Quanto à primeira introdução do cristianismo nas Gálias, quer a mais antiga tradição que foi pregado por São Lázaro, primeiro bispo de Marselha, pelas duas irmãs, Santa Marta e Santa Maria Madalena, e por São Maximino, um dos setenta e dois discípulos, primeiro bispo de Aix. Quer ainda, que São Pedro, sob o imperador Cláudio, enviou às Gálias, acompanhados doutros missionários, sete bispos: Trófimo de Arles, Paulo de Narbona, Saturnino de Tolosa, Marcial de Lomoges, Austremoine de Clermont, Gatien de Tours e Valério de Tréveris, e que o Papa Clemente, terceiro sucessor de São Pedro, enviou Dionísio, o Areopagita, primeiro bispo de Paris.
Doutro lado, Santo Epifânio fala de São Lucas, que pregou na Dalmácia, na Gália, na Itália, mas principalmente na Gália. O mesmo Santo diz ainda que Crescêncio, discípulo de São Paulo, foi pregar na Gália, e que é erro Galácia o que diz o Apóstolo, a este respeito, na segunda epístola a Timóteo.
Santo Isidoro de Sevilha, conta ainda o apóstolo São Filipe, entre os que pregaram o Evangelho nas Gálias.
Também desde o ano 190, Santo Irineu provava a verdade da fé católica pela unanimidade da tradição em todas as igrejas do mundo, entre as quais as igrejas celtas e gaulesas.
Alguns anos depois, Tertuliano dizia aos judeus que as diversas nações das Gálias estavam submissas a Cristo com o resto do universo. As diversas nações das Gálias eram as quatro províncias, divididas por Augusto: Narbona, Lião, Bélgica e Aquitânia.
Um sábio eclesiástico do século passado demonstrou que tal tradição é a verdadeira, apoiada que está em ótimas provas. Citas, entre outras um velho manuscrito, outrora na igreja de Arles, na qual eram recolhidas as cartas dos Papas aos arcebispos daquela metrópole, depois do Papa Zózimo até São Gregório, o Grande. Portanto, imediatamente depois das cartas do Papa Pelágio, a Sapaudo, que morreu em 586, e antes das de São Gregório a Virgílio. Lê-se este título pintado em vermelho:
Sete personagens enviados por São Pedro às Gálias para pregar a fé.
Mais adiante, lê-se:
Sob o imperador Cláudio, o apóstolo Pedro enviou às Gálias, para pregar a fé da trindade aos gentios, alguns discípulos, aos quais designou cidades particulares: foram eles Trófimo, Paulo, Marcial Austemônio, Gatiano, Saturnino e Valério, e muitos outros que o bem-aventurado Apóstolo lhes dera por companheiros.
São Rabano Mauro, bispo de Maiença, na Vida de Maria Madalena, fala igualmente de Trófimo de Arles, de Paulo de Narboma, de Marcial de Limoges, de Saturnino de Tolosa, de Valério de Tréveris, como enviados no tempo mesmo dos apóstolos.
São Saturnino reuniu, que lhe coube, numa igrejinha. Da igrejinha à casa em que residia, forçosamente havia que passar pelo edifício em que se sacrificava aos ídolos. Ora, os pagãos observavam que, quando passava o Santo bem defronte a casa dos oráculos, os demônios emudeciam e não se manifestavam.
Um dia, interceptaram São Saturnino. Disse-lhe:
- Acompanhai-nos até o templo.
Estavam ameaçadores, de modo que o Santo achou conveniente atendê-los.
Uma vez no templo, tornaram a falar-lhe:
- Sacrifica aos deuses!
- Não posso! Respondeu-lhes o Santo.
- Deves reparar tua impiedade! Sacrifica ou morre!
- Eu, tornou São Saturnino, adoro um só Deus e estou pronto a, por Ele, sacrificar-me. Vossos deuses nada mais são que demônios. Desejam muito mais as vossas almas que o sacrifício das vítimas. Os demônios, diante do meu Deus, tremem e nada fazem.
Aquilo era demais. Atiraram-se sobre o santo o furor que só o zelo estrábico pode inspirar. Subjugado, amarraram-no sobre um touro que se destinava ao sacrifício. O animal, que passaram a irritar, a espicaçar, destroçou o Santo em pouco tempo, mas a alma, luminosamente, deixou-lhe o corpo e subiu para o reino de paz e de glória.
Duas mulheres cristãs lhe recolheram os restos mortais, levaram-nos a um caixão, enterrando-o profundamente, para livrar aquele corpo, ou o que dele ficaram dos insultos pagãos. Assim ficaram as relíquias de São Saturnino até o reinado de Constantino, o Grande.
Hilário, quando bispo de Tolosa erigiu uma capela sobre o corpo do corpo do santo predecessor. Sílvio, bispo da mesma cidade, lá pelo fim do IV século, deitou os fundamentos duma igreja magnífica em honra do santo mártir. Exupério, o sucessor, terminou-a, consagrou-a para ali transferiu as relíquias do santo apóstolo de Tolosa.
Tal piedoso tesouro continua ainda guardado com veneração.
(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XX, p. 312 à 316)