Dentre o colégio apostólico, um dos seus participante, São Tiago maior, possui uma peculiaridade: Cristo o escolhe sempre em situações-chave, como a ressurreição da filha do tabelião, a transfiguração, a vigília no horto, a promessa dos tronos celestes, junto com seu irmão João e Pedro.
A causa é óbvia para os últimos dois: Cefas era a pedra no qual fundaria a sua Igreja, e João o discípulo amado, virgem, aquele que veria os segredos dos últimos tempos. Mas qual a razão de São Tiago ser partícipe destes segredos divinos?
Antes do chamado evangélico, Tiago era um pescador, dono de grande barca, que herdara de seu pai, cuja esposa era prima de Nossa Senhora. É provável, por isso, que São Tiago já tivesse encontrado e conversado com Nosso Senhor, mas ainda não o havia visto com os olhos da fé.
Quando Cristo o chama, larga tudo com seu irmão e é admitido no corpo apostólico. Durante sua estadia, ainda sem Pentecostes, acreditou, mas não o suficiente; temeu, tremeu, fugiu. É só com o Espírito Santo que o tímido homem hebreu se tornou um campeão da fé.
Após a diáspora apostólica, São Tiago, ao entrar em uma barca pronto a ir onde o Espírito lhe guiasse, é vítima de um naufrágio. Quando se vê em terra firme, percebe estar na costa da terrível Hispânia, província que os romanos já governavam, mas toda ela instável por causa de guerras de clã e disputas de territórios.
São Tiago faz o melhor trabalho de evangelização possível, mas, como sabemos, quase nenhum dos bárbaros se converte, ou sequer deu atenção para suas admoestações. É quando se sente provado pelo fracasso que Maria ainda viva o visita, aparecendo dos céus. Ela lhe fortalece com seus conselhos e o convida a voltar a Jerusalém, pois deveria morrer pela espada de Herodes.
São Tiago parte, volta à Terra Santa e entrega sua vida na perseguição. Seu corpo, levado pelos cristãos fiéis da Judeia, é posto em outra nau que também sucumbe no caos marítimo. Assim, segundo a cronologia, é levado novamente pelas ondas à praia da Hispânia.
Lá, com os discípulos cristãos que sobreviveram após o naufrágio, começa a realizar uma série de milagres. E todo aquele povo que não havia se convertido com suas palavras, como que tem o coração penetrado pela graça quando contemplam seu corpo desfalecido e os poucos fiéis presentes.
Uma chefe de tribo bárbara permite que se faça um mausoléu para que o Apóstolo descanse. Com as invasões mouras, essa localidade se perde na história, e por mais de três séculos, o apóstolo é dado como desaparecido. Porém, tendo começado a Idade Média a sua subida rumo ao seu apogeu, por volta do século X ou XI, muitos passantes dos reinos cristãos da Espanha avistam, à noite, um céu que parece fazer chover estrelas.
Vão sendo guiados por estes astros, tal qual uma nova Belém, para um campo gigantesco, um pasto com ruínas. Lá, procurando e procurando o que Deus lhes queria mostrar, acham uma pequena capela já completamente erodida, com o corpo do apóstolo. Ali, através de muitos milagres e lindos fatos, é construída uma primeira igreja que por séculos se chamará São Tiago do campo estrelado, ou, em linguagem da época, Santiago de Compostella. Hoje, o santuário de Compostela se ergue vitorioso, gigante, com suas torres tocando o céu, para louvar este príncipe da fé.
A vida do Apóstolo Tiago maior é impressionante. Ela evidencia o poder de Deus antes de todo esforço humano. É só quando sai do mundo que o apostolado de São Tiago frutifica.
Costuma-se dizer que São Tiago tenha participado de tantos eventos sublimes no evangelho pois seria o primeiro apóstolo a morrer pela fé, o primeiro mártir entre os preferidos de Cristo. É uma tamanha responsabilidade, a tal ponto que a própria Mãe Virgem o foi consolar e avisar de sua missão.
Mas também São Tiago, apesar de não ser o primeiro apóstolo a ir para a futura Europa, muitos menos o primeiro santo que pregou por lá, sua vocação foi claramente evangelizar a Espanha, e, nela, Portugal. Essas duas grandes nações cresceram na História juntas, e, apesar de terem luzes diferentes, ambas se beneficiaram do apostolado de São Tiago.
Além de terem dado à Santa Igreja homens de extraordinário vigor de alma, como Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, Santa Isabel de Portugal, São Nuno Álvares, Santo Antônio de Lisboa, também foram essas nações responsáveis pela colonização do novo mundo e das nações do golfo Índico, até mesmo o longíssimo Japão.
Ou seja, a glória de São Tiago foi ser a semente de fé que deu origem, em sua composição histórica e cultural, ao nosso Brasil, à nossa história. Talvez por isso Cristo o quis escolher, pois via seu futuro e que a salvação de milhares de almas estava este primeiro “sim” de seu querido apóstolo.
Que São Tiago continue sendo nosso eterno e primeiro padroeiro, sempre abençoando nossos empreendimentos e nos emprestando sua fé, que não esmoreceu nem se apagou quando mais difícil foi crer.