SANTA GEMMA GALGANI, Virgem
Gemma Galgani nasceu em Camigliano, na Toscana, no dia 12 de Março de 1878. O pai, farmacêutico, e a mãe tiveram oito filhos, aos quais educaram religiosamente, de início no próprio lar, depois, deixando a cidade, nas escolas de Luca.
Gemma, aos dois anos, estava já semi-interna na instituição Vallini.
Disse ela, um dia, a mestra:
- Jamais a vi chorar ou questionar. Embora de temperamento ardente, conservava-se imperturbável diante dos elogios e das repreensões.
Aos cinco anos, a menina já lia, correntemente, o ofício da santa Virgem, com incomum penetração e a mais viva piedade. E não era para menos, uma vez que a mãe, a Senhora Galgani, sabia levar os filhos pelo caminho do amor, da doçura, da contemplação do mistério da Cruz - e, mais ainda, acenava-lhes com as delícias que se gozara, depois desta vida, no céu.
Aquela piedosa mulher, levada pela tuberculose, faleceu quando Gemma entrava nos oito anos.
Aos dezessete anos, a jovem deixava a instituição e se dava aos cuidados da casa, à educação dos irmãos. O amor pelos pobres, manifestado em Gemma desde os primeiros tempos, deu de se expandir, agora que tinha o governo da casa. E a dispensa, constantemente, era visitada e saqueada.
Um dia, tal os desvelos da jovem para com a pobreza, o pai, chamando-a, fez-lhe ver que, a caminhar naquele passo, arruiná-lo-ia. Gemma levava intensa vida interior. Jesus lhe aparecia, mas nunca aos olhos do corpo. Disse-lhe, de uma feita:
- Minha filha, eu sempre avivarei em ti o desejo do céu, mas deverás suportar a vida com paciência.
A paciência, em verdade, havia de ser mesmo muito necessária à jovem dona de casa: vítima de dolorosíssima doença nos ossos do pé, logo, totalmente, arcaria com todas as responsabilidades da família. O Senhor Galgani faleceu em 1897. Os Galgani jaziam arruinados. Que fazer?
Gemma optou pela dispersão dos irmãos, enviando-os para a casa dos tios e tias. O mal de Pott principiava a acometê-la. Depois de longos meses de martírio heroicamente suportado, foi miraculosamente curada por São Gabriel de Addolarata, que lhe apareceu.
Sentindo-se chamada para a vida religiosa, hesitou: demandaria as irmãs de São Camilo, as passionistas ou as visitandinas?
Depois de muito pensar, resolveu-se pela ordem da Visitação. Uma decepção, porém, esperava-a: o arcebispo, achando-a demasiadamente delicada, de saúde um tanto precária, interdisse à superiora recebê-la. Como para dar à esposa amada uma compensação, Jesus lhe disse:
- Aprende a sofrer, porque o sofrimento ensina a amar.
A 8 de Junho de 1899, vigília da festa do Sagrado Coração, o divino Mestre dignou-se conferir-lhe os estigmas. Então, regularmente, de quinta-feira, pela tarde, até sexta-feira às quinze horas, as cinco chagas, abrindo-se, sangravam abundantemente. Gemma suou sangue e sentiu os suplícios da coroação de espinhos por mais de dezoito meses. E os assaltos que sofreu por parte do demônio foram indescritíveis.
Em 1902, Gemma adoeceu gravemente. E Jesus, dizendo-lhe que em breve ganharia o céu, advertiu-a de que havia de passar por sofrimentos inomináveis, para expiar pecados cometidos por maus sacerdotes.
A jovem a tudo suportou com indizível paciência. E, no dia 11 de Abril de 1903, sábado de aleluia, expirou: principiava-lhe a definitiva vida de união a Deus e de intercessão pelos homens, contando tão somente vinte e cinco anos de idade.
Pio XI beatificou-a. Pio XII canonizou-a a 2 de Maio de 1940.
