Santo Eliseu, discípulo de Elias, o profeta de fogo, é celebrado hoje pela liturgia católica. Quem é este que mereceu compartilhar do destino do grande profeta, e que teve seu nome assimilado ao dele? Vamos acompanhar no texto abaixo.
Santo Eliseu era um hebreu que vivia no campo, provavelmente herdado da família. As Escrituras nos contam que, certo dia, tendo Elias ido atravessar pelas plantações, deparou-se com Eliseu arando, e, indo por detrás dele, lançou-lhe o manto por sobre seus ombros. Para um povo que amava a simbologia tanto como a respeitava, Eliseu entendeu que tal gesto significava tornar-se propriedade de. Elias, vendo no jovem Eliseu um fogo ainda pequeno de zelo pelo Senhor, quis comunicar o seu para ateá-lo em toda a face da terra.
Santo Eliseu, vendo nos olhos do homem de Deus o que sempre quis para si, toma a decisão de segui-lo. O seu exemplo de firmeza é louvável: ele volta à sua casa, quebra o arado e vai atrás de Elias. O gesto pode parecer um tanto exagerado, mas comunica as disposições de Eliseu: ele não poderia voltar atrás em sua palavra, já não havia mais nada para si em seu campo.
Ali, neste quebrar do seu instrumento, ele corta os laços que possuía com a mediocridade, com a vidinha de todos os dias, e resolvia seguir a sua gesta heroica, caminhar pela glória do Senhor. Exemplo para os que querem se lançar à evangelização, mas ainda mantém seus medos.
A palavra alter-ego quer dizer “outro eu mesmo”. Eliseu assumiu a identidade de Elias, aquele que ele tomou como pai e mestre. Para o homem moderno, tal decisão é horrenda, já que ele entende a liberdade como a possibilidade de fazer o que quiser. Na realidade, ser livre consiste em escolher o bem, pois o pecado, o mal, o vício aprisionam muito mais que qualquer corrente. Peça a uma pessoa que abandone seu desejo de aparecer, caso seja orgulhosa, e a veja falhar miseravelmente.
Eliseu sabia que Elias era o modelo ideal de uma vida a serviço ao Senhor. Sabia que, como o profeta de fogo seguia pela trilha da verdade, ele, Eliseu, seguiria também se se tornasse como seu mestre. Com desejo de não ofender a Deus, ele se tornou como aquele que não o ofendia: Elias. E ambos compartilharam do mesmo espírito. Tanto que, ao ser arrebatado para o paraíso em uma carruagem de fogo, vencendo a morte, Elias atira a Eliseu seu manto, honrando o pedido de seu discípulo: “Elias, dá-me o teu duplo espírito”.
A partir daquele momento, ao ver Eliseu pregando, via-se através dele Elias. Tanto que o próprio Rei de Israel, do povo Eleito, do povo abençoado por Deus, ao ver Eliseu, se joga aos seus pés e diz: “Eliseu, Eliseu, carro de Israel e seu guia!” Ele via Elias em Eliseu, bem como toda sua santidade e força de alma.
Depois que Santo Elias partiu, o principal baluarte dos hebreus tornou-se Santo Eliseu. Ele fez milagres para aqueles que se aproximavam com sinceridade, pedindo-lhe com verdadeira fé e real necessidade.
Sua fama atravessou as nações vizinhas e chegou na longínqua Síria, pois até mesmo Naamã, um general de ilustre posição, foi lhe pedir a cura da lepra, uma doença fatal naquela época. Eliseu o recomendou que se banhasse no Rio Jordão e, por mais que Naamã tenha dado chiliques de orgulho, no final foi sábio o suficiente de ouvir o homem de Deus. O resultado foi, na sétima vez que adentrou o rio, conforme predito por Eliseu, a lepra como que foi lavada, sumindo suas feridas e sua pele se tornando com a de um bebê.
Este milagre teve uma glória singular: foi citado pelo próprio Cristo, séculos depois, quando este falava da fé que alguns estrangeiros possuíam. Eliseu foi elogiado pelo homem-Deus, o que, convenhamos, é o maior louvor que alguém pode desejar receber. Que Santo Eliseu, um profeta de fogo como Elias também o foi, nos conceda determinação para seguir a Lei do Senhor e uma fé gigantesca que mova os reis e cure os doentes de alma.