Bispo de Jerusalém, São Narciso ocupou a sede por volta de 195, quando devia estar perto dos cem anos. Era costume de Jerusalém escolher candidatos bastante idosos, daí a brevidade dos episcopados.
Conta-se dele que, duma feita, tendo faltado óleo para as lâmpadas da igreja, justamente na Páscoa, quando os fiéis tomavam literalmente o templo, ordenou aos diáconos que lhe trouxessem água. Tendo-a benzido, mandou que a utilizassem nas lâmpadas. Quando a verteram, transformara-se em óleo.
Homem de grande santidade, refere-se ainda que, certa vez, três devassos da cidade, porque o santo bispo os repreendia severamente, lançaram-lhe terrível calúnia. E fizeram mais, temerariamente: confirmaram por falsos juramentos o que afiançavam. Assim, um declarou que desejava morrer queimado, caso fosse mentira o que asseverava; outro, que a lepra o cobrisse; quanto ao terceiro, atraía para si a cegueira, se dizia alguma inverdade.
O povo que, por um instante sequer, acreditara na afirmação, porque conhecia donde vinha a acusação, ficou totalmente do lado de São Narciso, mas o santo bispo, que de longa data vinha desejando levar vida de solitário, aproveitou-se daquela oportunidade, deixou a cidade, indo-se para lugar ignorado. E eis que os caluniadores, pouco depois, eram castigados com as próprias temeridades: o primeiro morreu queimado, quando do incêndio da casa em que vivia; o segundo, duma hora para outra, viu-se coberto duma só chaga, feiíssima, da cabeça aos pés; e o último, diante daqueles sucessos, tanto chorou, de terror, que acabou ficando cego para todo o sempre.
Tempos mais tarde, São Narciso apareceu por Jerusalém, sendo recebido triunfalmente. E retomou o cargo. Idoso, incapaz já de continuar as atividades que encetara, pouco depois deixava as funções episcopais.
Desconhecemos o ano em que faleceu o santo bispo de Jerusalém. Morreu em idade muito avançada. Santo Epifânio quer que tenha sido em 222, ou um pouco antes.
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XVIII, p. 72-73)