Leonardo, companheiro de Clóvis, converteu-se ao cristianismo por influência de São Remi, apóstolo dos francos. Vivendo ainda no século, e frequentando a corte, era grandemente caridoso para com os cativos e prisioneiros de guerra, trabalhando com afinco, cheio dum zelo infatigável, para lhes proporcionar todo o alívio de que necessitavam, sobretudo esforçando-se para livrá-los dos vícios. Para muitos deles, conseguiu mesmo a liberdade.
Tais obras de caridade lhe aumentaram a fé. E, um dia, resolveu abandonar o mundo, retirar-se da corte, para seguir mais de perto as lições e os exemplos de São Remi. Nessa altura, pregava o Evangelho aos companheiros de armas. Acreditando, porém, que pudesse ser trazido à corte, e desejando renunciar inteiramente a si mesmo, secretamente retirou-se ao mosteiro de Mici, a duas léguas de Orleans, sob a direção de São Maximino. Encontrou, então, em Mici, um modelo e um êmulo de virtude em São Lé, nascido em Berry, e que, mais tarde, levou vida de anacoreta numa floresta de Bauce.
São Leonardo, que suspirava igualmente por uma solidão mais perfeita, deixou, por sua vez, Mici, ali pelo ano de 520. Passando por Berry, converteu inumeráveis idólatras. Chegando a Limosino, fixou-se numa floresta, longe de Limoges quatro léguas, construindo seu oratório num lugar chamado Noblac. Ervas e frutas eram-lhe toda a alimentação. E foi, durante algum tempo, desconhecido dos homens, sendo-lhe apenas Deus testemunha da austeridade da penitência que se impunha.
O zelo levou-o a instruir as gentes da vizinhança; muitos dos que o ouviam foram tocados singularmente pelas pregações que lhes fazia: e alguns se sentiram mesmo animados a imitá-lo naquele gênero de vida. E foram à procura do santo, ao deserto em que vivia: nasceu o mosteiro, depois célebre, de São Leonardo de Noblac.
O rei Teodeberto d'Austrásia, em reconhecimento de que a rainha, num parto muito laborioso, obtivera pelas orações do santo, um feliz desfecho doou ao mosteiro uma parte considerável da floresta onde Leonardo e os discípulos viviam.
A primeira caridade de São Leonardo pelos cativos não e mais que aumentar com a perfeita conversão. Mais de um prisioneiro se viu livre das prisões pelas orações do santo. O rei concedeu-lhe mesmo, por um especial privilégio, libertar quem achasse que tal merecia. Daí São Leonardo, que morreu aos 6 de novembro de 559, ser invocado, particularmente, em favor dos prisioneiros e das parturientes. (Vida dos Santos, Padre Rohbacher, Volume XIX, p. 218-219)