Santo Anselmo é conhecido como o fundador da escolástica, o pensamento religioso-filosófico da Idade Média. De fato, o santo não se apoia ou cita muito em pensadores gregos como fizeram os que vieram antes dele, e sempre é elogiado em sua originalidade.
Conheçamos seu pensamento de uma forma um tanto simplificada; mas antes, porém, vamos ler algumas características de sua vida.
O santo nasceu em 1033, em Aosta, norte da Itália. Seu pai era um conde rico e muito conhecido na região, e seu sonho era fazer Anselmo se lançar pela vida pública e conquistar ainda mais fama e fortuna. Este, entretanto, não era o desejo do jovem, que, ao estudar com os beneditinos, sentia toda sua alma inclinada para a vida religiosa. Assim, aguentou os desejos do pai, por obediência filial, até os 22 anos. Desistindo das festas, nome e herança, Anselmo fugiu por uma janela, levando apenas consigo um burrico.
Caminhou errante pelas cidades, sem revelar seu nome ou importância. Até que, por favor da Providência Divina, passando pela Normandia, topou com um monge de incomum conhecimento e boa comunicação. Seu nome era Lanfranco. Tornando-se discípulo dele, entrou para seu mosteiro e realizou seu sonho.
Foi durante seu noviciado e tempo de estudos com Lanfranco que Anselmo formulou seus conceitos filosóficos e começou a se fazer notar pelas assembleias eruditas da Europa. O Santo Padre, vendo que Santo Anselmo tinha muito potencial, o enviou às cortes inglesas, como arcebispo de Canterbury. Lá, o rei Guilherme o perseguiu, querendo roubar as terras da Igreja e seus bens. Anselmo se opôs com coragem, a tal ponto que, indo resolver alguns problemas da diocese de Canterbury em Roma, foi proibido de voltar pelo monarca inglês, e viveu em exílio de sua diocese até que o filho de Guilherme assumisse, Henrique I.
Este, tanto como seu futuro onomástico, Henrique VIII, também perseguiu Anselmo. Nas batalhas da vida, lutando pela honra da Santa Igreja, Santo Anselmo caiu gravemente doente, vindo a falecer em 1109, com 76 anos.
De Santo Anselmo temos o famoso argumento ontológico que procura provar a existência de Deus. Aliás, toda a filosofia do santo é baseada em provar logicamente e com raciocínio a existência do divino. Ele se suporta, no início, em Santo Agostinho e em Boécio, em menor proporção, mas logo alçou voo pelos pensamentos filosóficos. Sua obra é de importância culminante para futuros tratados de teologia, e o próprio Santo Tomás o cita, dialoga com seu argumento, e o venera como um luzeiro para a Santa Igreja.
Para santo Anselmo, a fé sempre é a primeira no conhecimento. “Não quero compreender para crer, mas crer para compreender, pois bem sei que sem a fé eu não compreenderia nada de nada”. Porém, Deus deixou ao homem a capacidade de conhece-lo, de vê-lo em si mesmo, pois somos feitos a “sua imagem e semelhança”. Santo Anselmo fala sobre nossa inteligência e memória como uma representação do que seria a relação entre o Pai e o Filho.
Assim, para Santo Anselmo, no fato de termos em nossa cabeça o conceito do que seria um Deus, o ser maior do que tudo que existeontologia, já está implícito sua existência. Este é o argumento ontológico.
Algumas imprecisões filosóficas foram sendo identificadas no argumento de Santo Anselmo, e alguns doutores da Igreja, entre eles o próprio São Tomás, fazem algumas ressalvas. Porém, o argumento ontológico mostra a sede de uma alma em comunicar a existência de Deus, uma mente que perscruta os segredos do universo para compreendê-los.
Santo Anselmo é comemorado na data de 21 de abril, dia de sua morte, e sua memória continuará sendo venerado por todos os fiéis, por todas as escolas e seminários católicos como um santo contribuinte para o pensamento da Santa Igreja.