Certa vez, um malogrado escorpião decidiu sair de sua terra a fim de explorar novos territórios. Mas um caudaloso rio o impedia de cruzar com segurança. Na margem deste estava um sapo, aquecendo-se ao sol.
O escorpião, pois, foi até o anfíbio e lhe fez um pedido: “Atravessa-me. Monto em suas costas e você navega pelo rio”.
O sapo ficou desconfiado, e disse ao escorpião: “Nunca! Coloco você em minhas costas e você me pica!”
O escorpião negou diversas vezes, argumentando que ficaria eternamente grato pela travessia. O sapo, assim, decidiu ajudar seu novo amigo. Ajeitou o pequeno em suas costas e passou à água.
Quando chegavam à margem, o sapo sentiu uma dor nas costas. Percebeu que fora picado. Começou a perder os movimentos, e notou que afundava. Antes de soçobrar, disse ao maledicente: “Por que você me picou? Não sabe que morreremos os dois, agora?”
Enquanto o sapo naufragava, pôde ouvir ainda a vozinha do escorpião: “É a minha natureza”.
Santa Inês foi uma nobre donzela que, prometendo a virgindade a Cristo, negou a proposta do filho do prefeito. Sua história completa está descrita aqui, com mais detalhes.
Em determinado momento, este mesmo pretendente, iludido pela impureza, tenta algo desonroso com a santa virgem, e o anjo o impede, sendo sufocado pelo próprio demônio que lhe tentava.
O pai, desesperado, acusa Inês de magia. Ela lhe explica a razão da morte de seu filho. Ele, então, para se convencer, pede que Inês traga seu filho de volta à vida, e acreditaria na religião Cristã. Santa Inês, com fé, manda todos saírem da sala, dizendo que não faria o milagre pelo público que a assistia, mas sim para exaltar a Cristo Jesus. Através de seus pedidos, Deus autorizou aquela pobre alma a retornar ao seu corpo.
Quando o filho do prefeito volta a si, para o encanto do seu pai, berra: “Só há um Deus, e é o Deus dos Cristãos”. Quiçá uma das experiências pós-morte mais reveladoras.
O que faz o prefeito? Salva a jovem? Expulsa seus perseguidores? Converte-se? Não. Mais uma vez aparece o escorpião, mas uma vez aparece Pilatos: “Lavo minhas mãos. Não sou culpado pela morte desse justo. Podem julgá-lo de acordo com vossa leis”. O prefeito, entristecido, narram as crônicas, deixa o caso e pede que seu vice resolva a situação com Santa Inês.
A pequenina tinha apenas 12 anos! Numa idade onde pouco sabemos do que nosso paladar gosta, a romana tinha certeza de sua fé, do poder de seu noivo Jesus, e da convicção, da certeza da Igreja Católica e da promessa do seu fundador: “as portas do inferno jamais a derrotarão”.
Se o prefeito foi um asqueroso e sujo escorpião, que jogou fora sua salvação, e com certeza foi atormentado por todos os momentos de sua vida depois disso, Santa Inês não pode ser comparada ao pueril sapo.
Deveríamos lhe comparar, se a história fosse diferente, a uma imponente águia, que tomou o escorpião do chão imundo para olhar de frente o sol, nas alturas. E quando ela tivesse sido picada, cairia somente o escorpião, pagando pelo seu próprio veneno; Inês continuaria a voar, agora mais livre do que nunca, em direção ao Céu que era seu por conquista.