Nasceu no território de Namur, de boa família, e, desde os mais tenros anos, mostrou-se ternamente devoto e, sobretudo, muito desapegado para com tudo quanto pudesse manchar-se a pureza. Tomou parte em várias campanhas, sob o comando de Berenger, Conde de Namur, sem que a sua virtude fosse atingida; ao contrário, a dissolução, ligada às armas, apenas serviu para fazê-la prosperar. Sua probidade e sabedoria converteram-no no conselheiro e confidente do Conde de Namur que o mandou tratar de alguns negócios junto ao Duque Roberto, futuro rei da França.
Durante essa embaixada, Geraldo visitou o mosteiro de São Dionísio, onde assistiu ao ofício das vésperas; e, tendo ouvido referências a Santo Eugênio, indagou quem era aquele santo. Responderam-lhe que fora um companheiro de São Dionísio, primeiro bispo de Toledo, de onde viera para a Gália; sofrera o martírio na aldeia de Deuil, e suas relíquias, conservadas em São Dionísio haviam operado vários milagres. Geraldo insistiu com os monges para que lhe dessem o corpo daquele santo mártir, pois queria colocá-lo na nova igreja que mandara construir nas suas terras de Brogne. Seu pedido não foi atendido; contudo, deram-lhe a entender que se quisesse entrar como monge em São Dionísio, lhe concederiam o que tanto desejava. Na noite seguinte, Geraldo concebeu o projeto de abraçar a vida religiosa. De regresso, comunicou sua intenção ao Conde de Namur, que debalde se esforçou para dissuadi-lo. Também falou com Estevão, Bispo de Liége, seu tio materno. Temendo opor-se aos desígnios de Deus em relação ao sobrinho, o prelado deu-lhe sua benção, depois de fazer-lhe algumas advertências para auxiliá-lo a assegurar-se da sua vocação.
Geraldo retornou a São Dionísio, onde tomou o hábito monástico cerca do ano de 928, depois de ter cortado o cabelo e raspado a barba. Começou a aprender o alfabeto, como as crianças e fez grandes progressos nas letras e outros ainda maiores na virtude. Permaneceu dez anos em São Dionísio, e foi ordenado sacerdote no nono ano por Adelmo, bispo de Paris, sucessor de Fulrado. Depois disso, tendo enfim obtido as relíquias de Santo Eugênio, regressou a Brogne, onde substituiu por doze monges de São Dionísio os clérigos que serviam a Igreja. Também fundou um mosteiro que dirigiu, e que se tornou famoso pelas virtudes dos monges e do prior.
Gisleberto, Duque de Lorena, e Arnulfo, o Grande, Conde de Flandres, tão edificados ficaram, que incumbiram Geraldo de reformar todas as abadias das terras deles dependentes. Os principais mosteiros reformados e dirigidos pelo santo, na Flandres, foram os de Brogne, o de São Guislain, de São Pedro e São Bavo, em Gand, de São Martin, em Tournai, de Marchiennes, de Hasnon, São Vast de Arras, São Bertin, Santo Omer, Santo Armando, São Vulmer ou Samer, além dos mosteiros de Lorena e vários outros da França, tais como o de São Remígio, em Reims, e São Riquier. Importantes milagres aumentaram a autoridade conferida a São Geraldo pela virtude e pela sabedoria.
Arnuldo, Conde de Flandres, era atrozmente atormentado por cálculos, e não se resolvia a deixar-se operar; embora os médicos e os cirurgiões lhe tivessem declarado que seria o púnico remédio contra o seu mal; para tranqüilizá-lo e abrandar-lhe o temor inspirado pela perogosa intervenção, operaram na sua presença dezoito pessoas atacadas pela mesma doença, das quais uma única morreu. Malgrado essas experiências, o Conde não consentiu em servir-se de um remédio que lhe parecia mais dolorosa do que o próprio mal. Recorreu a São Geraldo e o santo abade obteve-lhe, com suas orações, uma cura completa.
No fim da sua vida, Geraldo fez uma viagem a Roma para obter privilégios em favor do seu mosteiro de Brogne. Depois visitou todosos mosteiros a ele subordinados e, em seguida, demitiu-se, a fim de melhor preparar-se para a morte, que chegou numa segunda-feira, 3 de Outubro de 959. Depois de ter recebido o santo viático com intensos sentimentos de piedade, deu ordens para que fizessem ressoar um sino que mandara benzer pelo bispo, e, mal esse começou a tocar, ele expirou. Vimos que São Sturme, abade de Fulda, também mandou tocar os sinos para avisar que entrara em agonia. (Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XVII, p. 267 à 269)