São Sebastião mártir foi um soldado romano e cristão convicto que viveu no século III. Como um capitão ilustre, era reconhecido inclusive pelo imperador, Maximiano. Como fervoroso soldado de Cristo, Sebastião saía a noite para consolar os feridos e ajudar aos pobres, além de alentar os católicos nos terríveis tempos da perseguição. Celebramos sua memória no dia 20 de janeiro, com pomposas festas e alegres conversas. Como, porém, deveríamos lembrar deste guerreiro da Igreja?
O cristão, um discípulo de Cristo, tem a mesma atenção que Este demostrou ao Estado e aos governantes. Quando Pedro perguntou a Jesus se deveriam pagar a entrada, Jesus mandou Pedro fisgar um peixe onde, em suas entranhas, encontrariam uma moeda para ofertar por Ele e por seu discípulo.
Mais famosa ainda é a passagem onde os fariseus perguntam a Jesus se deveriam pagar impostos a César. Ele, mandando tomar uma moeda, perguntou que efígie estava gravada no metal. “De César”, foi a resposta. “Portanto, dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
Assim, São Sebastião, soldado romano, dava sua vida a César, no ofício que havia escolhido. E sua dedicação não passava despercebida: chegou ao posto de capitão da primeira guarda pretoriana. É o que o bom cristão faz: ele se destaca em sua função, pois cumpre com seriedade e responsabilidade seu dever, ciente de que a autoridade que ele serve é uma imagem da Autoridade Divina.
Porém, como numa caça às bruxas, Maximiano movimenta o império para extirpar os cristãos. Quando descobre que Sebastião era também capitão de Cristo, decretou sua morte do modo mais doloroso que se podia imaginar. Assim, com ódio, esquecendo o serviço prestado, o sangue derramado por Roma e pelo império, Maximiano ordena que ele seja flechado pelos soldados.
Infelizmente, as estampas que trazem de São Sebastião não representam bem seus méritos. Na maioria das vezes, vemos umas três ou quatro flechas cravadas, e alguns hematomas pequeninos. Mas não é o que contam as atas: Sebastião ficou completamente cravejado de flechas, e mesmo assim não apostatou do nome de Cristo.
Pensando estar morto, os soldados retiraram-se para suas tendas. Alguns cristãos, para limpar o corpo e o enterrar dignamente, foram até Sebastião e descobriram que este ainda respirava. Assim, começava mais um capítulo para o soldado católico. Reabilitou-se e foi até Maximiano, para falar como amigo, pedindo arrependimento e mudança de vida.
Em vão, porém: Maximiano manda açoitar São Sebastião até a morte e jogar seu corpo inerte num poço. Ele aparece em sonho a uma cristã que o acha e o sepulta. Conta-se que a basílica de São Sebastião foi construída em cima de seu túmulo, para honrar este mártir de Cristo.
Costumamos lembrar daquilo que nos agrada. No caso de São Sebastião, o maior louvor é a seu amor a Cristo, que lhe permitiu levantar, mesmo não totalmente recuperado, e ir pregar seu nome ao imperador, como que voltando dos mortos. E nunca haverá tamanho louvor que façamos que honre devidamente esta santa atitude.
Mas precisamos celebrar São Sebastião mártir de corpo inteiro. Não aceitou ele as flechadas para continuar fiel a Cristo? Não foi ele a Maximiano com esperança de uma conversão, mas sabendo que poderia sofrer ainda mais?
E recordar esta virtude, a disposição ao sacrifício, é, no mundo que vivemos, o melhor modo de celebrar São Sebastião. E só quando entendemos a envergadura de alma de um homem que aceita o pior dos tormentos que compreendemos o amor verdadeiro dele a Cristo. Os tormentos são a prova deste amor, e diminui-los, seja por falar pouco deles ou por não os representar direito, é uma falsa dádiva à memória deste mártir.
Sua disposição ao sofrimento deveria nos levar hoje, em sua festa, a uma reflexão: como tenho me portado perante minha cruz? Os sofrimentos que me acometem, tenho procurado vê-los do plano divino? Ou, de modo ainda mais fácil: que Simão Cirineu tenho sido eu? Abraço minha cruz, ajudando a Jesus, ou a torno ainda mais pesada a meu Redentor?
No dia de São Sebastião, precisamos aprender de seu martírio a suportar melhor nossas dores. Muitas vezes virá a incompreensão, quando, como Jó, nos perguntaremos: “por que eu, Senhor?” Mas isto não é motivo para revolta. É a hora de rezar ainda mais, pedindo forças e sabedoria. Que o soldado cristão, capitão de Roma e agora dos exércitos celestes, nos conceda sua dedicação e sua força de alma diante dos sofrimentos.