A santidade é o melhor serviço

Os santos têm uma coisa em comum: eles nos ensinam lições. O curioso é que muitas vezes eles são exemplos do que não se deve fazer: Santo Agostinho, por exemplo, levava uma vida devassa que o lançou num vazio de frustração e tédio que o esgotava; ou São Pedro, o primeiro papa, que vacila na fé três vezes, impregnado por uma camareira. Com Santa Marta, não é diferente: será que, de fato, ela serve ao Senhor?

Vida de amizade com Jesus

Santa Marta era de uma nobre e rica família de Israel. Seus irmãos eram Lázaro e Maria, que, por cuidar das terras para além de Jerusalém, no vale de Mágdala, recebeu a alcunha de Madalena.

Cristo era íntimo da família, e se conta no Evangelho que tenha ido até a residência dos irmãos para descansar. Que lindo saber que Nosso Senhor, que diz: “as raposas tem suas tocas e os passarinhos os seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde adormecer a cabeça”, tenha encontrado, muito mais do que nas almofadas da casa dos irmãos, a tranquilidade e a paz de coração deles para repousar.

Enquanto está lá, Santa Marta se atenta a tudo. Corre para ali, limpa lá, arruma acolá, sempre em movimento, sempre atarefada. Aos seus olhos, sua irmã mais nova, que deveria estar lhe ajudando a servir, pairava diante de Jesus como uma distraída.

No começo, Marta pensa que dará conta. Aos poucos, o peso do calor do dia lhe ataca, e o cansaço do serviço bate-lhe às portas. E Maria Madalena continua ali, na sala, diante do Mestre, com os olhos atentos, brilhosos. Santa Marta, então, exausta, queixa-se a Jesus, pedindo que corrija sua irmã.

Mas ela recebe de Cristo uma suave e doce reprimenda: “Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas” (Lc 10, 41). Imaginem receber do próprio Deus está ligeira repreensão. Imagem ter o seu nome pronunciado pelos lábios de Deus, não uma, mas duas vezes, como num suspiro de amor!

Nosso Senhor que lembrar Marta que o serviço é importante, mas em primeiro lugar vem a oração. Dom Chautard, em seu livro A Alma de Todo Apostolado, lembra que os bons frutos só existem quando há boa seiva, pois ninguém dá o que não tem. Santa Marta servia a si mesma no serviço a Jesus, e esta é a lição que ela nos ensina a não realizar.

Algum tempo depois, Jesus se encontra com Santa Marta

Passados alguns meses, depois de tantas andanças evangélicas, Cristo recebe a notícia de que seu querido amigo estava enfermo. Lázaro não sobreviveria se Jesus não fosse a seu encontro.

Nosso Senhor, que sabia tudo o que ia acontecer, vai no tempo oportuno novamente para casa de Betânia. Diferente do que encontrou em sua estadia anterior, vê o luto e choro dos residentes, e mais uma vez encontra Santa Marta.

Que lição ela nos ensina agora?

Diante de Cristo, ela chega triste, enternecida, e se lança aos pés do Mestre e diz: “Se estivesses aqui, Lázaro ainda estaria vivo”. Olhe a fé de Marta! Não faz uma hipótese: “Quem sabe, com o Senhor aqui, você poderia curá-lo”; não! É uma certeza: ela admite que Jesus é Senhor da vida e da morte, e que seu poder se estende para além da saúde.

Mas Cristo quer mais de Marta. Pergunta a ela: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê nisso?” (Jo 11,25-26). E Santa Marta nos presenteia com a mais grandiosa resposta que podemos esperar: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”.  

Que apóstolo que teve uma profissão de fé tão majestosa?! Nem São Pedro, ou sequer São Tomé, após tocar nas chagas do ressuscitado, responderam com tanta acuidade, com tanta devoção, com tanta certeza! Sem ter visto muitos dos milagres de Jesus, pois não o acompanhava; sem ter visto tantos sinais que Ele fez aos apóstolos em seu convívio, sem estar presente em tantas cenas grandiosas do Evangelho, essa mulher como que adianta a ressurreição de seu irmão.

Santa Marta, além disso, chama sua irmã para ver o Mestre: diferente daquela que chamava Maria para sair da presença de Jesus e servir, esta Marta coloca Madalena na frente de Cristo. Assim, do serviço agitado e egoísta, que não era de fato um servir, Santa Marta passa ao verdadeiro serviço, à verdadeira lição: primeiro nossa vida de oração, de fé, depois a vida de ação.

Para além do Evangelho

Após a ascensão de Jesus e vinda de Pentecostes, Santa Marta parte com seus irmãos para uma nova missão de evangelização. Eles são postos num barco sem mastro pelos seus perseguidores, e são deixados à deriva; mas sabiam que o Espírito Santo os guiava. Aportam acidentalmente no cais da hoje cidade de Marselha, e lá pregam o nome de Cristo.

São Lázaro é ordenado bispo, Santa Maria Madalena, após tantos milagres se retira da sociedade para viver uma vida de contemplação, e Santa Marta continua o seu serviço à Igreja. Agora, a mulher não procura chamar mais a atenção de sua irmã: sabe que a vocação dela a leva ao isolamento, e não se preocupa; Deus dará todo os obreiros necessários para realizar sua messe.

Entre outras atividades, Santa Marta cura seus conterrâneos, sempre lembrando aos interessados que é Deus quem dá a saúde, é Deus quem lhes dá a dignidade; converte os povos em massa, que veem em suas atividades uma calma e uma serenidade que não conheciam. Com certeza contava às crianças quando serviu a Jesus e quando foi por Ele repreendida; de como havia aprendido que o verdadeiro serviço é a santidade.

Que Santa Marta, sublime dama do Evangelho, guie as nossas motivações e dedicação para aquilo que realmente importa: o servir a Deus, que começa primeiro na santificação pessoal, na oração, na vida de contemplação, e depois transborda para a ação, para o zelo da caridade.

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