Nasceu Santo Ambrósio em 340, nas Gálias, onde o pai residia como prefeito que era das Gálias e da Espanha. Diz-se que, um dia, quando dormitava ao ar livre, um enxame de abelhas, surgindo de repente, foi pousar-lhe na boca, como um presságio da doce eloqüência.
Morto o pai, a mãe, com os três filhos, tornou a Roma. Os dois irmãos de Ambrósio, chamavam-se Sátiro e Marcelina, ambos santos também.
Como o jovem Ambrósio visse a irmã beijar a mãos dos bispos, achegava-se a ele e lhe dava a beijar a própria mão, dizendo:
- Um dia, Marcelina, também serei bispo!
Em 374, Auxêncio, bispo ariano de Milão, falecendo, levou os demais bispos da província a reunir-se com o povo da cidade para a eleição dum novo prelado. A massa achava-se dividida: os católicos e os arianos queriam, cada qual, um bispo que pertencesse à crença deles. A sedição fermentava e a cidade via-se ameaçada.
Ambrósio era então governador da província na qualidade de consular de Ligúria e de Emília. Probo, prefeito de pretório, testemunha da eloqüência do Santo, e da capacidade, elevara-o à condição de conselheiro e, depois, à de governador.
Propondo-se apaziguar os ânimos, uma vez que a sedição estava a chegar ao auge, segundo as máximas políticas, longamente, em favor da paz e da tranqüilidade públicas. E tão bem o fez, que a massa elevando a voz, numa aclamação ruidosa, passou a exigir fosse ele o bispo.
Diz-se que foi um menino que começou a gritar: "Ambrósio para bispo! Ambrósio para bispo! Assim, contaminando o povo todo, passaram todos a aclamar o Santo.
O que é certo é que os espíritos todos, como por milagre, uniram-se, e todos, católicos e arianos, concordaram em tê-lo como pastor, embora fosse ainda catecúmeno.
Ambrósio, extremamente surpreso, deixou a igreja, onde então se dava a reunião, procurando fugir, mas em vão. Seguiram-no e não cessavam de aclamá-lo, de solicitá-lo.
- Sou um pecador! Gritou-lhes Ambrósio. Estou carregado de pecados!
O povaréu respondeu:
- Não importa! Invocamos para nós todos, todos os teus pecados!
Ambrósio correu para fora da cidade, procurando fugir para Pavia. Escondeu-se. E, a noite, rumou para a porte de Milão, que se chamava Porta Romana. Lá, porém, como se o pressentisse, estava o povo atento.
Afinal, conseguiu esconder-se nas terras dum homem chamado Leôncio, e lá se deixou ficar.
Entrementes, enviava-se uma relação do que se passava ao imperador Valentiniano. Rogava-se-lhe consentisse a ordenação do governador, consentimento esse necessário por causa do cargo que Ambrósio exercia.
Valentiniano despachou favoravelmente, dizendo que quem assim reunia os espíritos tão acirradamente divididos não podia ser mais do que um enviado de Deus.
Chegada a resposta do imperador, a alegria que já era grande aumentou. E Ambrósio? Onde estaria?
O lugar-tenente do prefeito do pretório foi incumbido de descobri-lo sem tardança. Fez, então, afixar uma esperta ordem, que determinava que todas as pessoas, sem distinção, eram obrigadas o procurar o fugido, sob penas severas. Pra, Leôncio mesmo, em cujas terras Ambrósio se refugiara, foi quem lhe desvendou o paradeiro.
Assim, levado para Milão, cumpriu o Santo o que lhe parecia fosse vontade de Deus.
Como ainda era catecúmeno, pediu para ser batizado por um bispo católico, imensamente temeroso de cair nas mãos dos arianos. Batizado, envidou todos os esforços para retardar a ordenação, uma vez que não desejava violar a regra que interdiz a ordenação de neófitos. Como, porém, a razão que São Paulo dá desta regra é com medo de que o neófito se encha de orgulho, a humildade de Ambrósio e a necessidade premente da Igreja levaram-no à ordenação.
Oito dias depois do batismo, foi ele feito bispo a, como se crê, 7 de Dezembro de 374. Todo o povo cheio de júbilo, estava encantado, e todos os bispos do Ocidente e do Oriente, não menos, aprovavam o acontecido com efusão. Estava então Ambrósio com trinta e quatro anos.
Tão cedo se tornou bispo, deu a Igreja e aos pobres tudo o que possuía.
Aplicou-se o Santo, primeiramente, com um trabalho assíduo, ao estudo das santas Escrituras, porque até aquela data não havia lido senão autores profanos. À leitura empregava todos os momentos que conseguia furtar aos afazeres, e mesmo boa parte da noite.
Aplicando-se a instruir, obteve tal sucesso, que trouxe toda a Itália à fé ortodoxa, banindo o arianismo.
Um dos primeiros cuidados do santo bispo foi transferir da Capadócia para sua cidade episcopal o corpo de São Dionísio, um dos predecessores. Enviou, para tal, os mais consideráveis do clero à Capadócia, com cartas para São Basílio, pelos quais rogava corroborasse na empresa. São Basílio, deu-se a ela de todo o coração, e tudo se conseguiu.
Com três anos de bispado já era Santo Ambrósio olhado como o principal doutor da Igreja latina. Sua reputação estendia-se até a Mauritânia. Virgens atraídas pela santidade do grande bispo, constantemente chegavam a Milão, vindas de toda a parte, para receber o véu de suas mãos, principalmente das cidades vizinhas de Palisanzio e de Bolonha.
