Mas uma vez uma personagem da nobreza e elite romana dá exemplo de fé dentro do paganismo e coragem na atribulação: Santa Flávia Domitila, pertencente à família imperial, que aceitou a morte pela sua convicção em Cristo. Ela, hoje, é celebrada no rol das santas romanas, com Inês, Cecília, Anastácia, entre outras. Vejamos sua história.
Flávia Domitila era do clã dos Flavianos, uma geração que ofertou ao mundo romano ilustres cônsules, bélicos generais e três imperadores: Vespasiano, Tito e Domiciano.
Vespasiano foi eleito imperador por comandar com gloriosa vitória os exércitos de Roma. Seu antecessor, Vitélio, também eleito pelas tropas, se perdeu na suntuosidade do cargo e foi deposto, sendo atacado pela multidão. Diferente dos últimos imperadores, Vespasiano não aplicou o decreto de Nero para a morte dos cristãos, o que originou uma brisa de paz. Tito, seu filho, não quis a perseguição também, embora ele seja o grande general do cerco de Jerusalém e da dizimação de milhões de hebreus.
Domiciano, porém, o maligno imperador da geração flaviana, não só voltou a afirmar o decreto de Nero, bem como levou a perseguição a um nível de horror nunca visto. Suas loucuras eram bem conhecidas, como quando nomeou senador de Roma seu cavalo. É no reinado de Domiciano e no banho de sangue que originou que Flávia Domitila nasce e recebe a graça da fé.
O passado vem de modo fragmentado a nós, hoje. Assim, fica muito difícil, diante de uma perseguição tão acirrada, que executou tantos cristãos, delimitar quais são as verdadeiras linhas da vida dos santos.
De Santa Flávia Domitila, temos dois relatos: um, de que era casada com Flávio Clemente, cônsul e prefeito da região romana. Tendo sabido Domiciano que Flávio Clemente não aplicara o decreto de Nero em sua cidade, por sentir que era contra o direito comum, mandou mata-lo e joga-lo aos animais. Não sabemos quais eram as intenções de Flávio Clemente em não promulgar o decreto mortal, mas sim que foi morto por ódio a fé, o que lhe conquistou um lugar entre os santos.
Tendo matado seu marido, Domiciano se pôs a investigar todos de sua família e descobriu que Flávia Domitila não só era cristã, como dava asilos aos perseguidos e enterrava, em uma de suas propriedades, os cristãos martirizados.
Domiciano, então tomou providências para que a matrona romana fosse exilada e deixada para morrer.
Na outra versão da história, Flavia Domitila teria sido prometida em casamento a Aureliano, um parente de Domiciano. Mas evangelizada por dois de seus escravos, São Nereu e São Aquino, teria se recusado para viver uma vida de virgindade perfeita, ocupando-se das obras cristãs já mencionadas na primeira parte da história.
Não se sabe, assim, qual das versões seja a real; não muda, entretanto, o relato do final de seus dias. Em ambos relatos Santa Flávia Domitila é enviada em exílio à ilha de Ponza, no mar Tireno. Nesta, sem nada que lhe garantisse a sobrevivência básica, sucumbiu de fome e sede, indo gozar do prêmio celestial que a esperava. Alguns autores, porém, consideram que o seu possível marido, Aureliano, o da segunda versão da história, teria ido e queimado sua cabana na ilha de Ponza, tornando seu martírio mais cruel.
No mundo atual, o exemplo desta nobre matrona deve tocar nossos corações. Mesmo com todos os privilégios de usa posição ‒ lembremos de que era da casta imperial ‒ ela não hesitou em dar sua vida pela religião cristã perseguida.
Em um tempo onde grandes terremotos abalam os sistemas da justiça e da equidade, é nosso papel de cristão afirmar nossa fé não importando os “Domicianos” da risada e da injustiça que possam nos ferir.
Peçamos a Santa Flávia Domitila força para professarmos nosso amor a Cristo em todas as ocasiões de nossa vida.