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O Livro da Vida, de Santa Teresa de Ávila - Data: 15 de Outubro 2022
 
 
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Vale a pena ler o Livro da Vida, de Santa Teresa de Jesus?

No dia 15 de outubro celebra-se a memória da grande Santa de Ávila, Teresa de Jesus. A sua vida transcende em muito a época que vivia; em plena era renascentista, a monja espanhola demostra que o Teocentrismo Medieval nada tinha de egoísta ou de humilhação: era possível pensar em si, no homem, sem abandonar o seu carinho pelo Senhor. É o que vem delineado nas páginas de sua principal obra, o Livro da Vida, escrito por Santa Teresa como uma autobiografia.

Este brado de humildade que hoje transformou-se em livro de cabeceira de grandes teólogos é um modo que Santa Teresa encontrou de comunicar aos demais cristãos, de ontem, de hoje e de amanhã, que o Senhor encontra seus caminhos para nos converter.

Santa Teresa é doutora da Igreja

Antes, porém, de explanarmos um pouco as páginas do Livro da Vida, é necessário reconhecer que a santa espanhola foi declarada como doutora da Igreja pelo Papa Paulo VI. O que quer dizer Doutora da Igreja? São os reconhecidos oficialmente por ter explicado, aclarado um determinado ponto da doutrina católica, ou ter formulado um caminho novo de devoção e de vivência cristã. Entre os mais conhecidos doutores nós temos os grandes de pensamento, como Santo Agostinho, São Tomás, Santo Anselmo, e como reformuladores da vida religiosa, contamos com São Bernardo, Santa Catarina de Sena e Santa Teresinha do Menino Jesus, por exemplo.

Ao todo, hoje, a Santa Igreja conta com 36 doutores oficialmente aclamados. É claro que há uma imensidade de outros, mas o grande número impossibilita que todos sejam declarados.

É importante notar também que nenhum mártir, seja qual forem suas contribuições com a doutrina, é considerado como doutor da Igreja, pois a graça do martírio é a maior glória ou título que qualquer um poderia receber nesta terra.

Importância de Santa Teresa de Jesus para a Igreja

Assim, entendido o que é um doutor da Igreja, por que Santa Teresa d’Ávila faz parte deste insigne grupo? É o próprio Sumo Pontífice que declara: “Como é grande, como é única, como é humana e como é atraente esta figura!” Para ele, a santa monja era uma mulher excepcional que irradiou ao mundo uma vitalidade humana e um dinamismo espiritual incríveis e como reformadora e fundadora de uma Ordem religiosa insigne e histórica. Além disso, foi uma escritora genialíssima e fecunda, mestra de vida espiritual, incomparável na contemplação e infatigável na ação. Portanto, foi a sua singular contribuição como mãe e mestra da vida espiritual, a luz mais viva e penetrante que deixou como herança para toda a Santa Igreja

É o que vemos no Livro da Vida: constante apreço por edificar com seus ensinamentos os que um dia irão se deleitar com a leitura.

Declaração da Santa de Ávila

Tal qual uma nova reedição do livro “Confissões”, de Santo Agostinho, Santa Teresa começa por sua infância, denotando pontos que a encantaram nos primeiros anos, e analisando sua conduta até a mocidade, para depois se deter em seu amadurecimento espiritual.

Como uma santa, a sua humildade é impressionante: sempre assume uma posição penitente perante os erros que considerava graves. “Por isso, a quem ler esta narração de minha vida, peço por amor do Senhor, que tenha diante dos olhos o quanto fui ruim, a ponto de nunca ter achado santo, dos que se converteram a Deus, com o qual me consolar. Vejo, depois de chamados pelo Senhor, que não tornavam a ofendê-lo. Eu, pelo contrário, piorava cada vez mais. Parecia estudar o modo de resistir às graças de Sua Majestade, como que temendo sentir-me obrigada a servi-lo com maior perfeição. Tinha consciência de ser incapaz de pagar o mínimo do quanto já lhe devia”.

