São Fortunato foi bispo de Todi e grande expulsador do demônio. São Gregório, o Grande, consagrou-lhe longo capítulo nos seus diálogos famosos.
Conta ele que uma nobre dama da Toscana fora, com a cunhada, convidada para a dedicação duma capela. À noite que precedia pra a cerimônia, a jovem não pode evitar de ter relações com o esposo. No dia seguinte, de manhã, assaltou-a certos escrúpulos. Procurando abafá-los, acabou, não sem um incômodo nervosismo, por ir à festa, sentindo-se culpada e impura.
O santo padroeiro da capela era São Sebastião. Assim que as relíquias do mártir entraram no recinto sagrado, a cunhada da nobre dama toscana deu de ser torturada pelo espírito maligno, que se pôs a vexá-la, diante de todos os convidados. Inutilmente, o padre cobriu-a com a toalha do altar. Levaram-na então, para casa, e chamaram vários mágicos, para livrá-la, mas tudo inutilmente.
Tomaram-na pois, e conduziram-na a Fortunato, que a curou em poucos dias.
São Fortunato também curou um cego. A um cavalo furiosíssimo, tornou-o manso como o mais manso cordeiro.
Marcelo era um homem de bem, respeitadíssimo em Todi. Falecido num sábado santo, o enterro estava marcado para o dia seguinte. As irmãs do defunto, chorosas, doridas, inconformadas, foram procurar o santo bispo Fortunato. Disseram-lhe:
- Nós sabemos que és um novo apóstolo, Purificas os leprosos, dás vida aos olhos dos cegos. Vem, ressuscita nosso morto, por amor de Deus. Fortunato respondeu:
- Ide, não digais tais coisas! Não vedes que o que se passou é um decreto de Deus Todo-poderoso? Ninguém pode ir contra ele!
No dia seguinte, porém, o santo bispo apareceu na casa das duas irmãs que o haviam procurado e rogado pelo irmão. Pôs-se ao lado do cadáver e, baixinho, chamou-o pelo nome, brandamente:
- Marcelo, irmão Marcelo!
O morto mexeu-se. Vagarosamente abriu os olhos. E, dando com o bispo, exclamou, debilmente:
- Oh, que fizeste? Que fizeste?
Fortunato respondeu-lhe, perguntando:
- O que eu fiz? E o ressuscitado:
- Ontem dois personagens extraíram-me do corpo e me levaram para bom lugar. Hoje, alguém me apareceu e disse: "Volta, porque o bispo Fortunato está em tua casa."
Marcelo viveu ainda muitos anos, e foi mais piedoso, mais reto do que havia sido, antes da morte.
Crê-se que São Fortunato faleceu em 542. Da tumba continuou a livrar os possessos e a curar enfermos, aos bandos.
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XVIII, p. 187-188)