Num mês onde celebramos Santa Águeda, e há pouco cantávamos louvores a Santa Inês, hoje a Santa Igreja nos apresenta Santa Eulália, mais uma virgem e mártir, que diante da fúria dos homens permaneceu firme, tal qual casa firmada em rocha.
Se a história da pequena Eulália não nos faz comover, que nos faça ao menos pensar em nossa fé. Tenho a guardado contra todos os maus ventos do demônio, do mundo e da carne?
Desde muito nova, Eulália deu mostras de uma intensa caridade. Um de seus momentos favoritos com suas amigas era passear pela cidade, distribuindo alimentos aos mais necessitados. Tornou-se tão comum que muitos iam direto à portas de sua casa, e ela estava sempre lá para ajudar-lhes.
Tendo nascido em Barcelona, no ano de 290, Eulália gozou de uma relativa paz nos primeiros anos de vida. As perseguições ainda não tinham se transportado para lá, deixando o panorama negro e sem vida. Por ora, a menina Eulália tinha segurança ao fazer o bem.
Mas os imperadores Maximiliano e Diocleciano, não contentes em serem cruéis na Roma antiga, capital do mundo ocidental, decidiram enviar a todas as colônias juízes para exterminar quem quer que fosse cristão. Não havia julgamento: somente a pena de inúmeros tormentos.
Em Barcelona chega o maldito Daciano, que, sem nenhum escrúpulo, põe inocentes em fogueiras. Os pais de Eulália, agora com 14 anos, sabendo da fama de cristã que sua filha já detinha, levam-na a uma vila afastada do centro da cidade, na esperança de que esta tormenta de sangue não a atinja.
Eulália, porém, vê nos gestos do pai uma fuga da batalha. À noite, tendo todos se deitado, Eulália toma um cavalo e se dirige ao tribunal para censurar o horrendo juiz.
Diante das portas do magistrado, iluminada por tochas e olhares coléricos, Eulália diz: “Quereis cristãos? Eis aqui uma”.
Sem temor, a pequena afirma sua fé com tal coragem. Não deixa a raiva do juiz a assustar, não se importa com os soldados postos à porta com lanças e espadas. Afinal, Deus estava contigo, ela venceria.
Aí se configura uma lição para nós: estamos buscando agradar a Deus ou aos homens? Se alguma vez fiquei com medo de demonstrar minha fé, minha crença, preciso pedir perdão ao Senhor, e rogar a Santa Eulália que me empreste um pouco sua coragem.
O juiz Daciano pôs sal e incenso em suas mãos para que jogasse ao ídolo. Não só Eulália atirou ao chão o material, como chegou perto do ídolo e o derrubou, provando mais uma vez sua decisão.
O homem, encolerizado com aquela garota de 14 anos, uma moça, a mandou prender em uma cruz em “X” e a açoitar inúmeras vezes. Diante de tal tormento, a única exclamação de Eulália foi: “agora me pareço ainda mais com meu Senhor, Jesus Cristo”.
Tendo visto que Eulália não mudaria de opinião, o juiz a ameaçou de morte, e morte na fogueira. Assim foi feito. Era o dia 12 de fevereiro de 304.
Morre Eulália, sofrendo tantas agonias, mas hoje reluz no Céu como uma estrela em cortejo com outras grandes virgens e mártires da fé.
Morre Daciano, perseguidor, insensível e desesperado: queira Deus que tenha se arrependido de suas crueldades, pois senão o fogo eterno o espera.
Quem iremos seguir? Não vale a pena aguentar todos os tormentos da terra por uma eternidade feliz? E muitas vezes nem são cruzes e fogueiras; são apenas uns colegas pouco educados, um trabalho enfadonho. Mas não importa, pois o sofrimento, qualquer que seja ele, bem aceito, nos leva ao Céu.
Que Santa Eulália guie nossos passos rumo a esse caminho, para que um dia possamos, pessoalmente, agradecer-lhe no Paraíso da Glória Imperecível.