Premissa do Livro da Vida de Santa Teresa

Quanto mais se conhece a Deus e se torna mais íntima d’Ele, mais a alma toma consciência de sua imperfeição e de sua incapacidade. Mas notem algo interessante: a santa, mesmo nessa posição de reconhecida inferioridade, não se afasta de seu Pai amado, antes o procura com mais ardor; pois, se o cristão deve ter conhecimento de seu nada, muito mais precisa atestar a misericórdia do Senhor, que fez e faz de tudo por seus filhos queridos. É a parábola do Filho Pródigo: o filho que volta como indigente, o pai que o abraça e lhe concede tudo, apenas por este ter voltado.

Do contrário, assumimos uma posição de desespero, que não contribui nada para a nossa salvação: Deus é sim justiça, mas também é perdão. E se se puder dizer, pela inconstância humana, Ele é sobretudo perdão. Isto Ele próprio declarou a sua santa embaixadora: “Não quero castigar a sofrida humanidade, mas desejo curá-la estreitando-a ao Meu misericordioso Coração”. (Diário de Santa Faustina, 1588).

Divisão dos escritos

A obra está dividida em cinco partes, correspondentes aos diversos períodos ou assuntos tratados. A primeira parte refere-se à família e aos primeiros anos de vida religiosa da santa. Na segunda parte, ela descreve quatro graus de oração, relatando suas experiências místicas. Na sequência continua o relatório, e sucessivamente, passa à quarta parte, contando a fundação do Convento de São José de Ávila. Para finalizar, a doutora da Igreja faz considerações sobre a vida de oração, descrevendo algumas visões e revelações.

Sua finalidade é esclarecer as profundezas da vida íntima de união com Deus, a que pode chegar uma alma favorecida pela graça, na participação da vida trinitária da Majestade divina, revelando-se como Pai, Filho e Espírito Santo, e de como essas graças inefáveis são concedidas em vista de um valor ou uma obra sempre em benefício da Igreja. É através destes relatos que conhecemos melhor a alma de Santa Teresa de Jesus, seu ardor por Jesus e sua providencialidade na Santa Igreja. Sua vocação de ser reformadora do Carmelo, a mais antiga ordem e que tem como seu principal padroeiro Santo Elias profeta, conquistou de Deus intensas graças, mas também profundas provas.

Conclusão: vale a pena ler o Livro da Vida?

Santa Teresa escreveu o Livro da Vida na intenção de que suas palavras pudessem guiar os cristãos por um caminho pelo qual ela própria passou, sem encontrar, pelo menos em primeiro plano, alguém que o tenha trilhado como ela. Por isso, é um livro para a idade moderna, pois as pessoas de sua época estavam começando a acostumar suas vistas e perspectivas ao mais baixo, ao puro humanismo burguês e ao cientificismo bitolado que limita os panoramas. É o drama do Renascimento: Da premissa de focar somente na glória humana, termina no apreço pela vida selvagem.

A Santa de Ávila, portanto, toma essa visão apocada, humanista, renascentista e comum de sua época para afirmar que a vida é um contínuo milagre, um contínuo aprofundar-se no divino. Tirar a Deus e o sobrenatural da rotina humana, ou seja, antropocentrizar-se, na verdade, só causa frustração e desespero: é essa a mensagem do Livro da Vida de Santa Teresa.

Por isso, ao lermos os escritos da monja espanhola, tenhamos isso em vista: que as experiências dela nos ensine a reconhecer as nossas. Não que nos seja dado milagres e visões como ela as teve; na maioria das vezes não seremos com elas contemplados. Mas é num pôr-do-sol, é no melhorar de uma doença inesperada, num relacionamento querido que encontramos o “sabor” das coisas do alto.

Que Santa Teresa, a partir de agora, seja nossa grande companheira na vida que um dia iremos prestar contas. Que ela nos ensine através de seu Livro da Vida a reconhecer as pegadas do Criador em cada trecho do nosso percurso.

 
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