Ambrósio tinha o particular cuidado de dar à Igreja dignos ministros. Poder-se-iam citar muitíssimos exemplos tirados dos próprios escritos. Recusara-se a admitir, e isso por muitas vezes, no clero, a um dos amigos, porque tinha qualquer coisa de esquisito e de indecente no andar. A outro, este do clero, mesmo, proibiu-o de andar quando em sua presença, pelo mesmo motivo. É que Santo Ambrósio estava persuadido de que os movimentos desregrados do corpo são efeito do desregramento da alma. E, tinha razão, supõe-se, porque, pouco tempo estiveram ambos na fé: abandonaram-na pra sempre. São dois exemplos que deixou no Tratado dos Ofícios ou dos Deveres, composto para a instrução do clero, à imitação de Cícero e dos gregos, que Cícero mesmo havia imitados nos ofícios. Santo Ambrósio tomou o que sua moral tinha de bom, apoiando-se pela autoridade da Escritura, e engrandecendo-a com as máximas do Evangelho.
Uma das últimas ações de Santo Ambrósio foi a ordenação de Santo Honorato, bispo de Verceil.
Alguns dias antes de ficar doente, Ambrósio predisse à própria morte, dizendo que viveria até a próxima Páscoa. Continuou estudando, e levava avante a explicação do Salmo XLIII. Quando estava a ditar um trecho do trabalho ao secretário, Paulino viu sobre a cabeça do Santo uma flama em forma dum pequenino escudo, e que, a pouco e pouco, descendo, foi-se-lhe entrando pela boca. "Fiquei tão amedrontado, diz ele, que perdi os movimentos, sendo-me impossível escrever o que Ambrósio me ditava. E isto enquanto durou a visão. Ele repetia então uma passagem da Escritura que bem me lembro. Depois daquele dia, não mais leu nem escreveu, de sorte que não pôde terminar a explicação do salmo.
Ambrósio ainda ordenou um bispo para Pávia. Estava tã0 mal que foi obrigado a buscar o leito. O Conde Stilichon ficou extremamente aflito, o que levou a dizer que "a morte daquele grande homem, ameaçava a Itália duma ruína bem próxima". E, às instâncias do Conde, passou-se a orar fervorosamente a Deus, para que se dignasse a vida do fiel servidor.
O Conde a cabeceira do Santo rezava. No fundo do quarto, que era grande, quatro diáconos conversavam baixinho, muito imperceptivelmente, como um suave murmúrio, quase inaudível. Quando ciciaram o nome de Simpliciano (de que foi o sucessor do Santo) Ambrósio, embora afastado, gritou-lhes por três vezes:
- É muito velho, mas é ótimo!
Os diáconos ficaram tão aturdidos e espantados de que os ouvisse, que, brancos, sem saber onde se enfiar, acabaram por esboçar o riso mais amarelo que se possa conceber, estatelados no lugar.
Pouco depois, a orar, viu Ambrósio o Salvador, que se aproximava, o rosto belíssimo aberto num belíssimo sorriso. Com Santo Ambrósio, então, estava o bispo de Lodi, Bassiano, ao qual referiu a visão. Bassiano, depois, por sua vez, relatou-a a Paulino.
Um dia mais e falecia, depois de estar a orar quietamente por cinco horas. Era pouco mais da meia-noite. Estivera rezando, com as mãos estendidas em forma de cruz, tão baixinho que se não percebia nada do que saía dos seus lábios que se moviam brandamente. Honorato, bispo de Verceil, que estava prese4nte na ocasião, cansado, levantou-se e dói buscar, num aposento ao lado, um pouco de repouso.
Nem bem se deitara e uma voz lhe dizia, por três vezes:
- Levanta-se depressa, porque ele vai partir!
Honorato deixou o quarto que buscara, precipitadamente. Chegou à cabeceira do Santo e deu-lhe o Corpo do Senhor. E Ambrósio, recebida a santa Hóstia, morreu. Era pela noite de sexta-feira para o sábado santo, 4 de abril de 397. Estava Ambrósio com cinqüenta e sete anos, cumprindo vinte e dois anos e quatro meses de bispado.
Levado para a igreja, lá ficou exposto até a noite seguinte. Muitas crianças batizadas naquela noite, que era vigília da Páscoa, viram-no sair da pia batismal: umas diziam que o Santo estava sentado numa cadeira, sobre o tribunal da Igreja; outras, que andava, e mostravam-no, apontando-lhe o dedo, aos pais que, entretanto, nada viam. Muitas, que traziam uma bela estrela sobre o corpo.
Pela manhã, celebrados os santos mistérios transportaram-no para a basílica Ambrosiana, onde foi enterrado. E os demônios, testemunhando a raiva incontida, gritavam terrivelmente, o que também sucedeu em várias províncias, durante muitos anos.
Gente de todas as condições e de todas as idades, pagãs e judeus, acompanhou o enterro. Ao corpo, procuravam tocá-lo com lenços, que eram guardados como relíquias.
No dia em que morreu, Ambrósio apareceu para muitas santas personagens no Oriente, rezando com elas e impondo-lhes as mãos. Apareceu também em Florença, segundo a promessa que havia feito aos que lhe rogavam fosse visitá-los. Viram-no muitas vezes a orar diante do altar da basílica Ambrosiana, que erigira. É sob o testemunho de São Zenon, bispo de Florença, que Paulino relata estes fatos na vida de Santo Ambrósio, escrita pouco depois, a pedido de Santo Agostinho, sobre o que ele mesmo, Paulino, viu, ou soube por Santa Marcelina, irmã do Santo, e por outras personagens dignas de Fé.
(excertos do Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XXI, pgs. 77 a 82 e 103 a 107)