Santo Eugênio III é um papa monge, eleito de uma forma peculiar, devido a urgência do tempo. Foi filho e discípulo de São Bernardo, a quem conheceu e soube seguir suas importantes diretrizes. É celebrado como um campeão da harmonia, pois, sendo pontífice num tempo de conturbada desordem social, teve seu governo marcado com o sinal da paz e da integridade.
Deus tem seus planos do qual não entendem os sábios e doutores, mas que o Senhor revela aos pequeninos e ignorantes. A comunidade cardinalícia, feita de nobres e importantes homens, teve um impasse enorme na eleição do novo papa, em 1145. A população romana, descontente com a governança da Igreja, exigia uma democracia na votação do próximo pontífice.
É tanta a pressão que os cardeais precisaram fugir e se refugiar no claustro remoto e pouco acessível de São Cesário, numa encosta da Via Ápia. Ali, entre si, os purpurados pensam numa solução para o problema, e ela é revelada sapiencialmente pelo Espírito Santo no coração dos cardeais: era hora do próximo papa não ser de dentro do grupo cardinalício. Quem poderia, porém, reger a Igreja inteira, sem uma devida preparação? Ou melhor, quem teria tanta vida interior a ponto de, no mandato universal, não se ensoberbecer?
Um monge da região, devotado ao silêncio e à paz do claustro, ele sim, com a cabeça toda nas coisas do Céu, se tornaria o Papa que a Igreja precisava: Santo Eugênio.
Tendo sido um feito inusitado eleger o abade de Tre Fontane, na Itália, para o pontificado, a populaça teve o ímpeto ligeiramente quebrado. Porém, foi por pouco tempo: os líderes das massas, entendendo que não tinham poder de influência sobre um frei devotado ao claustro e à penumbra, atiçaram novamente o fogo da revolta. Perseguiram com furor o escolhido, que teve que ser ordenado bispo em Viterbo, recebendo a nomeação de Papa também lá.
Sua fama de santidade, entretanto, era muito conhecida; os reis e monarcas se rejubilaram em ter um tal monge como cabeça da Igreja. Foram, com as devidas honras, prestar sua vassalagem espiritual ao Cristo na Terra. Santo Eugênio III, agora já com as vestes brancas, recebeu muito bem os homens de armas e os abençoou.
Foi aí que São Bernardo, que dera a autorização para que um discípulo seu fosse eleito pontífice, começou a escrever a obra De Consideratione, pedida por Eugênio III, com dicas e condutas para quem, em tão pouco tempo, vivia como anônimo e passara a maior das glórias. São Bernardo lembra ao seu filho do carisma cisterciense, e de como ele deveria adaptá-lo às funções de pontífice. Com o coração nas nuvens, Eugênio III pôde guardar e ler as maravilhas de seu pai espiritual. Sorte a nossa também, que recebemos hoje os preciosismos da integridade de São Bernardo nesta obra.
Como parte do múnus papal, Eugênio III souber ser doce e simples em seus comunicados. Em rápido momento, de Viterbo, conseguiu que a multidão aceitasse sua eleição, e voltou para Roma ainda em 1145, ano que fora eleito, sendo recebido triunfalmente por aqueles que até ontem o perseguiam.
Santo Eugênio III, entretanto, teria uma lida difícil pela frente. Em 1146, Arnaldo de Brescia, como que precedendo o monge Lutero, o revoltado e amargurado, levantou novamente a turba popular contra o Vigário de Cristo.
Os motivos eram mais uma vez sem sentido: agora, o objetivo era transformar os Estados Pontifícios em uma República, como os estados do norte da região italiana. Sendo bem articulado e com fama de filósofo, Arnaldo conseguiu pôr o povo para operar um massacre, pois foram muitas as casas arrombadas, monumentos destruídos e pessoas que não aderiam às ideias revolucionárias, mortas.
Novamente Eugênio III se põe em fuga, deixando a Cidade Eterna por 2 anos. Porém, sendo Roma dos Papas, um movimento salutar contrário à Arnaldo começa a se fazer sentir, e em 1148, o conturbador é preso e o Santo Papa pôde voltar à sede oficial da Igreja. Em 1149, a República Pontifícia perde validade e novamente a monarquia eclesial volta a se instalar.
Em paralelo a estes acontecimentos, houve em 1144 uma derrota monumental para os cristãos que tinham sua moradia no oriente: a cidade de Edessa foi invadida e destruída.
Já no Trono Pontifício e sabendo que, sem um bastião formidável, a Cidade Sana estaria mais uma vez em mãos desonradas, Eugênio III convocou seu pai espiritual para escrever um documento pregando uma nova cruzada. O fogo impresso por São Bernardo foi tanto que a Cristandade Europeia se pôs a caminho mais uma vez para Jerusalém, em 1147. Infelizmente, dado a desavença de alguns monarcas cristãos, a Segunda Cruzada falhou no seu intento.
Este foi um dos empreendimentos santos do Papa Eugênio, que entre reger a Santa Igreja e fugir de seus perseguidores, debilitou sua saúde. Em 1153, entregou a Deus sua alma em Tivoli. No mesmo ano seguiu-o também seu pai espiritual, São Bernardo.
O beato Pio IX, por decreto de 28 de dezembro de 1872, aprovou o seu culto e ordenou que ele fosse homenageado com a Missa dos santos.
Cf. Beato Eugênio III, Papa e Confessor – Brasil Terra de Santa Cruz