Torello nasceu a 16 de Março de 1202 em Poppi, diocese de Arezzo na Toscana. Educado no temor de Deus, até os dezoito anos, sob a vista dos pais, levou vida piedosa. Órfão, liberto das peias paternas, fez-se amigo de vários jovens de maus costumes, e depravou-se, surdo ao chamamento dos que o amavam verdadeiramente.
Um dia, Torello divertia-se com os falsos amigos. Sob a sombra duma grande árvore, jogavam as bolas. Ora, sobre eles, empoleirado num galho à meia altura, estava um belo galo, que, em dado momento, deixando o poleiro, voou, baixou e pousou num dos ombros do antigo Torello piedoso.
Admirado, o jovem ouviu-o cantar, muito sonora e empertigadamente, por três vezes, ao mesmo tempo que, interiormente, uma voz lhe dizia: "É tempo de deixares o vício". Foi um choque, e tão grande, que Torello, na mesma hora, a correr, deixando os companheiros, foi parar somente às portas da abadia de São Fidelis, que estava sob a ordem de Valombrosa.
Torello pediu para ver o abade, então Reinaldo, e, quando este apareceu, o moço, com grande pranto e com grande ímpeto, atirou-se aos pés, suplicando-lhe que o ajudasse a recuperar a perdida graça de Deus.O abade acolheu-o carinhosamente com muita bondade, ouviu-o em confissão e lhe deu a santa comunhão, E Torello, aos pés de um crucifixo, a olhar ardentemente a Jesus macerado, pendente da cruz, prometeu-lhe, com unção, passar o resto da vida nos exercícios da penitência.
Ao bom abade, Reinaldo, Torello falou da decisão que tomara, desejava viver num lugar solitário, E tendo encontrado uma caverna em Avellaneto, ligar assaz deserto e agreste, mais ou menos a uma milha de Poppi, ali se fixou. Construiu uma pequena cela, bastante estreita, revestiu-se dum cilício muito rude, e pôs-se a seguir severíssima regra.
Dormir, dormia Torello sobre a terra nua e dura, tendo por travesseiro uma incomoda pedra arestuda. Comer, comia Torello somente pão, de bebida unicamente água, mais se nutrindo do espiritual do que do material.Em oração e contemplação, passava ele, dois terços da noite, E aos assaltos do demônio, flagelava-se com uma corrente de ferro, terrível, rolava sobre os espinhos dos bastos espinheiros ou se metia num charco de água gelada, imunda.
Deus, então, recompensou-o com o dom dos milagres, principalmente dotando-o com o poder de amansar os ferocíssimos lobos que infestavam aquelas desoladas regiões. Torelli de Poppi levou vida de oração, de contemplação, de penitência e de solidão por sessenta anos.
Estava com oitenta, quando um dia, apareceu-lhe um anjo. Vinha comunicar-lhe o fim dos dias. Só então Torello tornou a Poppi, em busca do confessor, a preparar-se para a morte e solicitar sepultura na Igreja da velha abadia a que, fazia muito, fora bater.
O abade, como Torello se propunha voltar a solidão de tantos anos, suplicou-lhe que se deixasse ficar no mosteiro, mas o santo ermitão não o quis: era coisa que não merecia; ademais, lá com ele vivia um discípulo, Pedro - Pedro de Poppi - o qual devia receber seu último suspiro.
Abençoado pelo confessor, tornou à caverna onde se aperfeiçoara através de tantas lutas, de práticas sobre práticas, e ali morreu em 1282, sem agonia, arroubado que fora. Então, com claros repiques alegres, os sinos todos de Poppi bimbalharam por si mesmos, e uma multidão, atraída, excitada e compacta, mas ordeira, foi render-lhe as últimas homenagens.
Enterrado na abadia de São Fidelis, inúmeros milagres foram operados. Bento XIV confirmou-lhe o culto imemorial. (Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume V, p. 85 à 87)