(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VI, p. 257 à 259)
***************************************************************************************************************************************
SÃO BARSANÓFIO, Confessor
Barsanófio, egípcio, viveu na Palestina, primeira como monge do mosteiro de São Seridão, depois, e por cinqüenta anos, como recluso.A porta da cela que lhe construíram, uma vez entrado o santo, ficou vedada a toda a gente. Quem com ele desejasse comunicar-se, que o fizesse por escrito.
Ora, São Barsanófio, muito procurado, passou a responder as solicitações, o que fazia por escrito, por meio de um secretário, chamado Seridos, que pertencia ao convento. E Barsanófio, que jamais pessoa alguma via, com o tempo, passou a ser lendário.
Um monge, Teodoro, que o consultava, acabou por duvidar da sua existência, julgando que quem lhe respondia não era nenhum Barsanófio, mas, sim, o próprio Seridos, o qual, para ser tratado com deferência e trazer os monges sob sua dependência, inventara aquela história de um recluso. Haveria pois, alguém naquela cela sempre e sempre trancada? Era a pergunta que se fazia o monge Teodoro, reiteradamente.
Tal tentação de incredulidade, um dia, acabou por chegar ao conhecimento de Barsanófio que, não querendo ver ninguém sob tentações suscitadas justamente por si mesmo, resolveu quebrar a regra e dar-se a ver. Assim, pediu que lhe trouxessem aquele irmão, e não só aquele, mas os demais da comunidade, e a todos, lavando-lhes os pés, humildemente, deu-se-lhes a conhecer, convencendo-os de que existia.
Quando Seridos, já velho, faleceu, o santo continuou a conversar com o mundo exterior lançando mão do mesmo expediente, já que determinara jamais romper a reclusão.
Um dia, do Egito, especialmente para vê-lo, apareceu à porta entaipada, um irmão, que, mesmo invocando os pais, nada conseguiu. Disse-lhe o santo, de dentro:
- É Jesus que é meu irmão. Tu, só se, desprezando o mundo, fizeres-te monge serás meu irmão.
Solicitações, havia-as assim:
Certa vez, um monge, muito doente, julgando-se perto, muito perto da morte, implorou a Barsanófio o perdão dos pecados. Respondeu-lhe o santo: "Não te aflijas, irmão, porque a morte, sem o pecado, não é morte, é a passagem da aflição ao repouso, a passagem das trevas à luz inefável e à vida eterna. Eis que o grande rei, Deus, disse: "Todos os teus pecados serão perdoados, sobretudo pelos rogos e súplicas aos santos e por tua fé". Que Ele te dê paciência até o fim.
Um outro dizia-lhe: "Perdoa-me senhor Abba, pelo Senhor. Tua santidade me diz: "Teus pecados te são perdoados", mais eis que Abba Isaías disse que não serão perdoados, falando dos seus deleites. Ora, eu sinto esse deleite. Pelo Senhor, explique-me isso."
Resposta: "Irmão, eu te disse que teus pecados passados te estavam perdoados, mas não que toda a luta havia cessado, porque a vida do homem nada mais é do que um combate. Se não cometeste pecado, o diabo sugeriu-te o prazer, e como não o cometeste, sugere-te igualmente. Quando ao que diz Abba Isaías, deve entender-te do prazer do pecado e dos que com ele se deleitam. Uma coisa é lembrar-se da doçura do mel, e outra deleitar-se com a lembrança. Assim, se alguém, lembrando-se do prazer do pecado, com ele não se deleitar, mas procurar vencer e afastar o deleite, opondo-se, pois, a ele, a esse os pecados anteriores serão perdoados."
Os escritos do santo recluso parecem confirmar uma tese teológica encontrada, e muito frequentemente, entre os místicos gregos da Idade Média, segundo a qual o poder de absolver e de não absolver pertence a um favor especial, que o confessor goza junto de Deus, e não ao caráter sacerdotal. Daí os monges poderem receber tal favor, extra-sacramentalmente.
Crê-se que São Barsanófio faleceu no ano de 450. Entre os latinos, na velha edição do martirológio romano, São Barsanófio era mencionado no dia 11 de Junho. A igreja de Uri, na Itália, acredita estar de posse das relíquias do santo, que para ali teriam sido transferidas no século IX.
(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume VI, p. 264 à 266)