviam feito às relíquias de São Nicolau de Bari. Deram-lhe no batismo o nome do santo pela intercessão do qual lhe atribuíam o nascimento.
Nicolau, desde a infância, parecia ser uma criança abençoada. Passava horas seguidas em preces e fazia-o com estranha compenetração. Ouvia a palavra de Deus com santa avidez, e era de uma modéstia que encantava a todos quanto o viam. Cheio de terna caridade para com os pobres, levava-os à casa paterna, a fim de partilhar com eles o que recebia para a sua subsistência. Impôs-se o dever de praticar a mortificação; contraiu, numa idade ainda tenra, o hábito de jejuar três dias por semana e depois a esses acrescentou mais um. Nessas ocasiões, só se alimentava de pão e água; e a única refeição que fazia era muito leve. Não se observavam nele as fraquezas e as paixões comuns à infância. Seu maior prazer era ler livros de piedade, entreter-se com coisas espirituais e ocupar-se com as práticas religiosas.
Seus pais, encantados com essas felizes disposições, empenharam-se em cultivá-las e aperfeiçoá-las. Como aliava à vivacidade do espírito excelente memória e julgamento sólido progressos no estudo.
Tendo-se lhe os merecimentos tornado conhecidos, foi provido com um canonicato na Igreja de São Salvador, em Tolentino, antes mesmo que houvesse deixado as escolas públicas. Nada divisou, no gênero de vida que ia abraçar, a não ser a liberdade que lhe seria facultada para entregar-se ao seu pendor pela prece. Porém, seu coração ainda não se sentia satisfeito. Suspirava pelo momento em que poderia consagrar-se a Deus sem reservas nem interrupções.
Ao ouvir um eremita de Santo Agostinho pregar sobre as vaidades do mundo, sentiu ainda mais fortemente confirmada a resolução que tomara de viver numa completa reclusão. Acreditou, pois, que deveria ingressar na ordem daquele pregador, cujas palavras tão profundamente o haviam impressionado. Não tardou em apresentar-se ao convento de Tolentino, onde vestiu o hábito. Depois do noviciado, feito com extraordinário fervor, pronunciou seus votos sem ter ainda completado dezoito anos. Considerava-se o último da comunidade, e procurava fazer de tudo a vontade alma, que nunca deixava transparecer a menor impaciência, nem jamais saiu de seus lábios a menor de cada um de seus irmãos, a fim de aprender a matar inteiramente a sua. Seu amor pelas humilhações, fazia-o procurar as mais abjetas tarefas da casa. Era de temperamento tão branco e de tão uniforme igualdade de murmuração.
Demonstrava através de jejuns e de outras mortificações o ódio que lhe merecia uma carne corruptível. Ainda hoje podem ser admiradas em Tolentino as disciplinas e os outros instrumentos de penitência de que se servia. Pão grosseiro e algumas raízes compunham lhe as refeições; deitava-se na terra nua e tinha uma pedra como travesseiro. Havendo adoecido, seu superior ordenou-lhe que comesse um pouco de carne; obedeceu, mas pediu com lágrimas a permissão, que lhe foi concedida, de continuar a observar a abstinência.
Enviaram-no sucessivamente a vários conventos da mesma ordem; foi ordenado sacerdote no Cingole. Dessa data em diante seu fervor ainda mais se acentuou. No altar, seu rosto inflamava-se de amor e abundantes lágrimas lhe corriam dos olhos. Convencidos da sua grande santidade, todos faziam questão de assistir à missa rezada por ele. As secretas comunicações entre sua alma e Deus, sobretudo quando saía do altar ou do confessionário, faziam-lhe saborear por antecipação as delícias da beatitude celeste. Passou os últimos trinta anos de sua vida em Tolentino, onde suas prédicas produziram frutos surpreendentes. Pregava quase todos os dias e os mais endurecidos pecadores se convertiam. Ninguém, tanto em particular como em público, conseguia resistir à insinuante doçura de suas palavras. Dedicava à oração e à contemplação todo o tempo que lhe sobrava das funções do seu ministério. Foi favorecido com várias visões, e operou diversos milagres.
Morreu no dia 10 de setembro de 1308, depois de ter sido provado por longa e implacável moléstia. Eugênio IV canonizou-o no ano de 1446. Sepultaram-no na mesma capela em que costumava rezar a missa, e os fiéis muito devotamente lhe visitam o túmulo.
Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XVI, p. 121 à 124
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