O santo celebrado hoje, no dia 12 de julho, é São João Gualberto, um monge nascido no ano 995, e teve dois momentos decisivos que marcaram toda sua existência: podemos falar de um início e de um auge. O curioso foi sua atitude: extremamente contrastante nos dois casos. Qual a regra de santidade aí? Veremos no artigo abaixo.
São João Gualberto nasceu da pequena nobreza, tendo sido muito bem educado nas artes da gentileza por seu pai, um conde de Florença. Porém, João Gualberto não foi poupado das glórias e vaidades do mundo, que experimentou por toda infância.
Seu pai transmitiu-lhe um desejo que não tinha: vingar-se do suposto assassino de seu irmão. Isso carregou São João Gualberto com muito ímpeto e furor. Praticava em casa estocadas para se preparar para o confronto com o derramador de sangue. Mesmo com o adoecimento de seu pai, o desejo de vingança continuava pleno em sua alma.
E o fatídico dia chegou: numa sexta-feira Santa, recebeu informações que não o deixavam com dúvida: o assassino estava pela região! Tomado de um brio feroz, Gualberto se lançou à sela e partiu furioso atrás do sujeito. Conseguiu que ficasse cercado em um caminho bloqueado, e puxou sua espada com felicidade.
O homem, entendendo sua sina e vendo aquele metal brilhando com os raios de sol, joga-se aos pés de um João Gualberto já desmontado e lhe suplica, com os braços em cruz, que não o mate. Ouviu dos lábios do marcado o seguinte pedido: “Por amor de Jesus, que neste dia morreu por nós, tem piedade de mim, não me mates!”.
Caindo em si, tocado pela graça, São João Gualberto fez sua primeira escolha: perdoou o assassino de seu irmão e o deixou ir embora.
A segunda escolha de São João Gualberto se deu quando já era irmão religioso, e foi durante a escolha do abade de seu mosteiro. Muitos pediam que ele assumisse o cargo, mas São João sabia que havia uma eleição para a tomada do cargo. Assim, retirou seu nome para viver ainda mais anonimato, pois não se achava digno de ser abade de uma inteira comunidade.
Porém, São João ficou sabendo que um dos monges, filho também de nobre família, foi ter com o bispo da região, e, prometendo-lhe terras, pediu que o entronizasse no cargo.
Tal vilania era conhecida como crime de simonia: aqueles que pagam ou recebem dinheiros para ocupar ou empossar cargos eclesiásticos. São João teve aqui novamente mais um caminho para seguir: daria seu perdão ao monge e o deixaria ir? Dessa vez não; tomado de santa cólera, foi ter com esse bispo para que não cometesse esse crime de religião e, uma vez que este não voltou atrás, foi ter com as autoridades mais altas para revogar tanto a cadeira eclesiástica do bispo como impossibilitar a eleição do monge pagante.
Uma diferente situação, portanto, deu a São João Gualberto a possibilidade de fazer uma escolha completamente diferente.
Na primeira bifurcação de sua vida, São João, logo após perdoar o assassino de seu irmão, partiu para uma Igreja, na celebração da Sexta-feira Santa, e se pôs diante de um crucifixo. Ali pediu perdão de suas faltas e ganâncias, e assumiu um compromisso de vida que levaria até o fim: seria um monge virtuoso.
Na segunda, após falar com as autoridades, sentiu-se livre para ir embora de seu mosteiro, pois queria uma disciplina mais rígida: é nisso que funda uma ordem religiosa que ficou conhecida por Valombrossa. Ali, à maneira que o Espírito lhe soprava na alma, instituiu práticas religiosas mais severas e rígidas.
Morreu em 1073, e um pouco mais de 100 anos depois, em 1193, foi levado à honra dos altares.
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Qual foi a regra de santidade que São João Gualberto seguiu para perdoar um criminoso e acusar a outro? A regra que Santo Elias narra nas páginas da Bíblia: Zelus Zelatus Sum (me consumo de zelo pelo Senhor Deus). Em sua primeira atuação, São João confrontou um sentimento de furor puramente humano – pois ele não sabia, de fato, as ocorrências e disposições da morte do irmão –, algo que lhe ardia para que fizesse justiça para si, e não para Deus.
Na segunda ocorrência, o crime não lhe afetava, mas tocava na Lei do Senhor, e tanto o bispo quanto o monge tinham consciência de seus delitos, e mesmo assim seguiam na maldosa combinação. Ali, sendo o principal alvo da injustiça seu Deus, São João Gualberto agiu sem demoras.
Assim, percebemos o que move os santos: é na medida que a Lei e a Pessoa de Deus são mais atacados que eles se tornam leões e lutam o bom combate; quando é sobre suas próprias pessoas, suas próprias necessidades, são cordeiros e dispostos a perdoar até o impensável.
Que São João Gualberto nos ajude a viver desta maneira, sobretudo nesta época onde a humanidade vive com o ego muito inflamado.