A santa celebrada hoje tem uma história curiosa. Santa Maria do Egito, ou Maria Egipcíaca, teria recebido este nome pois nascera no dia em que, na Igreja, se meditava a fuga para o Egito que a Sagrada Família tivera que fazer, dado o decreto de Herodes.
Seu percurso histórico nos prova como Deus tem seus caminhos e como toda alma, por mais que tenha contristado ao Senhor, é passível do perdão divino e das maravilhas da fé. Vejamos melhor como sua vida se transcorreu.
O relato de suas ações passa para a História na pena de Zózimo, um monge que vivia na Palestina no século V. Ele, indo passar a quaresma em lugar mais retirado, nas margens do Rio Jordão, percebe o que acha ser uma tentação do demônio: vê uma figura feminina coberta apenas por seus cabelos abundantes e já grisalhos. Tendo examinado a si próprio, e identificado que não era uma artificio do inimigo para tenta-lo, acerca-se para ajudá-la. A mulher, porém, vendo-o se aproximar, pede seu manto para que cubra sua nudez. Zózimo o entrega, e recebe o relato de Santa Maria Egipcíaca.
Esta conta ao monge Zózimo que, desde cedo, tendo fugido da casa paterna, se entregou aos prazeres da carne, tornando-se uma meretriz. Passou anos trabalhando em uma casa de perdição em Alexandria, não conseguindo conter sua luxúria. Um dia, porém, vendo afluir uma multidão no porto, rumo a Jerusalém, quer ir junto.
Já na cidade Santa, percebendo se tratar de uma festa religiosa, sua curiosidade a incita a ir à igreja. Porém, ao tentar entrar no pórtico central, alguma coisa a barra. Ela tenta novamente, mas uma espécie de força interior a retém. Claro como uma voz, ela ouve sua consciência lhe alertar: “não és digna”.
Sentindo o peso de seus pecados, vai até o rio Jordão, e, num gesto ao mesmo tempo simbólico e real, lava seu corpo tirando a imundice da sua consciência. Arrepende-se de suas faltas, confessa-se, recebe a comunhão, e mais uma vez sente sua consciência lhe alertar: “se viveres do outro lado do Rio, salvar-te-ás”. Quando encontrou com o monge, já vivia a 47 anos sozinha, no deserto, dedicada exclusivamente à piedade e sacrifícios. Nos primeiros vinte anos, conta ela, tivera muita dificuldade com as tentações de impureza, mas, com a força de Deus, passara incólume.
Santa Maria Egipcíaca, então, faz um acordo com o Zózimo: que ele lhe ministrasse a comunhão mais uma vez, e que voltasse ano que vem na quaresma para lhe tomar em confissão e comungar mais uma vez. No ano seguinte, cumprindo o combinado, o monge voltou para lhe atender e, visto as graças que ambos recebiam em conjunto, resolveram combinar mais uma vez para o próximo ano.
Porém, voltando Zózimo como combinado, encontrou apenas seu manto, aquele mesmo que cubrira Santa Maria Egipcíaca dois anos atrás, com uma pequena dedicação, escrita no barro do chão: “Padre Zózimo, enterra o corpo da humilde Maria; restitui à terra o que é da terra, junta o pó ao pó e, em nome de Deus, intercede por mim; morri no mês de farmouti, para os egípcios, para os romanos, no mês de abril, na noite da Paixão do Salvador, depois de ter participado no banquete místico”.
Que Santa Maria Egipcíaca interceda por nós e pelo mundo, mediante a imoralidade dos tempos atuais. Que ela nos alcance a dedicação de vida que ela teve para Deus, mesmo depois de tantas faltas.