São Pedro Damião teve uma infância desregulada e cruel. Primeiro por parte de sua mãe que, logo em seu nascimento, perdeu a razão por breves instantes que quase custaram sua vida. Depois, por parte do irmão que o criou como um escravo do lar quando perdeu os pais.
Mas a nobre alma do pequeno Pedro florescia apesar dos maus-tratos de que era alvo, pois guardava algo em si que sabia ser mais valioso que o exterior injusto que vivia. No começo, pensava ser ele apenas os ensinamentos profundos de seu pai.
Depois, quando passou à tutela de outro irmão, este querido e amoroso, que lhe deu uma casa digna e estudos sérios, percebeu se tratar da centelha de vida que lhe iluminava a inteligência e lhe dirigia a vontade: sua alma cheia de fé.
Porém, logo que pôde, São Pedro Damião fugiu. Foi ele irresponsável ou ingrato nessa ocasião? De jeito nenhum. Se o homem deve abandonar seu pai e sua mãe para se unir com sua mulher, e eles serão uma só carne, como narra o Gênesis, muito mais Pedro quis largar as amarras que o prendiam em busca do alívio de sua alma.
Já era sacerdote, vejam! Dentro da própria religião, sentia-se ele impelido a algo a mais. Queria cultivar com perfeição o seu interior, imergir no silêncio e na vida monástica.
Depois de ter encontrado dois irmãos monges de Fonte Avellana, uma ermida onde se reunia uma comunidade de ermitãos, e ter percebido neles a felicidade de seu estado de vida, abandonou tudo e pôs-se a caminho.
Lá, desde cedo tendo discernido sua vocação, o abade, monge mais experiente, logo lhe colocou o hábito que revestia seus irmãos e fez do Padre Pedro um ermitão. Foi o dia mais feliz do jovem Damião, que, no silêncio da vida monacal, poderia cuidar da graça que habitava em seu interior.
Logo que notaram sua santidade de vida e admirável gentileza, colocaram São Pedro Damião para pregar, em uma hora do dia, aos ermitãos reunidos. Saiam eles de sua cela, onde moravam de dois em dois, e se dirigiam ao púlpito do Padre Pedro. Este lhes admoestava a alcançar sempre maior santidade.
Ele próprio cultivava por horas seu conhecimento, estudando a Sagrada Revelação e apreendendo, na Palavra de Deus, significados mais profundos aos homens.
Mas sua fama de pregador santo lhe atraiu enormes consequências. A primeira foi ser designado para cultivar a regra em outros mosteiros que começavam a vida em conjunto. São Pedro ficou dois anos com suas falas e exemplos, transformando a vida da comunidade.
O papa, vendo sua espiritualidade, lhe revestiu de todas as honras e favores. São Pedro Damião foi sagrado Bispo e assumiu o episcopado de Óstia, sendo-lhe conferido o título de Cardeal.
Ele tentou se negar o máximo possível, pois seu desejo era o silêncio. Não queria uma diocese para governar! Mas o santo pontífice o ameaçou de excomunhão, porque sabia ser da vontade de Deus que a Luz de Pedro Damião precisava brilhar para a Cristandade.
Várias vezes, depois de aceito o episcopado, São Pedro tentou se desvencilhar. Mas o secretário do papa, que seria eleito o futuro Pontífice Gregório VII, dizia que ele devia se submeter à vontade divina, que o Senhor sabia mais do que os homens o que fazer.
De fato, São Pedro Damião foi tão exemplar em sua conduta de bispo como de monge e ermitão. Aquele que foi o santo protetor do interior, que amava o silêncio e o conhecimento fértil, foi chamado à Glória Celeste onde um eterno convívio com seu eterno Amor o esperava.