São Lourenço de Bríndisi foi um santo com diversas facetas, todas elas admiráveis: professor, monge, ministro, guerreiro. Neste artigo vamos contemplar São Lourenço de uma perspectiva mais devocional, descrevendo seu amor pela Missa e por Maria Santíssima, bem como os colossais impossíveis que fez por amor a Cristo.
Para ler mais sobre as façanhas do Pe. Lourenço de Bríndisi no campo de batalha, clique aqui.
São Lourenço de Bríndisi celebrava a Sagrada Eucaristia com um recolhimento e uma devoção fora do comum, não sendo raro encontrá-lo em êxtase durante o Santo Sacrifício, pelo que, com frequência, sua celebração demorava várias horas.
A esse respeito o Pe. João Semproni testemunha no processo de canonização do Santo: “Impossível exprimir suas manifestações de afeto durante a Missa e seus suspiros, como ébrio do amor divino. Prorrompia em palavras como se falasse com Jesus Cristo ou com sua Mãe Santíssima. Vi algumas vezes seu rosto transformar-se, como se estivesse em fogo”.
Nas embaixadas apostólicas e diplomáticas, uma de suas preocupações era garantir um local onde pudesse celebrar, como recorda o Pe. Gaspar de Gasparotti, seu companheiro em várias delas: “O Padre sempre se preocupava com a Santa Missa e, em suas viagens, costumava verificar com muita diligência onde poderia celebrá-la”.
O Pe. Gasparotti se lembra especialmente de uma viagem feita na Suíça, na qual Frei Lourenço não hesitou em caminhar vinte milhas numa tarde, e mais vinte na manhã seguinte, em terras protestantes. Quando por fim chegou a um povoado católico, “celebrou a Santa Missa com a devoção habitual, comunicando-a a nós”.
Em qualquer altar em que celebrasse a Santa Missa, não podia faltar uma imagem da Virgem Mãe com o Divino Infante nos braços. Por privilégio pessoal sempre o fazia em sua memória, salvo nos dias solenes ou na comemoração de algum Santo de sua particular devoção, como seu patrono, o mártir São Lourenço, ou Santa Maria Madalena, em cuja véspera nasceu e entregou sua alma a Deus, no dia 22 de julho.
Este profundo amor à Santíssima Virgem deixa também transparecer em suas obras. Imbuído da máxima “de Maria nunquam satis” – Maria nunca será suficientemente exaltada”, repetida por inúmeros Santos, teólogos e pregadores ao longo dos séculos, São Lourenço não perdia a oportunidade de exaltá-La e cantar louvores a Ela. Afinal, não é Nossa Senhora a excelsa morada de Deus entre os homens?
É ainda o Pe. Semproni quem revela que ele “tinha o dom das lágrimas na Missa, a ponto de empapar os lenços com os quais as enxugava. Muitos fiéis conservaram tais lenços, por devoção, e alguns enfermos, sobre os quais foram aplicados, receberam a graça da cura”.
Não só essas relíquias tinham o poder de curar, como também suas bênçãos. As pessoas acorriam a seu encontro para se ver livres das moléstias, tanto de alma como de corpo, sendo ele, por isso, chamado pelo povo de “Padre Santo”.
Em seu processo de canonização constam “noventa e sete milagres operados em vida”. Um dos beneficiados, Giacomo delle Perlefalse, quando criança ficara cego durante mais de um ano. Depois de levá-lo a vários médicos, sem resultado, sua mãe resolveu recorrer ao santo capuchinho. E o miraculado depõe: “Senti que ele tocou com seus dedos os meus olhos e imediatamente comecei a ver, e cessou a dor nos olhos”.
Merece especial menção também a vasta e profícua produção escrita de São Lourenço de Bríndisi. Depois de examiná-la durante dez anos, a Sagrada Congregação dos Ritos aprovou-a, fazendo este significativo elogio a seu autor: “Verdadeiramente pode ser contado entre os Santos Padres”. Em 1959 foi proclamado, pela Santa Sé, Doutor Apostólico da Igreja.
Em seus últimos anos muitos sofrimentos acometiam Frei Lourenço, causados, sobretudo, pela gota. Esta se agravou a ponto de ele não poder se mover e não ser tocado por outrem sem sentir grande dor. Mesmo nesse estado, relatam que sempre queria celebrar a Santa Missa.
Um testemunho marca o final da vida te tão ilustre santo: “Eu ajudava a levá-lo ao altar. Ali readquiria as forças à medida que se revestia dos paramentos sagrados. Acabando de se paramentar, tinha energia suficiente para superar sua enfermidade e celebrava de pé a Santa Missa. […] Terminada esta e retiradas as vestes sacras, voltava-lhe a indisposição, tornando-se necessário carregá-lo de volta ao leito”
Trechos retirados da revista Arautos do Evangelho, Julho/2018, n. 199, p. 30-33.